O Vilarejo

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O caminho até chegar no vilarejo foi difícil, mas o tempo parece não ter passado tanto quanto imaginava, o sol está no meio do céu e um pouco de fadiga percorre o seu corpo, faltam mais alguns minutos até os dois chegarem, você sabe o que está para sentir mas pensa que pode aguentar por mais tempo, o mago parece estar um pouco mais relaxado depois de ter lidado com a ameaça, porém ainda aparenta mantém feição cansada por baixo do capuz, você sabe como é ver alguém fingindo. Chegando lá, um placa a sua direita diz o nome que já é acostumado aos seus olhos "Bem Vindo ao Vilarejo De Terra Arada" um lugar caloroso para todos aqueles que desejam ser livres, de reinos, de tradições, livres para amar já que um taboo não verbal existe sobre relação entre espécies diferentes, algo que em sua mente nunca fez sentido já que todos são humanos nesse mundo.
Enquanto sua mente divaga o mago te guia para colocar os cavalos para não atrapalharem o trajeto da vila, a distância você vê o padeiro, Peeta Gale com sua esposa e filhos que lhe deram bastante trabalho correndo pelo bosque até a fazenda de sua família, são pestinhas adoráveis e melequentos, mais a distância é visível o pescador Willy voltando com sua carrocinha repleta de peixes, tem pessoas passando por toda parte, hoje parece ser um dia bem movimentado no vilarejo, mas o mago deixou bem claro durante o trajeto que antes de tudo vocês iriam ao xerife relatar o que aconteceu com a missão que o mago estava encarregado.
Em alguns segundos, vocês dois atravessam a vila e chegam até a porta da delegacia, o mago sem nenhum tipo de paciência, abre a porta com rapidez indo em direção a sala do xerife ignorando o ajudante George que parece desistir no meio do caminho quando percebe que é o mago que está indo, sem saber o que fazer você faz um sinal com as mãos pedindo desculpas para ele enquanto segue o vermelho que parece estar resmungando alguma coisa. Ao abrir a sala a visão que chega aos seus olhos é do xerife conversando algo com uma figura encapuzada que nunca havia sido vista por você, um elfo sentado em uma cadeira, com vestes pretas de caçador, coberto por um longo manto que cai sobre seus ombros com uma aljava contendo flechas negras em seu quadril e uma besta em suas costas, ele não parece tão surpreso quanto o xerife, um homem cheio, na meia idade com seus cabelos curtos castanhos perdendo a cor para um tom cinza, vestindo uma roupa simples com mangas brancas abaixo de um colete de couro com um distintivo com o símbolo da cidade escrito "Xerife" embaixo, um grande bigode e uma barba por fazer abrem em um sorriso ao ficarem seus olhos verde castanho em sua pessoa:
- GAROTO DA FAZENDA!
Ele se levanta da cadeira e te dá um dos abraços mais fortes que já teve em sua vida a ponto dos ossos em suas costas estralarem um pouco, o mago fica parado olhando a cena, sua resposta para o susto:
- É bom te ver também Sr. Gonzales.
Ele te solta do abraço e te olha de cima para baixo antes de te dar um soquinho no ombro:
- Ora niño, já disse que pode me chamar de Jenna! E olha só quem veio com você!
O xerife se vira para o mago que estava rindo silenciosamente da sua situação, sua expressão fecha quando percebe o que está prestes acontecer:
- Não, não, não...
- Venha cá GATITO!
Sem muito tempo para reação o mago tenta fugir de forma apressada do abraço mas acaba sendo apertado da mesma forma que você, a cena em si é cômica, mesmo que não tenha entendido o que a última palavra significa o que te faz pergunta quando Jenna solta o vermelho do abraço:
- Com licença senhor, mas... O que gatito significa?
Os dois se olham por alguns segundos, enquanto o xerife vai em direção a sua mesa o mago fala:
- Um apelido idiota.
- Que nada mi amigo! É um nome carioso vindo de minha terra natal.
Está informação era desconhecida, você sabia que ele não vinha da região mas não sabia que tinham uma lingua própria lá:
- Ah... É muito longe daqui? O lugar de onde o senhor veio.
- HA! Se fosse longe ainda estaria perto... Se algum dia estiver interessado em ir para lá, pegue um barco e navegue rumo ao Sul, talvez em três anos você chegue.
- TRÊS ANOS?
