Palavras não conseguem expressar o susto que você tomou, felizmente sua feição alertou o mago sobre algo suspeito, o mesmo pega o cajado que estava ao lado e se vira de forma agressiva para o intruso que vai para trás enquanto exclama com uma voz trêmula e rouca:
- M-minha s-senhora? É... você minha senhora?
- Que porra de senhora que nada, Quem CARALHOS é você?
- Caralhos? Eu não sou um caralho, sou um idoso.
- Puta merda...
O vermelho abaixa um pouco seu cajado e retrai suas garras, coçando um pouco os olhos se vira pra você e diz:
- É um velho senil... deve ter sido abandonado pela família pra morrer ou algo assim.
- Isso é algo comum por aqui?
- Garoto, você não faz ideia de quanto as pessoas são filhas da puta...
O estranho se aproxima um pouco do mago, que por sua vez dá um passo em direção ao velho o segurando pela gola e erguendo no ar enquanto aponta o cajado para a barriga dele, ele solta sua bengala no chão e o capuz cai para traz mostrando seu rosto, um senhor com uma barba cinza que cobre seu queixo e uma grande falha no lado esquerdo de onde deveria ter cabelo:
- E não faz ideia de quantas vezes tentaram me enganar.
- N-não... espera eu...
- Você acha mesmo que vou acreditar que um velho... está perdido no meio da noite e aparece justamente no nosso acampamento... ao lado de uma fortaleza abandonada?
O mago faz o estranho olhar para o forte, parece ser a primeira vez que ele vê o lugar ou talvez seja o medo, mas depois dos pontos colocados por Jahan suas dúvidas só aumentaram sobre quem diabos é esse sujeito, a paciência do senhor parece estar se esgotando ao colocar o cajado acendido poucos sentimentos do peito do desconhecido:
- Última chance engraçadinho... quem é você?
- E-eu s-sou Cortês...
- Quem veio com você?
- Não tem n-ninguém... e-estou sozinho... a q-quanto tempo estou s-sozinho? q-quanto tempo...
- Mas que porra... O VELHO!
- Ahn?
- Não terminei com você ainda, seja maluco outra hora...
Definitivamente a expressão do vermelho passou de desconfiança para frustração a cada frase vinda do estrangeiro e parece afrouxar um pouco a gola do idoso:
- Está armado?
- E-eu n-não sei usar a-armas.
- Me mostra.
O estrangeiro retira a manta da frente, umas espécie de túnica bem velha e surrada parece ser usada por ele mas nenhuma arma é visível, o mago não parece estar satisfeito mas larga o sujeito no chão e pergunta:
- Tá bom Cortês... o que diabos você quer conosco?
- E-eu quero e-encontrar minha a senhora...
- Quem é sua senhora? Você é o que dela?
- É a flor mais doce que poderia se encontrar... onde está a senhora...
O mago parece desistir de querem argumentar com o sujeito, põem seu capuz de voltar e vai até a fogueira, ao se sentar se vira para você:
- Esse maluco não vale o esforço.
- Porquê acha isso?
- Já conheci trambiqueiros, ladrões e assassinos o suficiente para saber quando estão armando alguma coisa ou não... os olhos dele não mentem.
- Tem como saber isso pelo olhar?
- Isso e o fato de não ter nenhuma arma com ele... ninguém seria tão burro de vir desarmado pra cima de mim.
Esse argumento te fez questionar os métodos de Jahan ao invés de te acalmar, o velho parece se levantar e pegar a bengala dele do chão enquanto a cena dos goblins parece ecoar em sua mente em tom cômico, não consegue segurar um pequeno riso antes de perguntar:
- Tá bom sabichão... ele é perigoso ou não?
- Não... no momento... mas não se deixe levar, todos tem algo a esconder.
- Você têm algo a esconder?
- Eu...
- C-com l-licença... posso me aquecer na f-fogueira.
Os dois se viram para o estrangeiro, com duas expressões opostas, uma agressiva e outra gentil, antes que o mago diga alguma coisa você diz:
- Pode senhor, mas se sente um pouco distante de nós.
- M-muito obrigado meu jovem...
Jahan olha em sua direção, sem precisar dizer sabe que sua feição diz "Sério?" mas definitivamente sua educação vem antes de suspeitas, então decide ignorar o protesto silencioso do vermelho e se aproxima da fogueira para se aquecer também. Analisando o comportamento do estrangeiro, parece ter passado por alguns problemas até chegar até seu acampamento, a roupa em si parece improvisada com alguns rasgos, parece inofensivo mas as dúvidas de Jahan definitivamente entraram em sua cabeça, por esse motivo você pega sua espada e coloca de volta na bainha antes de começar a conversa:
- Disse que se chama Cortês... certo?
