Dez meses antes

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O homem bufou cansado, encarando o exame em suas mãos.
Faziam dois meses que as quimioterapias haviam sido iniciadas e os glóbulos da paciente não haviam tido tanta diferença.

O diagnóstico de Zoe continuava a piorar, mesmo tomando todas as medicações receitadas por ele.
Algo estava acontecendo e ele estava disposto a descobrir.

Guardou os documentos novamente em seu prontuário, passando a levantar-se de sua mesa e passando a vestir seu casaco, encerrando seu expediente e seu plantão.

Um longo trovão rasgou os céus, anunciando a chuva que chegou em seguida, forte, impetuosa.

— Dominic!— a voz conhecida o chamou, enquanto corria afobada pelo corredor.

O médico trancou sua porta, guardando a chave em seu bolso, antes de virar-se para a sobrinha.
Percebeu os olhos preocupados de Amélia e temeu o pior.

— O que aconteceu?— o médico perguntou preocupado.

— Aya ligou! Disse que Zoe saiu de casa hoje a tarde e não voltou ainda. Não há notícias dela na editoria. Ela desapareceu!— Amélia suspirou preocupada, parando diante do tio, que a encarava estático.

O homem passou a correr por entre os corredores, sendo seguido pela mulher.

— Ligue para Aya. Fale para ela não sair de casa e me manter informado caso Zoe volte.— Dominic cerrou os dentes, sentindo o coração tamborilar, alto, frenético.

Onde Zoe estava?
Não estava disposto a perder sua Zoe.
Estava pensando nela como sua, sem bem mesmo tê-la.
Sentiu o medo atingir seu corpo assim que encarou a rua encharcada pela chuva fria, que caia sobre seus ombros.

Sentiu-se afogado, de alguma forma.
Não sabia o que fazer, muito menos para onde ir, mas entendia que precisava se mover.

Seguiu a passos largos o caminho que sempre fazia para ir para casa, que coincidentemente era o mesmo que a mulher fazia.
Uma luz pareceu brilhar em seus olhos emchergando a mulher de cabelos negros próximo ao viaduto.

O corpo magro foi iluminado pelos farois de uma carreta que passava mais embaixo.

Zoe apertou com força o guarda-chuva.
Em sua mente passeava as inúmeras possibilidades de como atirar seu corpo daquela altura e encontrar o chão distante.
Sua mente lhe traia, encontrando mais e mais formas de acabar com a sua vida.

— ...oe!— a voz surgiu como a um murmúrio. — Zoe!— o homem gritou mais uma vez em plenos pulmões, enquanto se aproximava correndo.

— Dominic? O que faz aqui?— a mulher perguntou atônita, apertando a mão no cabo do guarda-chuva.

O homem parou diante de seus olhos tentando ao máximo recuperar o fôlego.
Seus pulmões queimavam pela falta de ar.

— O que pensa que fazendo?— Dominic cerrou os dentes com força, encarando a mulher franzir os lábios.

— Não é o que você está pensando!— a mulher tentou refutar ao observar o homem parar diante de seus olhos.

— O que eu estou pensando?— o homem soou irritado, passando a mão pelo rosto molhado.

— Não estou aqui pra me matar, Dominic!— a morena soou rude, desviando os olhos do homem.

— Então porque deixou sua irmã sem notícias dês de a tarde?— o médico franziu o cenho.— Sabe o quanto estou preocupado? Perdeu o juízo mulher!— Dominic finalmente gritou, alto, irritado.

— Você não tem o direito de gritar comigo! Você é apenas meu médico! Não devia se intrometer na minha vida!— Zoe rebateu, no mesmo tom.

— Talvez eu deva, porque eu sou o otario que tentando salvar ela!— Dominic cerrou os dentes novamente.

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