Ele cai na gargalhada ao ver sua expressão de total choque, o mago se senta na cadeira na frente da mesa do xerife, enquanto todo esse alvoroço acontecia o encapuzado saiu da cadeira e resolveu ficar escorado em um canto da sala olhando a cena de certa distância, após as risadas cessarem Jenna limpa algumas lágrimas de seus olhos e se recompõe um pouco em sua cadeira:
- Me desculpe mi amigos, adoro ver a cara de las pessonas quando falo isso... mas sossegue granjero o tempo que leva até minha terra não passa de um ano... de qualquer modo o que traz vocês a minha sala compadres?
Essa afirmação lhe acalmou um pouco mais do que o susto, o mago respira fundo e prepara para dizer:
- Resolvemos o problema.
- Qual problema exatamente?
- O dos goblins... que roubaram meu cajado ontem... um problema que era pra ter sido resolvido a mais de um mês não é mesmo Daara?
A figura no canto se desencosta da parede e caminha em direção ao mago, a expressão do xerife é como se essa desavença fosse algo recorrente:
- Por favor, não é motivo para citar nomes, eu...
- Deixa isso comigo Gonzales.
O encapuzado coloca sua mão contra mesa se inclinando próximo de Jahan, através da luz que sai da janela é possível ver o rosto do elfo com um cicatriz atravessando de uma ponta a outra sobre o nariz, outra em formato de x no lado direito de sua testa e uma atravessando seu olho esquerdo com um cabelo em cachos caindo um pouco sobre sua cabeça agora sem capuz e uma expressão com certa raiva:
- Eu sou um batedor e caçador, você não faz ideia da quantidade de território que eu tive que vasculhar para ter a cara de pau de me dizer isso faísquinha.
- Repita isso pra mim e talvez sobre alguma coisa para usar de cinzas, mestiço.
O Xerife dá um soco na mesa que faz os dois se afastarem um do outro, sua face mostra uma expressão de certa raiva para os dois enquanto se ergue da mesa:
- JAHAN ZARGO, EU NÃO QUERO OUVIR MAIS NENHUMA INSINUAÇÃO RACIAL NESTA CIDADE!O mago indireta a postura na cadeira e engole seco, se virando para o caçador com tom amargurado em sua voz:
- ENQUANTO A VOCÊ CAÇADOR DAARA! ESPERAVA UM EXEMPLO MELHOR VINDO DE VOCÊ COM NOSSO MAIS NOVO ENCARREGADO.O elfo olha para você com uma expressão de dúvida com curiosidade, os olhos dele são de mel, após alguns segundos processando a informação o caçador se recompõe em uma posição reta com o punho contra seu próprio peito indo para o canto dizendo:
- Sim, Senhor! Me desculpe senhor!
- Pelos CÉUS! Aprendam a trabalhar em conjunto por favor.
O gentil xerife parece lidar com essas discussões com tanta frequência que não parece aguentar mais, deve ser a primeira vez que você o vê gritar com alguém, ele coça um pouco os olhos respirando fundo para se acalmar, olha para sua direção e se recompõe:
- Desculpa-me pelo meu grito güero, mas essa rixa já durou muito para mim.
- Permissão para me retirar, senhor.
- Permissão concedida.
O caçador vai em direção a saída da sala, olha em sua direção e acena com a cabeça para você antes de sair de cena, alguns barulhos de conversa podem ser escutados antes do elfo fechar a porta. Retornando sua atenção para o xerife que parece estar organizando alguns papéis que acabaram sendo bagunçados pela intriga, Jahan então quebra o silêncio enquanto ele coloca seus óculos:
- Vim aqui por três motivos Xerife Gonzales, um deles é o pagamento pelo trabalho do nosso queridinho Daara.
Olhando por baixo dos seus óculos, a expressão do xerife quer dizer tudo sem que palavras sejam necessárias:
- Jahan...
- Okay, okay! A segunda coisa é para fazer o juramento do jovem aqui.
E aponta em sua direção, o xerife verifica se o comentário te ofendeu de alguma forma você faz um sinal para ignorar o fato dele te achar uma criança, Jenna coloca seus óculos de lado e se levanta da cadeira:
- Pois bem, isso é algo que podemos fazer de antemão.
Vai em sua direção fazendo sinal que ambos se levantem, os dois o fazem enquanto ele pega um livro com uma andorinha com um ramo de trigo na boca encima de um ancinho, o mago se posiciona atrás de sua pessoa enquanto o xerife a frente começa a dizer:
- Por favor güero, erga sua mão direita enquanto faço o juramento.
Seu próximo ato é de levantar sua mão como pedido, o xerife abre o livro passando algumas páginas e lê em voz alta:
- Você jura solenemente, na presença de uma testemunha confiável, dedicar sua vida ao povo desta vida e seguir adianta com nossos ideias para proteger os oprimidos contra aqueles que desejam causar mal ao nosso povo?
