Capítulo 3 - Conversa sob as estrelas

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Pouco tempo depois do entardecer, a tripulação começou a seguir para os dormitórios. Eles tinham três, bastante simples e com confortáveis colchões - obviamente roubados de outros navios - jogados no chão. No canto perto da porta havia alguns baús com os pertences pessoais deles. Tokoyami foi colocado no mesmo quarto que Ojiro e Aoyama, e uma caixa extra foi colocada no cômodo para guardar as roupas que os outros dividiram com ele.

Shouji, porém, geralmente não dormia nos quartos, a menos que o tempo estivesse ruim. Desde o começo da sua jornada, ele pegou gosto por dormir no convés, estendendo um colchonete embaixo da escada que levava para a cabine e aproveitando o ar fresco da noite e o céu estrelado para relaxar. Não era o melhor lugar do mundo, mas, pelo menos, não era claustrofóbico, e ele conseguia algum descanso decente, melhor que nos dormitórios.

Seu sono foi interrompido em algum momento pelo som de uma porta sendo aberta com urgência. Apesar de surpreendido, Shouji permaneceu estático, apenas transformando um par de braços em olhos e um par em ouvidos, para ver o que se passava. Com a luz das estrelas e da lua crescente, ele não demorou a reconhecer o rapaz pequeno que tinha se apoiado em um dos mastros.

O gigante aguardou por um momento para ver se ele estava tramando alguma coisa, mas tudo o que captou foi uma respiração vacilante e algumas fungadas. Então o homem-pássaro se afastou do mastro e caminhou até a borda do navio, onde se debruçou sobre a amurada e ficou por um tempo.

Shouji quis consolá-lo, mas ele sabia que nem todos apreciavam aquele tipo de coisa, então preferiu ficar quieto, até perceber que o outro não voltaria para o dormitório. Só então ele decidiu se levantar e se aproximar.

- Tokoyami?

O menor se virou sobressaltado, e Shouji foi jogado pra trás com um forte tapa de Dark Shadow, caindo no chão pesadamente.

- Oh, droga! - O homem-pássaro xingou, percebendo o que fez.

Shouji arregalou os olhos diante da individualidade viva, que estava à frente de seu hospedeiro, grande e ameaçadora e com um par de garras prontas para dilacerá-lo assim que recebesse uma ordem de Tokoyami.

- Está tudo bem, Dark Shadow. Retorne agora. - O menor comandou tentando soar firme.

A sombra o encarou de soslaio, e seu dono reforçou:

- Eu já disse que está tudo bem. Entre!

Dark Shadow grunhiu, mas desapareceu para dentro de seu hospedeiro. Tokoyami, por sua vez, respirou vacilante e imediatamente se curvou.

- Perdoe-me, Shouji. Não era minha intenção te atacar. Pensei que estava sozinho aqui. Me esqueci completamente que você estava dormindo do lado de fora. Eu sinto muito, muito mesmo.

- Está tudo bem. - Shouji conseguiu dizer, finalmente se recuperando do choque e se levantando. - Foi culpa minha por aparecer tão de repente. Eu não queria te assustar.

- ... Me desculpe.

- Tudo bem... Você está bem?

- Estou, só... Perdi o sono.

Um silêncio desconfortável ficou entre eles, e Shouji olhou ao redor, tentando descobrir o que dizer ou fazer.

- Você quer ficar sozinho? - Ele acabou perguntando, alisando sua franja branca nervosamente.

Tokoyami demorou para responder, encarando o oceano melancolicamente, então negou, quase imperceptível. Mas Shouji notou e teve uma ideia:

- Vem comigo.

Ele foi até o mastro principal e começou a subir pela escada de corda. Tokoyami o observou um pouco desconcertado.

- Você não precisa se preocupar comigo. Pode voltar a dormir. Também voltarei quando conseguir acalmar minha mente.

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