- S-sim... e como ela me chamava...
- Okay, vamos chegar nesse tópico logo... eu sou Rafael, faço parte do povo de Terra Arada... o esquentadinho aí é...
- Meu nome definitivamente não é da conta dele.
Olhando para o mago ele parece estar falando com um tom sério um pouco distante olhando ao redor, é melhor não irrita-lo, voltado atenção para Cortês você diz:
- Ele é um mago que sabe mexer com fogo... tente não o irritar sem querer.
- O-okay... eu só quero me esquentar senhor.
- Conversa afiada.
O vermelho passa de um lado para o outro do acampamento, sem se virar de costas diz:
- Cuida do velhinho com frio enquanto vou dar uma volta.
- Vai demorar muito?
- Dar uma volta.
O tom dele na última frase era de alguém que não está afim de papo, deve ter algum problema contra idosos perdidos com frio, de qualquer forma sua atenção volta a descobrir quem é esse sujeito enquanto o mago sai de vista em direção aos cavalos:
- Disse que estava procurando uma senhora...
- S-sim minha senhora! Minha s-senhora...
- Okay... sabe me dizer onde ela estava da última vez que a viu?
- S-sim... eu me lembro...
Cortês parece ter se acalmado mais agora que sua vida não corre mais risco porque o mago se afastou, ao que parece seus olhos tem um tom verde claro, mesclado com amarelo claro e um pouco de preto, uma combinação estranha para seus olhos, enquanto você observava isso o sujeito tomou coragem para falar:
- Nós estávamos em... casa... na floresta como sempre... uma noite ela... ela...
- Ela o quê?
- Ela me disse que... estaria por mim mesmo... ela disse que iria sumir...
O senhor começa a chorar, as mãos dele ficam trêmulas enquanto tenta segurar com força sua bengala, quem fosse essa senhora definitivamente mexeu com ele de jeito, sua reação é se aproximar e tentar acalmar um pouco de longe:
- Calma, calma... respira, só respira...
- Ela me deixou.... porque ela... ME DEIXOU?
O estrangeiro está em prantos, a bengala cai de suas mãos, você se levanta até e vai até ele:- Se acalme senhor... por favor...
- Ela sumiu... ela partiu...
- Eu... nós vamos encontrar sua senhora, eu prometo... mas precisa se acalmar.
Você está de frente com o idoso chorando, ele olha para seu rosto enfaixado buscando verdade em seus olhos, sua mão está prestes a tocar no ombro dele para saber que está seguro, mas der repente a cor dos olhos dele mudam num piscar, sua mão toca em seu ombro, a frase "vai ficar tudo bem" não consegue sair de seus lábios ao ver os grandes e amarelos olhos de serpente.
Você sente em uma onda de pensamento confusos começam a inundar sua mente de várias memórias em sequência como um flash diante seus olhos:
"Cair da Vassoura. Uma enfermaria. Chapéu. Uma explosão. Um inimigo? A Chama Verde. Uma piada. Guardião. Duelo.Derrota.Queda.Sem.Poder.Perda.De.Memória.Confusão.Dor.Dor.Medo.Da.Morte.Dor.Dor.Dor.A.Senhora.Está.Aqui?".
Foi informação demais para seu corpo suportar de uma vez, o que te faz ir para trás e quase cair no chão com os olhos fechados, por reflexo puxa sua espada com sua mão esquerda, ao abrir os olhos o velho está desmaiado em sua frente com o mago logo atrás. Seus passos te levam para trás, sua cabeça não para de arder, sua mão larga sua espada no chão, seus olhos começam a coçar, tem uma venda na frente, "Preciso tirar. EU TENHO QUE TIRAR!" suas venda é arrancada se deu olho com rapidez, você cai de joelhos, que se foda que está ferido, precisa saber que isso é real, que você é real, o que sentiu é real, você pressiona sua mão onde estava a enfaixado, sua respiração está pesada, o que foi isso? Jahan está em sua frente e faz algum gesto em sua direção com seus dedos com um brilho verde, o mundo parece mudo mas a palavra "Repousar" parece vir, sua respiração se ajusta, seu coração para de acelerar, e retira sua mão de seu rosto ela está limpa, não tem sangue escorrendo de sua testa, parece não haver machucado algum, porque estava com tanto pânico afinal de contas? Ele se ajoelha em sua frente, e olha diretamente para os seus olhos, o rosto dele não mostra raiva, não mostra decepção, parece mostrar apenas preocupação ao perguntar:
- O que aconteceu?
- Eu... eu não sei...