Imitando o gesto feito pelo caçador antes de sair de fechar sua mão fechada contra seu peito, você diz com convicção:
- Eu juro!
Os dois parecem surpresos com seu gesto, de uma forma positiva já que o xerife olha em sua direção com um sorriso no rosto:
- Muito bem niño! Agora chega de formalidades, preciso lhe entregar uma coisa.
O xerife caminha até sua mesa e parece procurar algo em sua gaveta, olhando para o mago que parece ter dado um pequeno sorriso pela sua reação durante o juramento apenas acena com a cabeça para que volte seus olhos para frente, de dentro da gaveta Jenna retira um distintivo com um brasão de uma andorinha com um trigo na boca sobre um ancinho e segura a sua frente esperando que você pegue:
- Bem vindo a nossa equipe güero.
Sua reação o faz pegar o distintivo com certa energia, hoje de fato é o dia que sua vida vai mudar para sempre, um sorriso percorre o seu rosto por isso estar finalmente acontecendo, você pega um pedaço mais sobressalente da parte superior de sua roupa e prende de forma meio torta pela ausência de espaço:
- Muito obrigado Xerife Gonzales, é uma honra fazer parte de...
Sua fala é interrompida por um barulho vindo de baixo, sua barriga está dizendo estar com bastante fome já que não tem comido nas últimas horas, os outros dois tentam segurar um pouco a risada, o mago fala:
- Bem lembrando... Xerife, será que poderia me entregar a próxima área para ser explorada antes de irmos almoçar? Aqueles goblins foram mais difíceis do que o esperado.
- Claro, claro Sr. Jahan.
Se segurando para rir, senta em sua cadeira e procura algo em sua pilha de papéis sobre a mesa, após alguns segundos ele diz "Achei!" e entrega um papel para o mago, que após ver o conteúdo pergunta:
- Qual o objetivo da missão?
- Explorar, adquirir e relatar qualquer coisa de importante na área demarcada no mapa.
- Daara, ou qualquer outro batedor foi lá para saber a estrutura que estamos lidando?
- Sim, trata-se de uma ruína do que parece ser um forte orc, não temos detalhes de que conflito mas parece envolver magia.
- Entendo.
- Com quem deseja realizar essa missão de busca?
- Com o novato.
Sua mente estava em outro lugar nesse momento, ignorando boa parte da conversa já que não estavam endereçando a sua pessoa, então foi uma surpresa ser citado do nada:
- Espera, o quê?
- Estou designando você para vir comigo nessa busca, loirinho.
Uma insegurança pesa sobre seus ombros, esse trabalho parece ter ficado bem mais perigoso do que o planejado, suas pernas tremem um pouco e sua voz sai com dificuldade:
- Mas.... mas... é uma ruína de guerra! Não acha melhor começar com algo mais simples que...
- Vou lhe interromper nesse momento chico... se Jahan acha que você está pronto para uma exploração desse nível, não irei intervir em sua escolha.
O xerife se vira para o mago e depois em sua direção com um olhar sincero:
- Confio nele, sei que você também irá aprender niño.
O mago que estava olhando em sua direção ao ouvir essas palavras se vira para Jenna e dá um sorriso, segue caminho até a porta, porém antes de sair da sala diz:
- Sempre um prazer revê-lo Jenna... Você vem novato?
- Sim senhor.
O mago sai de cena te deixando com xerife, como dito seguir o mago é uma boa ideia mas antes de sair seus olhos dão uma última olhada em Jenna que parece dizer com os olhos "Cuide bem dele" antes de você fechar a porta. Analisando com mais clareza na recepção da delegacia, na parede principal existe cartazes de procurados colocados em um grande quadro com alguns alfinetes pendurando, a maioria está sobreposta um sobre o outro, mais ao fundo tem a mesa de escrivaninha com algumas estantes encostadas na parede, com um grande quadro de um lago azul claro com montanhas ao redor, o caçador está conversando algo com George sobre algum assunto sério, por curiosidade você se aproxima um pouco para escutar melhor:
- Isso é loucura Daara!
- O que estou dizendo é verdade George... Estamos a beira de um ataque e precisamos...
- Você sabe o que o Xerife acha de forçar isso com a população.
- Ele tem medo de fazer o que é necessário isso sim...
Você pisa em uma tábua meio solta que faz barulho, sua reação é se tentar fingir que estava indo em direção a eles desde o início mas ainda consegue ouvir antes de Daara se virar:
- Merda, não fale nada disso com o novato...
- Okay, okay, eu não falo... Olá! Pera... Rafael?
