Bosque das Nozes

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Uma sede começa a passar por sua garganta ao falar a última coisa que de lembra após ter tocado no estrangeiro, ao pegar seu cantil para molhar seus lábios, o vermelho exclama dando uma pequena pausa com Severino:
- Mas que porra... Como diabos você conseguiu entrar na mente dele sem feitiços?
O susto o fez parar com Corita alguns metros de distância, você bebe sua água enquanto Jahan se aproxima em busca de uma explicação, ao terminar sua voz saí:
- Já te expliquei, não sei como fiz isso... nunca tinha acontecido em minha vida e não quero ter que fazer novamente.
- Cacete... pelo que parece vou ter que lhe explicar como funciona magia.
- Acha que é magia?
- Porra, o que mais pode ser? Conhecimentos obscuros das estrelas?
- Isso existe?
- Deve existir, com tanto espaço no céu... vamos continuar a viagem.
O mago começa a andar novamente com seu burro, a resposta dele pareceu incerta e meio vaga, claramente nunca ouviu algo sobre além das estrelas ou não está disposto a compartilhar a informação.
Continuando sua jornada rumo ao norte, algumas perguntas ecoam em sua mente sobre esse dito Bosque das Nozes, porque nunca tinha ouvido falar sobre esse lugar? Mesmo morando em uma vila você se lembraria de histórias sobre uma floresta aparentemente maldita, uma vez ou outra escutou o ferreiro conversando sobre com um vendedor ambulante sobre as notícia do reino, algo sobre o crescimento de aberrações vindas do norte, mas cortou o assunto ao perceber que você estava por perto. Mais alguns minutos se passam antes que suas palavras saiam de sua boca:
- O que tem de tão estranho nesse bosque?
O mago olha de relance em sua direção, engole um pouco em seco antes de responder sua pergunta:
- Eu já conversamos sobre isso quando levamos aquele velho até Terra Arada... Nenhum dos grupos de rastreio enviados para lá conseguiu adentrar na floresta, parece ser encantada.
- Você acha que Cortês conseguiu?
- Acho que não... mas não faço ideia se o mesmo que faz do lado de fora funciona dentro do bosque.
- Então... É por isso que não confia nele?
- É só mais um motivo para lista, algo nele é estranho para mim... chega a ser familiar.
- Não sabia que você fazia amizade com pessoas tão velhas.
- Porra... Se eu conheci aquele desgraçado tenho certeza que não era desse jeito.
- O que deve ter acontecido então?
- Não sei, e nem quero saber.
O mago olha em sua direção com um olhar de certa raiva, o assunto do estrangeiro definitivamente não é algo que desejava conversar nessa viagem. Tossindo um pouco para mudar de assunto você diz:
- Nos temos informação de como ela pelo menos se parece?
- Mas que quantidade ridícula de perguntas que você faz.
- Se eu soubesse não estaria perguntando.
O olhar dele disse tudo ao ouvir sua frase, na tentativa de concertar sua grosseria você diz:
- Senhor.
- Tá... Sabemos sua localização, a forma de se comunicar com a bruxa é outra história.
Essa informação te pegou de jeito a ponto de quase cair de Corita ao ouvir essa palavra em específico, o mago parece olhar para trás pela sua reação e voltar sua atenção para a trilha:
- Bruxa? Mas que bruxa?
- Não sei ao certo se é uma bruxa, mas analisando a situação... uma floresta encantada, um velho amnésico, e uma gentil senhora no meio do nada...
- Tudo isso parece bem improvável.
- Se tivesse um bar envolvido seria uma ótima piada... mas juntando todas as informações o mais provável é que seja uma bruxa.
- Amiga sua?
- Nem todos os praticantes de magia se conhecem, eu mesmo nunca conheci o dito "mago" do reino dos homens... mas se conhecer espero que não me odeie.
- Me pergunto o que faria alguém lhe odiar.
- Para sua informação, os anos de escola foram os mais fodidos para todos nós... amizades só levaram a desgraça naquela época.