- Sai daqui tem cinco minutos e a primeira coisa que vi foi você apontando uma espada pra ele e caindo no chão.
- Tem... algo de errado com ele.
- Ah, isso eu já sabia... olha a cara do maluco.
Você pega sua espada, se levanta e guarda na bainha enquanto olha com seriedade para o mago ao falar:
- É algo além disso... quando toquei no ombro dele... não sei...
- Okay, então o que você sabe?- Não tenho certeza se... ele de fato é uma pessoa.
Jahan tira seu capuz, olha o velho apagado no chão ao lado da fogueira, olha de novo para sua direção e diz:
- Quê?
- Antes de tocar no ombro dele... acho que vi por um lapso de momento um olhar de cobra, ou algo do tipo.
- Olhos de cobra é?
- Isso.
O mago vai desconfiado até o estranho, com o dedo puxa a pálpebra de cada olho para ver sua coloração, ao terminar volta em sua direção e diz:
- Nada demais.
- Como pareciam?
- Bem de gente mesmo.
O vermelho como sempre muito direto com seu linguajar, colocando sua mão contra sua face você pergunta olhando para ele:
- Tá... mas não muda o fato de ter algo de errado com ele...
- Já está definido isso.
- Certo...
Olhando para o estado do idoso, ele está deitado como se estivesse tentado abraçar o chão, você não quer tocá-lo de novo então pergunta para o mago:
- O que fez com ele?
- Relaxa, só está dormindo.
- Mesmo?
- Olha eu não matei o velho, tá bom?
- Ótimo... mas o que fazemos com ele?
- Deixar o velho aqui e seguir caminho.
- O nome dele é Cortês.
Novamente Jahan está te olhando confuso com a expressão que diz "É sério?" você assente, o mago respira fundo juntando as duas mãos e estralando seus dedos diz:
- Tá bom... deixamos "Cortês" aqui, se é que esse é o nome dele.
- Se deixamos aqui ele vai morrer de fome ou por algum bicho, e de onde veio essa história do nome?
- Ele é velho, se o vento soprar de forma diferente ele morre, quantas pessoas você conhece que hesitam em dizer o próprio nome?
- Okay, eu admito que tem um argumento convincente... mas não posso deixar ele pra morrer...
- Tá bom... o que infernos quer fazer com esse sujeito?
Você sente seu braço direito, parece estar melhorando aos poucos mas ainda dói, repõe sua postura e olha com determinação para o mago:
- Levá-lo para Terra Arada.
- Mas que por... isso é uma péssima ideia.
- Porquê não? Temos que voltar lá para fazer o relatório do forte, assim mantemos ele em vigilância e seguro.
- Isso... é de fato uma boa ideia.
Ouvir algo bom vindo dele para você te faz sorrir involuntariamente, sua resposta é:
- Obrigado.
- Mas vamos fazer isso de manhã, já tive muito trabalho tendo que te trazer até essa fogueira.
- Tá bom... vou tentar não ser atacado por corujas de novo.
- Ou paredes.
- Não enche.
Você vai até o lugar que estava sua cama improvisada, o mago parece soltar um pequeno riso de seu comentário, se deita e tenta voltar a dormir, isso com certeza foi uma noite esquisita.
Em sua tentativa de virar de um lado para o outro para dormir, você vê o mago olhando as estrelas antes de apagar o fogo e se deitar numa cama improvisada. O céu está aberto com uma lua minguante, sempre teve interesse naqueles estranhos e adoráveis pontos brilhantes no céu, o som dos vento batendo na grama te faz descansar com mais rapidez.
Memórias ecoam em seus ouvidos e visão, duas sombras pequenas estão ao redor de algo brilhante que rasgou os céus e caiu perto de suas casas, sem saber o que é levam para seus anciões, tratados são feitos, uniões são estabelecidas para dividir o que caiu do céu, seu filho brinca de lutar contra os filhos de seus irmãos de guerra, uma paz foi instaurada entre os povos, até que as chamas vieram e destruíram suas casas, suas armas e armaduras a muito aposentadas teriam que voltar a ser utilizadas contra o inimigo que buscava sede de sangue, a espada em cruz buscava o que caiu do céu, para que seu filho viva em paz uma guerra deve ser travada. Você é apaixonado por livros e suas histórias, por mais que outros decidirem viver uma vida mais violeta e drástica o saber sempre foi o que lhe interessou, conhecimento pode ser uma arma mais poderosa quando se tem magia na ponta de seus dedos. Você sabe como usar um arco e flecha como nenhum outro de sua tribo, caçar é o seu ponto mais forte e todos que o conhecem percebem isso, o guerreiro e o sábio são boas pessoas mas não tão resistentes, resolveram aposentar seus métodos antigos em tempos de paz ao invés de continuarem treinando e esperando pela guerra, você sabe como são os outros povos, o métodos deles, o cheiro podre deles, eles odeiam você pelo o que pode fazer, mas vão ver o que vai acontecer quando chegarem aqui, todos vão ver.