Deve fazer alguns anos que você não sai de casa desde o incidente, porque esteve ocupado treinando, mas nunca se esqueceria de George Dália, um amigo de infância que sempre quis ajudar seu pai no trabalho de xerife, não lembrava dele ser tão alto, mas seus olhos castanhos escuro e suas sardas no rosto, continua com seu cabelo ruivo castanho curto e arrumado, mas agora veste um uniforme azul com o distintivo da vila em seu peito, sua reação é:
- George Dália!
Ele saí de trás da mesma e te dá um abraço, forte para um cara tão magro, que é retribuído por sua parte, você não é baixo mas seu amigo te faz parecer baixinho, o caçador fica de canto vendo a cena, quando te solta do abraço fala:
- A quanto tempo meu amigo.
- Fazem alguns anos Gegê.
Ele te dá um soco no braço com uma cara fechada depois ri um pouco o que também te faz rir:
- Não me chame assim no trabalho Rafas... Oh! Você conhece nosso caçador renomado Daara?
- Ah... Nunca fomos formalmente apresentados.
- Perfeito, não tem hora melhor que agora.
E vai te arrastando até a figura, vocês tem a mesma altura mas ele é definitivamente mais alto e com certeza mais ameaçador que sua pessoa, sua reação é estender a mão com um olho meio fechado torcendo para que ele não te dê um soco na cara. De repente você sente alguém segurando com força, seu primeiro pensamento é que vai levar uma na fuça, porém ele aperta sua mão segurando, abrindo os olhos o elfo está lhe cumprimentando:
- É um prazer conhecer você pessoalmente... Rafael né?
- Sim Rafael meu nome é... digo... Rafael conheço ele... digo... digo...
George te dá um pisão no pé para destravar a sua língua, dói um pouco mas te ajuda a voltar a falar normalmente e solta a mão do caçador:
- Uau... Sim, prazer te conhecer também Sr. Caçador.
- Sem motivos para formalidades... um amigo de George é meu amigo também, pode me chamar de Daara.
- Certo... Daara.
- Não seria melhor Daarazinho lindo das orelhinhas...
O caçador aperta o nariz de George com uma das mãos enquanto aproxima seu rosto com uma expressão séria:
- Não abuse da sorte...
E sussurra algo no ouvido de seu amigo antes de virar as costas e ir embora da delegacia, o nariz de George ficou meio vermelho pelo apertão, mas ainda acha graça o suficiente para dizer:
- Esse aí não joga conversa fora.
- Realmente.
- E então, faz seu tipo?
- Não sei... pera o quê?
- Ah, Rafas você sabe o que eu quis dizer
.Demorou alguns segundos até às engrenagens na sua cabeça rodarem, e de fato entender que raios Gegê quis dizer:
- Não... Ele? Não, não, não.
- Há por que não Rafas?
- Eu acabei de conhecer o cara! Sabe que não acredito nesse negócio de amor a primeira vista.
- Okay, okay, me convenceu. Talvez seu tipo seja mais... peludo?
Essa analogia realmente demorou para entrar em sua cabeça, quando percebeu o que ele quis dizer seu rosto fica vermelho com um tomate e dá um peteleco na cabeça de George que vai um pouco para trás pelo susto, talvez tenha sido com mais força que o planejado, enquanto ele coloca a mão na testa você diz:
- Desculpa George... eu vi para buscar a recompensa do caso dos goblins.
Após se recuperar da pancada, ele vai até sua mesa e olha com certa suspeita para você:
- Pensava que essa missão era do Daara.
- É eu fiquei sabendo, mas acontece que eu e o mago limpamos a área antes.
- Tô sabendo disso agora... mas tudo bem, acho justo receberem a recompensa por lidarem com aqueles pestinhas.
Ele abre uma das gavetas de sua mesa e retira uma sacola de moeda da mesa vem em sua direção e lhe entrega uma sacola relativamente cheia:- Mal chegou e já recebeu sua primeira recompensa, bom trabalho amigo.
- Obrigado George... agora vou ir almoçar, nos vemos por aí.
- Sim, até mais Rafas.
Você guarda seu novo saco de moedas em sua mochila, aperta a mão de seu amigo de longa data, vira de costas e sai em direção a taverna para encontrar o mago e mais importante de tudo, comer algo saboroso.
No meio do caminho, uma cena aparece em sua frente que te distrai da fome, uma faísca atrás de uma árvore, ao se aproximar uma figura familiar parece brincar com uma chama vinda da ponta de seus dedos de sua mão esquerda como uma espécie de truque, suspirando com um tom triste enquanto segura com sua mão direita o que parece ser um colar em formato circular a figura fala para si mesma:
- Você gostava tanto desse truque... o que eu não faria para te ver mais uma vez...
