Sonho de Criança

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Uma memória passa em sua mente, algo que nunca aconteceu antes, você está em um grande salão de mármore com ornamentos dourados nas abobadas do teto, tudo parece estar manchado por sombras distorcidas, vultos de figuras humanoides discutindo algo inaudível para você. Ao olhar para baixo você percebe, sua mão não é sua mão, você faz parte das sombras e vultos, isso não pode ser real, você não pode ser real, porque tudo está se desfazendo em cinzas e sangue?

Você acorda de seu pesadelo em sua cama, está suado com a luz do sol batendo em seu rosto, hoje é seu grande dia, você está pronto? Nós estamos prontos?

Você se levanta e vai até sua janela para ver a fazenda de sua família, você se lembra de que nada havia acontecido porque você estava em sua casa e tudo estava seguro, uma figura aparece na sua porta enquanto você se convence de que foi tudo um sonho, a figura diz:

- Finalmente acordou não foi filho?

Você olha pra trás e reconhece sua mãe, com um avental sobre uma roupa velha de pano com luvas de jardineira, cabelos castanhos longos preso em um coque com um sorriso doce. O seu primeiro pensamento que passa em sua mente é dizer algo, mas sua voz trava, como se não falasse a muito tempo ou como se não soubesse falar, então sua voz sai meio rouca e baixa:

- Bom... dia... mãe.

Ela olha pra você meio confusa com o que você disse e continua a conversa:

- Bem, você não vai querer tomar café antes de ir? Hoje é o seu grande dia né?

Você vai até sua mãe e dá um abraço forte nela, ela sem entender o motivo te abraça e com um tom preocupado te pergunta:

- Tá... tudo bem filho?

- Sim... Mãe, vai ficar tudo bem.

Você solta ela do abraço e olha pra ela com cuidado, analisando cada detalhe de seu rosto enquanto segura as bochechas dela, ela sem entender pergunta:

- Rafael, porque você está chorando?

- Anh?

Você solta o rosto de sua mãe e toca em sua própria face você percebe que lágrimas saíram de seu olho esquerdo, e a resposta para perguntar ecoa em sua mente até finalmente responder o que ela perguntou:

- Eu não sei, devo ter sonhado com alguma coisa que me deixou assim.

Sua mãe parece ter ficado mais tranquila depois de sua afirmação, ela passa a mão com cuidado em seu rosto para limpar as lágrimas, você não sabe o porquê mas seu corpo dá um pequeno pulo antes dela alcançar em sua face, mas você consegue disfarçar quando ela toca em você.

Após alguns segundos de silêncio, se afasta de você e começa a se virar para saída do seu quarto, sua mãe se vira pra você com um sorriso no rosto:

- Venha... Vamos tomar café, meu filho.

Após ela sumir de sua visão você consegue ouvir o som de sua mãe descendo as escadas, alguns segundos se passam antes de você perceber que tem que descer para comer, talvez você tenha passado a noite em claro ou não tenha jantado antes na noite anterior, mas sente que sua fome está avassaladora como se não comesse a dias, você segue caminho para as escadas no final de uma plataforma que leva até a parte de baixo de sua casa. Na parte de baixo você vê uma visão agradável e costumeira para os seus olhos, com um teto alto dando vista para um telhado feito de palha com alguns ornamentos de madeira que sustentando o telhado, dá pra ver que esse não parecia ser o modelo original do lugar que mais parece um celeiro adaptado pelo tempo pra fazer uma moradia temporária que se tornou fixa por alguma razão que sua mãe nunca quis explicar o porquê, pelo menos seu quarto tinha uma boa vista para o restante da fazenda com vários girassóis, e outras flores violetas, roxas e azuis que sua mãe sempre tentou lhe ensinar diferenciar quais eram aquelas que são ou não venenosas mas você sempre se manteve ocupado olhando para as nuvens e brincando com sua vaca.

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