O sol em seu rosto de faz acordar, de alguma forma sua mente lhe fez ter uma visão de vidas nunca vividas por você, seu corpo soa frio, parece ter amanhecido a poucas horas os dois parecem ainda estar dormindo. Verificando seu braço direito, percebe que está bem melhor do que ontem e não acha que precise mais da faixa desde que não fique mexendo muito, olhando para Cortês você tem certeza que não quer tocá-lo de novo, então com a faixa que estava em seu braço você consegue fazer um bom nó e prender as mãos do velho enquanto dormia.
Olhando onde estavam suas montarias, seus pés te levam até onde elas estão, você tira as amarras de Corita da árvore e do burro Severino, parecem ter acordado cedo e comeram bastante grama pelo temo que passaram nesse lugar. Você então os leva para próximo de um riacho um pouco mais a frente para beberem água, sua sede também está terrível e precisou beber bastante para ficar hidratado e encher seu cantil, se virando de costas você vai indo em direção ao mago, ao chegar lá sua mão dá um toque no ombro dele para o acordar:
- Hey, acorda!
O vermelho acorda em um pulo colocando suas garras pouco centímetros de sua garganta, seus olhos estão focados em sua presa com uma respiração acelerada, ao olhar seu rosto assustado Jahan retrai as garras e se deita dizendo:
- Ah... é você.
- Okay... bom dia pra você também.
- Cacete... e já é dia?
O vermelho coça um pouco seus próprios olhos ao olhar para cima, escondendo seu rosto no capuz resmunga algo inaudível, e se vira para tentar dormir de novo, sua reação e mexer nele de novo:
- Hey, nada de dormir agora, vamos! Acorde!
- Eu sou uma criatura noturna moleque da fazenda... tenho lá cara de galo pra ficar acordado de madrugada?
- Bem bico você tem.
Isso definitivamente o fez parar de tentar dormir, se sentar e olhar para sua direção com a vista meio cansada:
- O que foi que você disse?
- Que temos que acordar para levar o senhorzinho de volta pra vila.
- Eu quero mais que ele se fo... quando foi que amarrei ele?
- Ah... isso fui eu.
Jahan agora acordou com essa surpresa, coçando a cabeça parece estar interessado no motivo:
- Ué? Não foi você que queria levar ela em segurança e sei lá o que caralho?
- Segurança, pra mim e pra ele.
- Amarrado?
- Olha... aconteceu coisa de mais ontem para deixá-lo ficar pegando em tudo... não quero tocar nele de novo.
- Tá... mas por que diabos me acordou pra ver esse merdinha...
- Recompensa, terminamos o serviço e temos que voltar.
O mago se levanta com rapidez com uma espécie de pulo, fazendo seu capuz e parte de sua capa voar um pouco no ar antes de voltar, isso parece ter animado bastante:
- Porquê não disse antes? Vamos! O dinheiro não espera ninguém.
- Sério que foi isso que te faz levantar de manhã?
- É claro!
Essa resposta direta e espontânea parece ter um fundo bem maior do que ele está deixando aparentemente, mas não é o momento para perguntar isso agora que ele está indo buscar seu burro no lado do riacho.
Você o segue para buscar sua égua, olhando ao redor nada parece estar diferente do dia anterior, além do pequeno acampamento, levando suas montarias até onde a fogueira estava e diz para o mago que se aproxima:- Acho melhor levar Cortês no seu burro.
- Ah? Porquê?
- Não tenho certeza se o que aconteceu ontem foi por causa dele ou minha... só não quero que ele me toque.
Jahan não parece acreditar muito sobre o que aconteceu ontem, mas levanta o idoso com as duas mãos e o coloca deitado no lombo do burro, e começa a fazer algo no chão, que te faz perguntar:
- O que está fazendo?
- Não quero deixar rastros que estivemos aqui.
- Porquê?
- Acredite, não faz ideia da quantidade de gente que gostaria de seguir dois viajantes por aí...
- Isso é maluquice.
- Chame do que quiser, mas não vou deixar uma seta dizendo pra onde fomos.
O mago chuta areia sobre a fogueira a enterrando um pouco no chão, começa a desfazer as camas improvisadas, joga no mato, sobe em seu burro, e o faz dar algumas voltas para fazer com que as pegadas se misturem aos cascos das montarias, nesse meio tempo você já montou em Corita esperando para voltar para vila.