- Tem uma escola para vocês?
- Nessa região? Tinha...
- O que houve?
- Não lembro bem dessa parte... o que sei é que as pessoas não são mais levadas até lá, os que nascem com magia no sangue parece escolherem se querem ou não ir para lá.
- Vocês não tinham escolha?
- Não que eu me recorde.
- Então como chegavam até lá?
O mago te olha com certa impaciência e frustração, deve ser a primeira que conversa com alguém por tanto tempo ainda mais alguém que sabe tão pouco sobre magia, passando a mão no rosto, o vermelho se volta para a estrada e faz uma pergunta:
- Se eu responder mais essa pergunta você fecha a matraca por um tempo?
- Sim...
- Não faço um caralho de ideia... só estava dormindo um dia e acordava em uma floresta com céu sempre estrelada no outro.
- Nossa, isso é muito... merda.
- Eu sei, agora vê se cala a boca.
O restante da viagem foi muito quieto, o vermelho parece ter passado por muita coisa no passado, faz sentido não querer mexer no que está quieto ainda mais em sua própria mente. Após mais algum tempo de viagem em completo silêncio em certa distância, o vermelho para repentinamente, se aproximando do mago ele faz um sinal com a mão para que você não se aproxime, ele desce da montaria e caminha em direção em algo mais a frente e se abaixa, após alguns minutos analisando algo no chão o mago diz:
- Novato venha cá!
Descendo de Corita e fazendo um carinho em sua égua, você vai até o mago e se agacha também, ele te aponta para a divisa do bosque com a floresta e começa a dizer:
- A algo estranho com a floresta... vê aquelas marcas de queimado?
- Sim... mas não tem sinais de incêndio ou queimado aqui.
- Exatamente! O que indica que algo foi desfeito por aqui... o boato de quê esse lugar era mágico estavam corretos.
- Era?
- Certos tipos de encantamentos só podem ser desfeitos por quem os fez... não conheço ninguém neste domínio que poderia desfazer o que a bruxa fez...
- Acha que ela desencantou a floresta? Porquê?
- É o que vamos descobrir!
Se virando para seu burro, o mago sobe com rapidez e segue caminho para floresta, parece estar animado e curioso com esse lugar. Olhando com mais clareza esse bosque, parece ser bem mais escuro do que fora dele, as folhas das árvores fazem uma mata fechada bloqueando a luz do sol em vários pontos, enquanto analisava o ambiente o mago foi floresta a dentro, sua reação é correr até Corita enquanto sobe nela dizer:
- Me espera!
Você sai correndo em direção ao mago ansioso por aventura nesse lugar assustador. Adentro das matas da floresta uma sensação estranha percorre seu corpo, tem algo estranho nessa floresta e a cada passo que Corita dá em direção ao centro faz com que isso se torne ainda mais evidente, o cheiro de grama e o som do vento passando pelas folha das árvores lhe traz uma sensação reconfortante, familiar. Voltando seu foco para o mago, apressando o passo de sua égua para alcançar o vermelho, após alguns segundos você o encontra prendendo seu burro em uma árvore, se aproximando sua reação sua reação é dizer:
- Te achei, mas que porra foi essa de...
- Shh...
Essa grosseria lhe deu vontade de levantar o tom de sua voz, porém quando as palavras vão sair de sua boca o mago se vira na sua direção com uma expressão seria para que faça silêncio enquanto aponta para frente, dando passos curtos até o burro você amarra Corita no mesmo galho e vai até o mago ver do que se trata. Olhando para cima vários pontos de luz passam pelas árvores mostrando várias coisas nas sombras, olhos, olhos brilhando para todos os lados, mais a frente uma grande forma adormecida no sol, parece ser uma espécie de tartaruga gigante? O formato está muito diferente para conseguir identificar tão de longe, olhando para o mago ele diz em um tom quase inaudível:
- Não fazer barulho... árvores tem olhos... bicho grande acorda.