Sua presença é notada pela figura que se recompõe com rapidez enquanto esconde o colar e limpa seus olhos antes de começarem a lacrimejar, fingindo como se nada tivesse acontecido ele diz:
- Você demorou demais novato.
- Desculpa senhor, me distrai na saída... encontrei um velho amigo.
- Tá tá tá... só vamos almoçar logo, fiquei tempo demais aqui plantando para ficar jogando conversa fora.
Você assenti para que sigam caminho a taverna, como estava no meio do caminho não demora para chegar no local, quem não tem tempo para cozinhar em suas próprias residências costuma comer nesse lugar caloroso, viajantes, comerciantes ambulantes, e é claro, membros de Terra Arada. O exterior do lugar é modesto, algumas lamparinas apagadas para iluminar a noite, duas janelas separadas por uma porta dupla, um telhado triangular que divide ao meio, mesmo estando de frente dá para ver que o lugar possui dois andares.
Ao entra seu estômago parece falar mais alto que seu pensamento enquanto segue o mago, o que te faz dar pouca atenção as pessoas nas mesas ao redor, já o vermelho não parece estar com tanta pressa e parece cumprimenta algumas figuras, seguindo caminho até taberneiro que acena em sua direção ao paço que você puxa uma cadeira para sentar:
- Boa tarde, e seja bem vindo ao Pegada de Gigante! Como posso servi-lo?
- Boa tarde Wilhelm.
A taberneira parece surpreso pela nomeação de seu nome a ponto de parar de limpar um copo, com uma expressão confusa olha para sua direção, você não faz ideia do que pode ser a confusão, então pergunta:
- Que foi?
- Eu te conheço rapaz?
- Que tipo de pergunta é essa? É lógico que me conhece, e eu conheço você Wilhelm V. Marion.
- Então... Me esclareça por favor, porque eu sei e os céus sabem que nunca esqueço um rosto.
- Não é o caso mas... Tá bom, eu mostro.
Virando sua cabeça atrás de sua orelha, por baixo do cabelo, você mostra uma cicatriz bem antiga de um acidente em uma das entregas da fazenda para o vilarejo, olhando de volta para Wilhelm ela parece estar colocando os pontos nos "I" sobre o que acabou de ver, colocando o pano e o copo de lado, após alguns segundos diz:
- R-rafael?
- Sim..?
- É... você mesmo?
- Olha eu vim comer algo e provavelmente beber, então...Antes de terminar sua frase ela atravessa a mesa e te dá um abraço forte, não é reação que era esperado de alguém que te conhece a anos, mas você retribui e responde enquanto abraça:
- Nossa Willy... realmente sentiu minha falta né?
- Fazem quatro anos... idiota.
- Mandona.
Mais alguns momentos se passam até que os dois se soltam do abraço, ela se recompõe um pouco enquanto você senta novamente no banco, mas algo não sai de sua cabeça:
- Olha, eu sei que faz bastante tempo... que não nos vemos mas...
- Mas?
- Como não me reconheceu?
Ela para e começa a coçar o queixo, olhando com mais atenção sua amiga também parece bem diferente de sua memória, agora usa um avental marrom, dona de seu próprio estabelecimento, suas mechas brancas antes soltas agora presas em um coque, em suas mãos possuem calos e seus braços cicatrizes de cortes, mesmo estando em boa forma é algo preocupante, mas os olhos continuam com a cor de violetas, seus pensamentos são interrompidos quando Willy finalmente diz ao se apoia no bar:
- Não sei dizer Rafas... os seus olhos... eles continuam os mesmos e sei que é você... mas seu olhar é diferente... como...
- BOM DIA WILFRED!
Olhando para o lado você vê Jahan que parece estar meio zonzo cambaleando de um lado para o outro enquanto tenta sentar ao seu lado em um banco, a expressão de Wilhelm parece ter mudado completamente para um olhar mais sério com certa impaciência:- É Wilhelm ou Srta. Marion, e já passou de meio-dia Jahan.
- Calma calma minha flor... estamos entre amigos aqui... né não?
- Você andou bebendo com os Anarquios de novo?
- Porquê não ué? Eles são legais... e... e... adoram sua cerveja... Dona Marion.
- Pelo amor de... SAM E AXEL!
Olhando para trás você vê quatro figuras sentadas em uma mesa, um homem magro e baixinho de pé encima de uma cadeira, com bigode e cavanhaque e uma roupa preta de couro, e uma elfo de cabelos raspados do lado e ruivos encima, usando uma meia armadura com os pés encima da mesa, se viram para sua direção, o pequeno diz:
- O que foi Wilhelm?