Alguns minutos se passam até que o vermelho termine o serviço e segue caminho em sua direção de volta para o vilarejo, o percurso deve levar algumas horas, pode ser um tempo para pensar e sentir fome enquanto se espera. Após passarem por várias paisagens você se recordar de ver o mago fazendo algum sinal com as mãos em direção ao Cortês, dizendo que estava apenas dormindo, fazem horas desde que isso aconteceu e nada dele acordar, isso começa a te deixar preocupado e te faz perguntar:
- Sr. Zargo.
- O que foi?
- Porque nosso amiguinho não acordou ainda?
- Ah, isso... é um feitiço.
- Feitiço de quê?
- De sono.
- É permanente?
- Não, claro que não... gastaria muita magia para amaldiçoar esse cara.
- Então como ele acorda.
- Quando eu quiser, num estralar de dedos pra ser exato.
- Oh, certo.
- Quer que eu faça isso agora?
- Por favor não.
O mago dá uma pequena risada, parece não querer acordar o idoso tão cedo, o restante do percurso é bastante calmo, as pegadas das montarias se desfazem na terra por causa do vento. Após algumas horas vocês chegam em Terra Arada, é estranho voltar depois de uma missão tão sucedida, mesmo que tenham recuperado apenas duas coisas dignas de nota, já é alguma coisa. Seguindo o vermelho parece querer levar o velho até o xerife logo de cara, chegando na frente da delegacia o mago desce de seu burro e começa a carregar Cortês no ombro, fazendo sinal para que o siga e abra a porta.
Ao abrir a porta a primeira coisa que vê é George dormindo sobre a mesa, parece que passou a noite aqui por alguma razão, indo até a porta do xerife ela está aberta, não tem ninguém lá além de vocês. Indo até seu amigo parece estar em sono profundo, ele tem que acordar:
- George? Alô?
Parece não ter efeito já que a única resposta obtida foi um ronco grosso mesmo com sua mão cutucando o ombro dele, o mago chega atrás de você, olha toda a cena e larga o Cortês num sofá perto da entrada, vai até a mesada dá um soco na mesa e grita:
- MUITO BOM DIA JORGINHO!
O susto que o sujeito tomou fez George cair da cadeira, a baba voa para cima, enquanto vai ao chão, a cena em si é engraçada pra quem não está caindo, o ajudante olha pra cima e olha na sua direção, ele se levanta e recompõe a postura:
- Bom dia senhores.
Ainda cambaleando pela queda, George tenta disfarçar o que aconteceu estando meio envergonhando, querendo mudar de assunto ele faz uma tosse falsa e começa a dizer:
- Bem... o que trazem vocês aqui?
- Duas coisas: uma delas é que finalizamos a busca na fortaleza dos orcs.
- Ah, que ótima notícia Sr. Zargo, vieram buscar a recompensa né?
- Precisamente.
George pega alguns papéis e começa a escrever alguma coisa, de repente ele olha para sua direção acena com a cabeça quando você diz um "olá", voltando sua atenção para o mago, o ajudante diz:
- Algo a relatar para o registro? Algum item importante ou armas antigas?
- Bem nos achamos...
- NADA! Nada de interessante, todas as coisas que sobraram naquele lugar devem ter sido saqueadas com o passar dos anos.
Batendo no ombro do mago ele se vira para você, seu rosto diz o que está pensando, a resposta dele foi para conversar depois, George parece anotar tudo que o vermelho havia dito para prestar atenção em outra coisa, então pergunta:
- Não acharam nada por lá?
- Todas as coisas que encontrei estavam danificadas demais pelo tempo e pela chuva, nada digno de ser lembrado.
- Perfeito, já vou separar a recompensa de vocês... agora qual era a outra coisa que queria me dizer?
- Ah, é verdade... mas antes que eu diga, sabe me dizer onde o Xerife está?
- Ele me pediu para assinar alguns papéis bem tarde da noite, a essa hora deve estar dormindo.
- Mas que merda hein.
- Ora vamos, o que tiver para dizer pra ele pode dizer para mim também.
- Trouxemos alguém.
- O quê?
George para de fazer o registro e olha para Jahan que aponta o velho desacordado no sofá, a surpresa faz com que derrube o papel onde estava anotado, saindo de trás da mesa ele pergunta:
- Mas quem é essa pessoa?
- Ao que aparenta se chama Cortês.
- Um senhor amarrado?
- É, basicamente isso George.
- Porque ele está aqui Rafas?
- Não sabíamos o que fazer... aqui parecia ser o lugar mais seguro para deixá-lo.
- Ele está dormindo?
- Não por muito tempo.