Você ascende com a cabeça para ele, que segue caminho pelas sombras para que os olhos não lhe vejam passar e que a criatura não seja acordada, se esgueirando através das sombras algo reflete a luz mais ao longe, o que parece ser o começo de um telhado, vocês seguem caminho para descobrir o que é isso.
Estando mais distante da criatura, o mago começa a andar com mais leveza e menos dificuldade por não estar agachado, por mais que esteja com alguns pontos de luz espalhados pelo bosque, a dificuldade de encontrar seus pés no meio da escuridão é tremenda, até que você pisa em um galho seco fazendo um barulho ecoar pelas matas, o mago paraliza se virando lentamente em sua direção, tentado evitar pisar em mais alguma coisa você tropeça em uma pedra e cai justamente sobre um ponto de luz, os olhos que estavam agitados pelo barulho começam a grasnar ao perceber sua presença, em um efeito manada todos os outros começam a fazer o mesmo som de grito, chega a ser ensurdecedor ouvir tantos pássaros gritando de ódio, o mago se contorce no som nas sombras por causa da dor, parece que o som não vai acabar mais, você se contorce para fora da luz enquanto está caído no chão.
De repente silêncio, sua mente está processando a informação, será que você ficou surdo, nada parece ecoar nas árvores, tirando as mãos dos ouvidos você diz uma simple palavra para saber se ainda pode escutar, "Sonhar" derrepente o silêncio é quebrado em um estrondo primal, um rugido começa a vir de onde vocês tinham passado, os pássaros não estavam querendo defender a floresta, estavam avisando o protetor, mas a distância você vê um urso marrom enorme, com um casco de tartaruga gigante e chifres em sua cabeça, o guardião está vindo em sua direção.
A sua mente processou a informação de algo estava vindo em sua direção muito devagar, só quando o mago puxa seu braço e grita que sua atenção volta a realidade:
- CORRE!
Você se levanta e sai correndo atrás de Jahan indo em direção a casa, a criatura está se aproximando, ser cauteloso nas sombras faz pouca diferença nesse momento já que o próprio mago está correndo através dos pontos de luz com tamanha velocidade que os pássaros não tem tempo para grasnar.
Seu coração está batendo, uma sensação que já não sentia a tempos, medo, seus pés não conseguem acompanhar o ritmo do mago o que te faz tropeçar e cair deslizando mais a frente fazendo barulho, olhando para trás o urso está a poucos metros, erguendo as garras em sua direção, você fecha os olhos e espera receber o corte em seu corpo.
Mas algo estranho acontece, uma sensação de calor passa em sua frente, ao abrir os olhos uma chama vinda de trás parece parar o ataque da criatura a fazendo recuar, o mago havia retornado para te salvar, quando o bicho se afasta o suficiente, você se levanta e puxa sua espada da bainha, olhando para o mago ele diz com certa raiva:
- Não tem mais jeito, DESCE O CACETE NESSE FILHA DA PUTA!
Dissipando as chamas, o combate se inicia com o urso se levantando em duas patas e ruge em direção ao mago o atacando com suas garras, aproveitando a abertura na defesa sua lâmina tenta atacar pelas costas da criatura, mas é bloqueada pelo casco de tartaruga, infelizmente o ataque do urso acaba sendo bem sucedido e corta parte do peito de Jahan que desvia tarde demais uivando de dor, ao perceber que foi atacado por trás a criatura tenta arrancar sua cabeça com uma mordida mas erra por você cair para trás, no reflexo você corta parte de sua face com sua lâmina o que o faz ficar em um estado de raiva, o mago aproveita a chance e conjura alguma magia passando suas mãos rapidamente uma na outra, raios ao redor de seus dedos começam aparecer, se aproxima da perna do urso e ao tocar em seus pelos uma descarga elétrica começa a passar pelo corpo do urso o fazendo se ajoelhar no chão enquanto grita de dor. Você aproveita sua vantagem e realiza dois ataques contra a criatura com sua espada e com um soco no focinho, sua lâmina faz um corte através de uma carapaça escondida no pelo de seu peito mas o soco no focinho acaba sendo mais eficaz o fazendo ficar desorientado e um pouco de sangue saindo de seu focinho, enquanto o urso está tentando se levantar o vermelho aproveita e faz uma espécie de tornado de chamas consumindo parte do corpo da criatura pelas chamas, o que faz com que ela role pelas grama para tentar se apagar, vocês continuam atacando o urso até que ele pare de tentar contra-atacar, mas a relutância faz com que suas garras acertem os dois mais algumas vezes.