- Olha o estado do Jahan... o que vocês fizeram dessa vez?
- Foi a mesma aposta de sempre... não faço ideia de como esse gato sempre acha que tem chance contra Zoey... não a chamam de filósofa da pinga por nada.
Colocando a mão sobre o rosto e respirando fundo para manter a calma, ela olha seriamente para o baixinho e diz em alto e bom som:
- A conta do que ele tiver bebido vai para vocês.
- Como sempre minha cara! Como sempre!
Todos na mesa levantam suas taças e gritam três vezes, "AAAHUUUUR!" como um bando de selvagens, as outras duas mesas parecem cair na risada com o grito de guerra deles, enquanto isso Wilhelm se senta atrás do bar passando a mão em sua própria testa em um suspiro de alívio, quando olha para você ela diz:
- Desculpa Rafas, quando conhecer as equipes vai ver que são pessoas legais... Muito barulhentas, mas fazem um bom trabalho e... PAGAM EM DIA NÃO É JAHAN?
Wilhelm dá um soco forte na mesa que faz acordar um mago apagado no balcão, o susto fez todo o pelo dele se arrepiar e sua calda e mãos travarem onde estivessem, não importa o que ele diga isso definitivamente são reflexos de um gato, recobrando a consciência após o susto, Jahan se vira para a taberneira, limpando a baba de sua face ele diz:
- Então... aconteceu de novo não é?
- Está é a terceira vez nesse mês que vai até eles e volta cambaleando de bêbado para o bar e apaga...
- Tá... E qual a novidade nisso?
- Bem, agora é no meio do dia ao invés de madrugada e... tem ele.
Olhando para sua direção, o mago parece tentar recobrar a consciência de quem é você, após alguns segundos ele diz:
- Gabriel né?
- É Rafael.
- Ah, que joia.
Ignorando o sarcasmo no tom usado pelo mago, você se vira para Wilhelm que já está preparando algumas bebidas por trás do balcão, fingindo uma tosse ela olha em sua direção e pergunta:
- Sim?
- Poderia nos dar o prato do dia Willy?
- Mas é claro! Hoje temos ensopado de Javali, uma iguaria para viajantes e um prato que enche bastante.
- Pode ser isso, obrigado.
- De nada Rafas... CORNELIUS!
Um jovem sai correndo da cozinha aí ouvir seu nome, aparenta ter em entre catorze a quinze anos, com mangas um pouco mais longas, uma gola mais aberta presa por fios, um pequeno avental com um bolso cobre uma calça marrom e botas de pano, a semelhança entre os dois é formidável mas ele parece bem mais incomodado em ter que vir até ela:
- O que é?
- Traga uma... duas porções da sopa... estou certa?
- Sim, exatamente Willy.
Ela assenti e manda o jovem de volta para cozinha, olhando para sua esquerda você vê Jahan tomando uma caneca de cerveja sua primeira reação é:
- Senhor, não acha que bebeu demais por um dia?
- Não ele...Wilhelm iria falar alguma coisa mas para quando vê o mago se virando lentamente em sua direção, olha para a caneca, para você de cima a baixo e de novo para a caneca, dá mais um gole e diz:
- Corta essa rapaz... minha maldição faz que meu metabolismo seja mais rápido que o normal.
- E o que isso quer dizer?
- Que ele não consegue ficar bêbado Rafas.
- Não por muito tempo... é uma porra ainda sofrer os efeitos da ressaca.
- Pois então beba mais água! A propósito Rafas... quer beber um pouco?
Ela coloca uma mecha que havia se soltado atrás da orelha novamente, está segurando duas canecas de cerveja e te oferece uma delas, você pega uma deles ignorando a alça e faz um brinde com sua amiga, os dois dão um belo gole nessa cerveja. O sabor é diferente do que você se lembrava, o sabor de cevada é mais forte do que aquelas biritinhas que Wilhelm trazia na encolha quando você e seus amigos eram mais novos, lhe traz boas memórias, olhando para sua amiga que pergunta para os dois:
- Então rapazes, enquanto esperamos o almoço de vocês... como se conheceram?
- Ah, eu salvei o rabo dele de uns goblins mais cedo.
O mago que tinha acabado de começar a beber, engasga com a afirmação e olha em sua direção, engolindo o que sobrou em sua boca fala com certo nervosismo:
- Não foi bem assim.
- Não brinca... sério que o Grandíssimo Jahan precisou de ajuda contra goblins?
A taberneira parece ter ficado realmente interessada no assunto a ponto de se apoiar no balcão do bar, o mago está definitivamente sem graça perante Willy, é só deixar queimar:
- Olha Wilhelm... foi uma situação inusitada com vários inimigos para lidar.