Com um estralar de dedos o mago faz como que Cortês acorde em um pulo, sua respiração parece estar pesada como se não conseguir respirar a muito tempo, olhando para George que havia se aproximado diz com um tom de desespero:
- MINHA SENHORA? Você viu minha senhora?
- Pelos céus... senhor por favor se acalme...
- VOCÊ VIU MINHA SENHORA?
Mesmo com as mãos amarradas o velho tenta ir para cima de George, você coloca sua mão sobre a bainha mas o mago é mais rápido em fazer um gesto com a mão e dizer "Durma", o que faz Cortês desabar desacordado na frente de um ajudante assustado, o mago aponta com as duas mãos ao dizer:
- Viu o que eu quis dizer?
- Vi... eu vi sim.
- Agora pode ir buscar o xerife por favor?
O ajudante assenti e sai correndo daquele lugar, deve ter ficado com medo do sujeito o que é algo que também te assustaria, enquanto você analisa a situação o mago pega o estrangeiro e o joga novamente no sofá, uma dúvida vem a sua mente, quando o mago olha para sua direção ela saí:
- Porque não contamos sobre a estrela para George?
- Lembra do que eu disse? Ainda pode existir pessoas atrás disso.
- Mas ele é meu amigo.
- Quer protegê-lo?
- Sim... porque isso do nada.
Jahan chega perto de seu rosto e olha diretamente em seus olhos, o que te deixa constrangido por alguns segundos até ele falar:
- Quanto menos pessoas souberem menos elas correm perigo.
- Perigo do quê?
- CARALHO RAFAEL! Vê se aprende algo uma vez!
O tom te fez levar a situação mais a sério, não parece querer de ofender, só fazer com que você realmente preste atenção:
- Você me disse que um Rei destruiu uma fortaleza INTEIRA por causa disso não foi?
- Sim.
- O que te faz pensar que não iriam torturar e matar todos que sabem sobre isso?
Essas palavras te fizeram pensar, essa joia pode ser mais perigosa do que você imaginava, Jahan deve estar certo, quanto menos souberem que isso está contigo menos pessoas correm o risco, você assenti para ele:
- Nem todos os segredos são ruins garoto.
- Eu não gosto de mentir.
- Não diga o que ele não precisa saber.
Você vai para um canto da sala enquanto Jahan espera na porta, as palavras ficaram em sua mente, após alguns minutos Jenna aparece com um roupão e o que parece um pijama, ao te ver enquanto limpava os olhos cansados vai em sua direção e dá um abraço com força:
- Buenos dias güero!
- Bom dia Jenna.
Após te soltar do abraço apertado se vira para Jahan e apenas acena com a cabeça, algo que o mago retribui, o xerife segue caminho até sua sala, o vermelho pega o velho no ombro e o segue, você faz o mesmo quando percebe que George não voltou.
Dentro da sala você vê o mago colocando Cortês sentado na cadeira, Jenna parece muito suspeito sobre o sujeito e começa a falar quando sua mão fecha a porta:
- O que aconteceu Jahan?
- Nada de bom Jenna, aquela ruína era de uma tribo orc muito poderosa.
- Como descobriu isso?
- Existia alguns resquícios de símbolos, muito destruídos para serem coletados mas consigo fazer um desenho de quiser.
- Deixe isso para depois... sei que não confia muito em George, o que vocês acharam.
O censo de conhecimento do xerife é algo que nunca havia passado por sua cabeça, ele definitivamente sabe o que está fazendo, você se assusta um pouco ao Jahan se virar para você e dizer:
- Rafael.
- Sim?
- Mostre para ele por favor.
- Tem certeza? Mas e o que você disse sobre...
- Jenna é a pessoa mais confiável desse vilarejo, e também é nosso chefe... acho que ele merece saber.
- Okay... acho justo.
Você então tira seu peitoral afrouxando um pouco a lateral para que saia apenas de um lado como um armário, abrindo sua camisa o xerife vê a grande joia roxa em seu peito os olhos dele passam uma mescla de admiração e medo, após alguns segundos seus dedos cobrem a joia fechando sua camisa e colocando seu colete de volta no lugar, Jenna faz a pergunta mais óbvia possível:
- O que é isso?
- Não fazemos ideia, mas não consigo tirar ela do meu peito.
- Jahan, sabe se é alguma maldição ou encantamento nesse objeto?
- Sinto em dizer que parece ser um pouco de ambos Jenna... o feitiço encravado com certeza é mais antigo do que qualquer coisa que eu possa ter estudado.
- Isso é bem preocupante... tem mais algum motivo para quererem mostrar isso apenas para mim?
- Acredito que uma guerra foi travada por isso Xerife.