Após um combate árduo o urso consegue jogar o mago para trás com uma cabeçada no estômago e te derrubar com uma patada, a criatura começa a dar passos para trás com suas patas em sua cabeça, com um grito de dor o que estava protegendo seu peito começa a se abrir, seis patas enfiadas dentro de seu torso começam a se contorcer para suas costas deixando um buraco de carne vazio que deveriam estar nessa posição por anos, os olhos antes escondidos por uma camada de gordura agora apareciam em um tom esbranquiçado mexendo rapidamente como uma aparência de tinta, o casco cai no chão sustentado por suas patas que erguem seu corpo apodrecido do chão como uma marionete de carne com duas garras abaixo de seus braços de urso, vocês libertaram uma aberração cruel, sua mente não sabe mais o que isso um dia pode ter sido, mas o Urso Parasita está faminto.
Não há outra opção em sua mente além de correr para a casa, uma criatura grande pode ser lidada mas aquela aberração é enorme, sabia que sua escolha lhe traria para aventuras mas não fugir de monstros, o mago parece seguir seu exemplo e começa a fugir do Parasita enquanto dispara esferas de fogo de seu cajado. A casa parece estar a poucos metros de distância o mesmo vale para o Parasitado em relação a vocês, um abrigo vai ser uma opção mais segura do que ficar em um lugar aberto com essa coisa, o mago para se virando para trás e faz algum movimento com seu cajado enquanto murmura alguma coisa, seu reflexo e continuar correndo enquanto olha para trás, derrepente o vermelho começar a girar seu cajado rapidamente com uma das mãos enquanto cria chamas em pleno ar com a direita, a aberração dá uma investida em direção ao mago mas uma espécie de escudo de energia vermelho impede o ataque fazendo os dois irem para trás, seus passos vão desacelerando, mas a concentração de vermelho não parece ter sido afetada por continuar girando seu cajado com as duas mãos, você para no meio do caminho, a criatura não desiste e faz outra investida fazendo com que Jahan caia com um joelho no chão tentando se apoiar com sue capuz saindo de sua face, a luta de antes o fez ficar cansado demais para essa batalha, percebendo que você não estava se mexendo o mago grita:
- CORRE PARA CASA!
- Eu... EU NÃO VOU TE DEIXAR SOZINHO COM ESSA COISA!
O Parasitado dá mais uma investida que despedaça o escudo mágico fazendo com que o mago caia no chão, a criatura tenta morder o mago enquanto começa a ferir com seus quatro braços o felino, vermelho consegue prender a boca do bicho com seu cajado e grita pra você:
- DÊ O FORA DAQUI... MERDA DO CARALHO!
Ele não vai resistir por muito mais tempo, então sua decisão é lógica, atacar o que odeia. Correndo em direção a criatura distraída por Jahan no chão, você pula por cima dele e dá uma joelhada no rosto do Parasitado, que larga o cajado do mago, indo para trás seus pés se apoiam em um dos braços para dar impulso, se segurando no rosto da criatura você enfia sua espada através de seu pescoço. Mas algo acontece, tudo ao seu redor parece estar desacelerando, sua espada está a poucos centímetros de enfiar na garganta da criatura, consegue ver todos os braços se preparando para cravar em seu tórax e o mago preparando algum tipo de feitiço com uma face de raiva e desepero, os olhos da criatura brilham em um tom azulado enquanto ela começa a rugir de dor, isso já aconteceu antes e está fadado acontecer novamente, você está na mente do monstro, mais precisamente em suas memórias.

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