- Ah é mesmo?
- Sim... era no mínimo uns oito, com machados bem grandes e montados em javalis...
- Que história mais emocionante Jahan! E como Rafas ajudou você a derrotar essas bestas tão cruéis?
- Bem, o novato pode parecer inexperiente, desengonçado e pouco hábil com uma lâmina...
Agora foi o seu momento de engasgar com sua bebida, tudo bem exagerar na história, mas ofender já é demais:
- Pera aí, que por...
- Mas de fato... o garoto tem coragem de proteger os outros...
- Ah...
- Talvez seja o álcool falando... você tem futuro pivete.
- Obrigado, Jahan... significa muito vin...Ele te dá um peteleco na testa antes de você completar a frase, o susto te faz derramar um pouco de sua cerveja, colocando a mão em sua testa o mago diz:
- Não se acostume.
Acabou sendo pego de surpresa, mas compreendeu depois de tomar mais um gole, querendo mudar de assunto você pergunta:
- E o Cornelius? Tem dado muito trabalho?
- Ah, ele sempre acaba dormindo ou se distraído durante o trabalho, mas é um bom garoto.
- Ele é seu filho?
Wilhelm parece meio surpresa com a pergunta de Jahan, parece que ele não conhece sobre a vida pessoal dela tão bem assim, um pouco estonteada pela afirmação ela toma mais um gole e responde:
- Quem ele? Não... ele... é meu irmão mais novo, tenho que cuidar dele para que não faça besteira.
- Você que tem cuidar dele? São só vocês?
- Não, tenho outro irmão mais velho chamado Theo... minha mãe me deixou esse bar e nosso pai... vejam só a comida de vocês chegou gente.
Olhando para o lado é possível ver Cornelius colocando duas tigelas de ensopado na frente dos dois clientes, o menino tem cabelos cinzas, olheiras por baixo de um olhar sonolento, um corpo menor que o seu e mais esquio, a cor de seus olhos é uma mescla entre vermelho e rosa com um topete bagunçado com mechas até sua nuca, ele é dispensando pela irmã após terminar o serviço. O assunto sobre o pai de Willy realmente parece ter deixado ela sem jeito, para concertar o que Jahan fez você dá uma cotovelada nele, o mesmo solta um pequeno grito de dor olhando para sua direção confuso, tentando dizer com os olhos sobre o que ele disse para ela foi ofensivo, o mago assenti diz o que parece ter entendido:
- Olha Wilf.. Wilhelm.
- Sim?
- Sobre o negócio dos seus pais... eles fizeram uma puta cagada te deixando... e eu sinto muito por isso.
- Oh... eu, acho que tem uma mesa me chamando... Obrigada!
Ela sai de cena com rapidez de forma meio desajeitada pela lateral do balcão e vai até uma mesa fora de vista tentando esconder seu rosto, você tem a impressão que ela ficou corada, olhando novamente para Jahan está com a mão no rosto resmungando:
- Agora fodeu de vez...
- O que foi?
- Porque diabos você me fez pedir desculpas? Viu o que ela acabou de fazer?
- Você estava sendo grosseiro, não se pergunta para alguém coisas tão pessoais assim do nada.
- Que se foda, o problema é ela estar com raiva de mim.
- Ela não ficou com raiva de você...
- Então qual a explicação engraçadinho?
- Ela ficou envergonhada com seus pedido de desculpas.
- E isso quer dizer?
- Ela gostou do que você fez... só achou inesperado e provavelmente não sabia como reagir.
- Oh...Um silêncio constrangedor toma o ar do balcão, sem ter mais o que falar os dois começam a comer em silêncio, ouvindo barulhos de fundo você olha para trás e percebe os grupos de pessoas conversando nas mesas e cutuca o mago para que se aproxime:
- Que foi rapaz? Eu tô comendo.
- Pode me explicar quem é quem nesse lugar?
- Duas coisas: você não disse a palavra mágica; e eu não tô afim.
- Por favor, pode me dizer pelo menos os nomes das equipes?
- Ah, por mil demônios... tá bom.
O mago dá mais uma colherada no ensopado antes de se virar na cadeira, limpando um pouco o molho em seu bigode enquanto toma um gole de sua caneca, ele começa:
- O da mesa mais à esquerda são os Maléficos, grupo de mercenários com uma tendência a escolherem o prático e benefício próprio as leis regidas aos humanos.
