Unidos pelo Mar

Capítulo 6 - Atrás de um sonho

O continente era a última coisa que Shouji queria ver, mas em poucas semanas ele apareceu à distância. A contragosto, ele encheu os pulmões e gritou do cesto de observação:

- TERRA À VISTA!

Todos imediatamente pararam o que estavam fazendo e correram para a direção indicada pelo gigante, inclusive Tokoyami. Inclinado sobre a amurada, ele se virou procurando por Shouji e sorriu radiante. O homem automaticamente acenou com a cabeça, mas seu coração foi amassado como uma folha de papel descartado.

Eles encontraram um lugar discreto para ancorar o navio, e após uma breve análise dos suprimentos - dada orgulhosamente por Tokoyami, juntamente com Sero e Ashido, os últimos que o ajudaram com a limpeza -, o capitão deu incumbências a cada um, e eles tiraram na sorte quem iria e quem ficaria.

A careta que Bakugou fez ao perceber que Kirishima ficaria no navio enquanto ele sairia para a cidade foi cômica, mas Shouji não achou divertido sofrer de um destino semelhante - ainda assim, Sero, Ashido e Kaminari não conseguiram conter a zoação e foram praticamente perseguidos pelo capitão por toda a costa.

Enquanto observava Tokoyami se afastar do navio ao lado de Ojiro, Hagakure e Aoyama, todos excitados com as possibilidades da cidadela, Shouji teve aquela sensação de despedida, e não ajudou quando o homem-pássaro olhou para trás uma última vez.

- Ei, Shouji. - Kirishima o chamou depois que perderam a tripulação de vista. - Quer lutar um pouco?

O gigante assentiu, distante. Ele tinha uma relação de amor e ódio com disputas físicas, mas talvez aquela fosse uma boa forma de ocupar sua mente com outra coisa que não fosse Tokoyami e o curto tempo que eles ainda teriam juntos.

Assim como Shouji, Kirishima era um lutador de curta distância e sabia se aproximar rapidamente e dar golpes precisos com seus punhos endurecidos. O gigante não era veloz o suficiente para desviar da maioria dos ataques, mas era resistente demais para cair facilmente, e suas múltiplas mãos davam maiores chances de agarrar seu oponente e imobilizá-lo. Ele tinha aprendido algumas coisas com o imediato e com Ojiro. Mesmo assim, não estava nem perto de ser páreo para qualquer um dos dois. Então não foi surpresa ser derrotado cinco vezes seguidas, apesar de ter persistido bastante.

- Você está bem melhor que antes. - O ruivo o elogiou quando finalmente decidiram parar, e se sentaram à sombra da cabine.

- Obrigado. - Shouji falou por educação.

Ambos estavam suados e ofegantes, e embora tivessem energia para continuarem, era melhor que não gastassem tudo com amistosos. Apesar do sol quente, a brisa marítima amenizava o calor, e as ondas contra a costa faziam uma ótima música de fundo. Shouji gostava daquele clima pacífico e relaxante. Ele só queria poder ignorar o quanto o balanço da embarcação o deixava desconfortável.

- Tokoyami contou como ele planeja voltar pra casa? - Kirishima perguntou de repente, com um tom de verdadeira preocupação na voz jovial.

Shouji alisou sua franja branca, antes de falar comedido:

- Ele não entrou em detalhes comigo, mas disse que vai tentar conseguir ajuda com a Marinha local. Ele disse que sua família está envolvida com o comércio marítimo, então ele tem esperança de que os marinheiros possam trazer ou levar notícias dele.

- Entendo. É uma pena que ele não confie muito em nós. Seria legal tê-lo conosco até chegarmos à terra natal dele, seja lá onde for. Mas não é como se eu pudesse culpá-lo. Não é senso comum confiar em piratas, afinal de contas. - O imediato sorriu tristemente.

Shouji concordou. Ele também entendia toda a cautela de Tokoyami, mas ainda se frustrava por não ter sua confiança. Mesmo com todo o tempo que passaram juntos, mesmo com tudo o que o gigante tinha confessado para ele, Tokoyami ainda parecia esconder sua vida dele. Seu único consolo era ver nos olhos do outro como isso também era frustrante para ele.