A mulher abriu os olhos por conta da claridade, observando o rosto másculo do homem ao seu lado.
Estava feliz por ter Dominic a seu lado e mais feliz ainda por ele a amar.Suspirou contida, enquanto tocava a maxilar marcada, ouvindo o homem respirar calmamente.
Não entendia dês de que ponto havia se tornado aquilo que eram, nem mesmo ela sabia o que eram, porém queria apenas continuar, da mesma forma.Tratou de levantar-se antes que pudesse acorda-lo, tratando de fazer sua higiêne.
Demorou longamente no banho, lavando os cabelos com atenção, até que sentiu o grande tufo de fios escorrer por entre seus dedos, caindo ao chão.
Voltou os olhos para o piso da cor clara e gritou alto ao ver a quantidade exagerada de fios negros de seu cabelo junto ao chão.Desligou o chuveiro, enrolando-se em uma toalha, caminhando rapidamente em frente ao espelho, observou com atenção as grandes falhas.
Tomou uma escova em mãos e a percorreu por entre os fios.
Quando finalmente afastou-a, sentiu o choro formar-se em sua garganta.Seus cabelos estavam caindo e ela sabia que era por conta da quimioterapia.
— Zoe?!—Dominic a chamou preocupado, após acordar assustado com o grito da mulher.
O homem bateu na porta de forma respeitosa antes de abri-la e observar a mulher diante do espelho, chorosa.Caminhou até a mesma, tocando seus ombros, enquanto observava o rosto em lágrimas e os dedos apertando a grande quantidade de tufos de cabelo.
— Eu quero raspar a cabeça, Dom!— Zoe suspirou com certeza, observando os olhos firmes do homem por entre os espelho.
— Você tem certeza?— o homem perguntou, um tanto melancólico, observando a mulher diante de seus olhos.
—Tenho. Mas quero que Aya faça isso por mim!— ela pediu, sentindo o corpo ser abraçado pelo homem.
Já era vergonha demais acordar daquela maneira.
Não iria querer ver Dominic raspar seu cabelo.Após o almoço, Zoe convocou a irmã para casa, como um soldado obrigado a voltar ao servidor militar.
Por um lado Aya entendia o motivo de sua irmã estar mais sensível.
Sua família sempre valorizou os cabelos negros, escorridos, longos.A mulher apareceu no apartamento com uma pequena maleta, seguindo em direção ao banheiro.
Zoe respirou fundo, sentando-se na pequena cadeira em frente ao espelho.
Olhou pela última vez seus longos fios negros, que seus ancestrais julgavam ser a honra de uma mulher.Nunca havia sido apegada a seu cabelo, no entanto, dês de que iniciou a quimioterapia, sabia que teria que raspa-lo, fazendo-a criar um apreço maior por ele.
— Tem certeza?— Aya perguntou preocupada ao encarar o rosto pálido da irmã pelo espelho.
— Se não for agora, será depois. Acabe logo com isso!— Zoe pediu com um suspiro, voltando os olhos para suas mãos, diante de seu colo.
Aya tomou uma tesoura própria para corte de cabelo, tomando a primeira mecha negra nas mãos.
— Você não quer cortar a primeira mecha?— a morena mais nova sugeriu, estendendo a tessoura para a irmã.
Já em lágrimas, Zoe tomou a tesoura em mãos, encarando a irmã pelo reflexo.
Respirou fundo, colocando a mecha de cabelo entre as lâminas da tesoura, cortando-a por fim.— Termine logo com isso!— Zoe pediu com um suspiro, voltando a encarar suas mãos sobre seu colo.
Não demorou muito para que ouvisse o som alto da maquina envolver seus ouvidos e menos tempo ainda para senti-la invadir seus cabelos.
Os fios caiam aos montes sobre a toalha nas costas da morena.
Os tufos passaram a cobrir o chão, ao passo que Zoe sentia a cabeça mais leve e o coração mais pesado e melancólico.— Estou acabando, aquente mais um pouco.— Aya suspirou, permitindo que algumas lágrimas causem por seu rosto.
Havia finalmente percebido que sua irmã já não parecia tão forte quanto antes.
A mulher que sempre julgou ser indestrutível estava caindo lentamente, junto aos fios de seu cabelo.Sua infância inteira, havia acreditado que não conseguiria suportar as críticas como sua irmã suportou.
Eram as duas únicas filhas de um casal oriental, cuja tradição era casar as filhas o mais rápido possível para que não emvergonhassr a família.