Jenna estava coçando seu bigode com certa rapidez, provavelmente ponderando sobre o que fazer, mas ao dizer isso ele mantém uma postura reta na mesa e cruza os dedos uma mão na outra, te olhando com seriedade pergunta:
- O que te faz pensar isso?
- A joia, ela me mostrou o que aconteceu naquele forte.
- Você... você sabe o que aconteceu?
- Tenho quase certeza disso... acho que é como se isso de alguma forma revivesse as memórias de um lugar ou pessoas.
- Isso é inacreditável.
- Eu sei, mas essa estrela...
- Espere! Você chamou essa pedra de estrela? Porquê?
- Porque ela caiu do céu.
Os dois se olham de forma perplexa, essa informação de alguma forma fez alguma diferença para eles de uma forma que você não entendeu:
- Que foi?
- Tem certeza do que está em você caiu do céu garoto?
- Sim, eu sonhei com isso hoje de manhã.
- Você não me contou isso.
- Não achei que fosse algo importante, também tive flashs de vidas que nunca vivi de duas crianças acharem algo que caiu do céu.
- Rafael... acredito que tenha visto nesses sonhos, são a realidade.
- Mas... como? E o que isso tem haver com a estrela?
- Eu... acho melhor se sentar.
Você se senta na cadeira disponível, Jahan só pega o velho e coloca em um banco no canto da sala, ao se sentar o xerife começa:
- Anos atrás, uma estrela caiu dos céus, várias pessoas a noite viram algo cair dos seus e desaparecer no horizonte... por muito tempo todos pensávamos que foi uma miragem, uma brincadeira feita pelos magos.
- Não foi o caso garoto.
- Infelizmente não foi Jahan, um boato de que os orcs haviam adquirido um pedaço do céu se espalhou entre nossas população por meio de um vendedor orc ambulante... até que um dia ele desapareceu quando foi em uma excursão nas terras ao norte.
- Nunca descobriram o que aconteceu com ele... o que sabemos é que alguns meses depois as vilas começaram a ser atacadas pelos reinos do norte, foi uma carnificina.
- O que você deve saber é que isso é algo muito perigoso... e se deve ser escondido, não sabemos o que Marco Alterion pode fazer se por as mãos nisso.
- Okay... vou guardar com minha vida senhores.
- Bom saber disso güero... agora quem é aquele anciano?
O xerife aponta para Cortês desacordado, Jahan se levanta da cadeira e fica ao lado velho antes de dizer:
- Esse é o nosso outro problema.
Com um estralar de dedos o idoso acordar de seu transe aos poucos, de uma forma menos agressiva dessa vez agora que suas mãos estão em suas costas, ele começa a dizer:
- O q-que aconteceu?
- Buenos días anciano! Seja bem vindo a La Cidade de Terra Arada!
- B-bem vindo?
- Mas é claro! Porém preciso saber o que estava planejando fazer com mi amigos para ser trazido dessa forma?
- D-de que forma?
Parece que só agora Cortês percebe que está amarrado em uma sala com completos estranhos, a mente dele não parece estar nesse lugar aqui e agora, Jenna observando a situação se pega a cadeira de Jahan e se senta na frente dele:
- Ah... E-eu fiz alguma coisa?
- Você acha que fez?
- N-não tenho certeza... a muitas coisas que não me r-recordo.
- E o que você se recorda?
- De minha senhora... de morar com ela... dela me deixar...
- Onde ou quando foi a última vez que a viu?
- Eu a v-vi em nossa casa na floresta fechada ao norte... ela vivia dizendo que o nome era Bosque das Nozes.
Jahan parece meio mexido ao ouvir esse último nome, chegou a ponto de até mesmo tirar seu capuz e coçar sua cabeça:
- Bosque das Nozes... mas que merda.
- O quê? O que tem lá?
- Güero, em nossas tentativas de mapear os terrenos ao norte... essa floresta foi a única que não tivemos uma resposta positiva.
- Porque? Ela é perigosa?
- Não exatamente... ninguém conseguiu atravessar a entrada sem ser barrado pelas árvores...
- A floresta é viva?
- Todas são, mas essa é enfeitiçada por magia poderosa... até mesmo Daara não conseguiu entrar lá como acha que conseguiu as cicatrizes?
- Céus...
- Vamos acalmar um pouco os ânimos mi amigos... Cortês não é?
O idoso estava meio distraído se surpreendendo em ser chamado no meio da conversa:
- E-eu? Como s-sabe meu nome?
- Ah, me disculpa... me llhamo Jenna Gonzales, sou o xerife dessa cidade.
- Olá x-xerife.
- Disse que sua senhora mora no Bosque das Nozes estou cierto?