Ele toma mais um gole profundo, analisando a mesa você vê um homem com olhos azuis brilhantes, uma grande cicatriz na lateral direita de sua face, uma barba robusta e uma armadura pesada, uma homem menor com tranças douradas a frente e atrás usando um vestido verde, uma elfo com símbolos ritualísticos brancos do seu nariz até suas orelhas com uma crescente invertida em sua testa, duas traças caindo nas laterais de um cabelo preso em tranças, com uma armadura com aparência mágica, um homem baixo cor uma barba arrumada acompanhada de um bigode ressaltado, com cabelo preso usando uma meia armadura brilhante. Jahan parece ter se desinteressado e voltou a comer seu prato, de costas apontado para sua direita ele diz:
- Não faço ideia do que você pode achar tão interessante neles, mas aquele grupo ali são uma cambada de arrombados.
- Porque diz isso?
- Porquê? Eles são conhecidos como Raivosos por uma razão, os desgraçados são assassinos de aluguel do pior tipo... barato.
- Vish... e porque eles estão aqui?
- Bem, no nosso tipo de situação sempre vale a pena a calhar esse tipo de gente.
Olhando com mais clareza você pega sua tigela e começa a comer apoiado contra o balcão olhando o que estão fazendo, ao que parece são quatro figuras sendo dois elfos e um homem e um orc brincando de arremessar facas em um alvo, o pequeno homem possui um enorme machado dourado nas costas, desviando um pouco o olhar, mais ao fundo você vê quanto figuras bebendo silenciosamente sendo servidos por Wilhelm:
- E quem são aqueles lá no fundo?
- Eles quem?- Dois orcs, um elfo e uma mulher baixinha.
- Ah, são os Verhun.
- Quem?
- São uma família da região que chegou a alguns meses, os orcs são filhos daquele elfo safado... não acredito que ganhou naquele jogo de cartas.
- Okay, e a pequena?
- Nova esposa... bardozinho tem lábia, não posso negar isso.
- Oh... e é claro seus amigos, Anarquios né?
- Exato, agora vê se me deixa comer em paz.
Se o mago não tivesse lhe dito, não descobriria sozinho que aqueles tinham o mesmo sangue, enquanto você terminar de comer dá uma última olhada antes de se sentar virado ao balcão. Olhando para os Anarquios é visível algo bem óbvio em Axel, suas tatuagens tribais brilham e parecem estar espalhadas por todo seu corpo, ainda tem uma mulher com uma tinta de guerra que cobre seus olhos e sobrancelhas no formato de aranha, seu cabelo é raspado dos lados com uma trança na parte de cima que vai até a nuca, o elfo tem tatuagem com formatos semicircular saindo dos cantos dos dois olhos, se virando para Jahan e voltando sua visão para sua cerveja, uma pergunta sai de sua boca:
- Qual o nome dos outros dois?
- Se estiver falando dos Anarquios, o elfo é Clotrius e a mulher é Zoey... agora não pergunte o nome do resto.
- Porquê você não sabe?
- Porque tô pouco me fodendo pra eles.
- Oh... okay então.
Alguns minutos se passam e os dois terminam suas respectivas tigelas e canecas, nesse meio tempo Wilhelm acenou para vocês algumas vezes enquanto trabalhava, se levantando da cadeira você pega cinco moedas de ouro e coloca sobre o balcão, o mago também faz o mesmo, vai em direção aos Anarquios e cumprimenta cada um separadamente enquanto seu caminho te leva até a porta, ele levanta Zoey nos braços com um abraço que a mesma retribui, faz um soco com Axel que retribui, aperta a mão e se curva de maneira exagerada para Clotrius que parece levar na brincadeira, e por fim dá as mãos com Sam e os dois se dão uma cabeçada, a sequência de acontecimentos chega a te fazer rir, essa cena inteira durou mais alguns segundos o que foi tempo suficiente para você se despedir de Willy com um forte abraço e um tchau ao longe para Cornelius.
Os dois saem da taberna bem alimentados, olhando para o Sol parece ser umas três da tarde, sem ter muito mais o que dizer vocês seguem até onde deixaram suas montarias, tirando eles do estábulo uma pergunta passa em sua mente antes que suas pernas deixem a cidade:
- Ah... Sr. Zargo.
- O que foi?
- Qual o objetivo da missão exatamente? Não acho que acabei pegando essa parte direito.
- Olha, as missões sempre acabam com um objetivo diferente do planejado, mas em geral é busca e coleta.
- Busca e... somos saqueadores?
- Quê? Nanananão, se está abandonado ou devastado, não tem dono.
- Olha... isso faz sentido.
- É claro que faz, vamos indo.
Então os dois seguem o caminho para fora da cidade pacata cheia de memórias e amizades, sempre é um prazer ver as plantas, as pessoas e os animais que fazem essa vila ser tão especial.

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