Zoe, a mais velha, havia enfrentado o pai com todas as forças, decidida a seguir sua faculdade de letras e tornando assim a maior vergonha da família, sendo uma escritóra de renome.Aya pensava que nunca conseguiria ser como a irmã e a agradecia em silêncio por ter lhe dado esperança de seguir um caminho diferente do que havia sido imposto pelo pai.
Lá estava ela, livrando a irmã da maior representatividade de honra de uma mulher de sua origem.
Divorciada, lutando contra um mal que pode sucumbir seus ossos.— Pare de chorar!— Zoe pediu, voltando os olhos para o espelho, observando o rosto sem os longos fios negros que a seguiam dês dos quinze anos.
Retirou a toalha lentamente, ainda fitando os próprios olhos pelo espelho.
Perceber estar mais pálida que o normal.
Suas sobrancelhas estavam por fazer e sem todo aquele cabelo, deduziu estar mais magra do que deveria.Observou por fim a irmã com uma das mãos estendida com uma tesoura, enquanto a outra segurava seu rabo de cavalo, recém cortado, enquanto os fios negros de Aya alcançavam as orelhas, permanecendo ainda sorrindo para a mais velha.
— Você não fez isso?!— Zoe sentiu as lágrimas caírem por seu rosto, quentes.
— Fiz sim! Por você! Você abriu caminho pra mim. Tudo que posso fazer hoje foi graças a você. Graças ao seu esforço, eu conheci o mundo por meus próprios olhos. Isso...— ela levantou os cabelos presos ao pequeno elástico.— Não é nada comparado ao que você fez por mim.— Aya suspirou, enxugando as próprias lágrimas.
Não demorou para que Zoe a envolvesse nós braços, embalando seu sono.
— Passamos por muito, Aya. Você tem que ser forte por nós duas agora!— a mais velha murmurou próximo ao ouvido da irmã.
— Eu sei, mas acho que não consigo.— Aya soluçou alto.
— Só vai saber fazendo. Eu preciso de você agora.— Zoe balbuciou junto a suas lágrimas.
Ambas permaneceram juntas, unidas.
Talvez pudesse ser a última vez.|
Zoe cruzou a cozinha em busca de Dominic, que pelo que parecia estava fazendo o café da tarde.
Ela respirou fundo e atravessou o corredor, surpreendendo-se com o que seus olhos viram.— Dom!?— sua voz saiu como a um murmúrio ao ver o homem completamente careca.
Não conseguiu segurar as lágrimas e chorou.
Sentia um misto de sentimentos em seu peito.
Não sabia ser alívio, ou dor, ou culpa.
Tudo que ela fazia parecia impactar ainda mais todos ao seu redor.
Não queria ser um fardo, mas algo a fazia sentir-se assim.O homem aproximou-se, tocando o rosto da mulher, acariciando a cabeça com os cabelos recém cortados.
— Ahh, Minha Zoe, achou mesmo que eu deixaria você passar por isso sozinha?— o médico suspirou, unindo seu corpo ao da morena, que chorava, alto, soluçando.
— Não precisava disso, mas você fica lindo careca!— Zoe murmurou, afastando-se para observar o rosto de Dominic.
— Não tanto quanto você! Estou vendo que não sairemos desse apartamento desse jeito!— Dominic balbuciou próximo ao ouvido de Zoe.
— Não seja tão pervertido, Dom!— a morena sorri, afastando-se do corpo do homem. — Obrigada por tudo. — Zoe murmurou.
— Pare. Não faça isso parecer uma despedida. Se quer me agradecer, lave a louça depois do café!— Dominic gargalhou, tomando sua mão, puxando-a para próximo ao balcão, o de dispunha o café.
Seu trabalho era fazer o possível para que Zoe não sentisse a tensão que ele mesmo carregava em seu corpo.
Naquela manhã havia recebido um relatório completo do tratamento de Zoe e o resultado estava o assustando e o irritando, porém não queria preocupa-la.
Seria pedir muito para que Zoe continuasse a lutar, mesmo com a quimioterapia sendo inútil em seu caso.
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Além dessa Vida
Storie d'amoreApós completar cinco anos de casada, Zoe recebe a notícia de uma traição e junto o pior de diagnóstico. Decidida a mudar de vida e viver intensamente, não vai medir esforços para conseguir o que quer e nem mesmo Dominic poderá impedi-la.