- S-sim... foi o que ela me disse.
- Um momento por favor Sr. Cortês.
Jenna se levanta da cadeira e faz um sinal para que vocês dois o sigam para um cantinho para conversar sobre alguma coisa, Jahan é o primeiro a quebrar o silêncio quando os três se reúnem:
- O que acha Jenna?
- Que está falando a verdade... talvez seja nossa melhor chance.
- Desculpe... mas chance do quê Xerife?
- Você não pode estar falando sério.
- Sim, Jahan... acho que é nossa melhor chance de descobrir o que acontece naquele lugar.
- Mas porquê?
- Nunca tivemos um motivo para ir pra lá... é uma missão de busca e procura agora.
- Acha que a senhora pode ser uma boa aliada Jenna?
- Ela mora em uma floresta encantada impossível de entrar... sabe que precisamos de mais pessoas...
Jahan sai um pouco da rodinha, e coça um pouco os olhos, parece não achar uma boa ideia, respira fundo e diz:
- Que se foda... vamos ser pagos não é?
- Esse é o espírito mi amigo... ou pelo menos um começo... enquanto a güero? Quer aceitar essa missão?
Seus olhos vêm o idoso amarrado, você não quem ele é, nem sabe se ele é uma pessoa, vale mesmo a pena se arriscar por alguém que você nem conhece? Vale a pena morrer por ela? Sua cabeça aos poucos começa a processar a pergunta feita pelo xerife, e chega a uma conclusão:
- Se ela pode nos ajudar... e se isso vai ajudar ele... eu aceito.
- Certo chico, agora venham trouxe um pouco de comida de casa... quanto a você Cortês...
Jenna pega uma faca encima da mesa e corta as amarras das mãos do idoso, pega um pedaço de pão e entrega para ele:
- Se mantenha longe de confusão e talvez possa arrumar uma vida aqui...
- O-obrigado... Sr. Gonzales.
E começa a comer de maneira voraz, deve ter passado alguns dias sem ter se alimentando direito, se voltando para mesa do xerife tem algumas fatias de bolo, um grande pão e algumas frutas. Tanto você quanto Jahan se alimentam bem para passar o dia, foi um ótimo café da manhã, agradecem Jenna por sua hospitalidade e os leva até a saída, no meio do caminho se lembra da missão do forte e vai com passos rápidos até a mesa de George e entrega dois sacos de moedas para o mago e dois para você e diz:
- Fizeram um ótimo serviço, o dinheiro extra é por acharem... vocês sabem, e trazerem Cortês para cá.
- Obrigado Xerife... agora que me lembrei, o que houve com George?
- Ah, acabei mandando aquele chico para casa... não devia ter feito ele passar a noite por aqui, é um bom niño mas precisa aprender a descansar.
- Entendo... o que vai fazer sobre Cortês?
- Ele está sobre nossa proteção agora, até que se prove o contrário trataremos como um de nós... mas se te deixar mais feliz ficarei de olho nele.
- Isso me deixa bem mais feliz Jenna.
Olhando para Jahan ele está brincando de jogar o saco de moedas pra cima e pegá-lo no ar, parece nem ter prestado atenção na história antes de começar a sair:
- Até mais Xerife.
- Se cuidem mi amigos.
Jenna Gonzales e seu bigode se despedem de vocês quando saem da delegacia, cerca de uma hora deve ter passado enquanto seus passos te levam até suas montarias, ao subir em Corita e olhar Jahan subindo em Severino uma dúvida passa em sua cabeça e acaba saindo em voz alta:
- Nossa missão é entrar em uma floresta impossível.
- Basicamente.
- Acha que ele vai ficar bem?
- Jenna? Com certeza, ele sabe se virar... agora Cortês... porque exatamente quer ajudá-lo?
- Não sei direito... acho que já sofreu demais nessa vida para ter que fazer tudo sozinho.
- Se é o que pensa sobre ele... afinal como você sabe.
- No caminho eu te explico o que vi.
Os dois começam a cavalgar para fora de Terra Arada, aos poucos as pessoas começam a sair de suas casas para trabalhar, e você acena para alguns conhecidos, sempre bom lembrar que tem um lugar para voltar, uma árvore a sua espera, seus pensamentos ficam envolvidos em uma saudade de casa ao cruzar a placa que diz "Você está saindo de Terra Arada" e seguindo para o caminho ao Norte da cidade, rumo ao Bosque das Nozes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Nova Era
RandomO mundo está rachando, a guerra está devastando as civilizações pouco a pouco, os escolhidos saberão a razão do porque tudo deve ter um fim e o porquê de tudo precisar ser destruído, mas não é assim que essa história começa. Ela começa com um crianç...