𝟓

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SOFIA MANZUR
point of view

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Eu estava sobrecarregada.

O aviso de corte da energia elétrica tinha chegado naquela tarde e eu não tinha ideia do que fazer. Estava atolada em dívidas e empréstimos estudantis que eu só seria capaz de pagar com um milagre divino. Mesmo estagiando e ganhando um pouco por fora, ainda não era o bastante.

Mas tudo bem. Eu precisava acreditar que era só um momento ruim.

Tentei não parecer uma escrota durante a festa inteira, enfiando todos os tipos de batidas possíveis na minha goela (para esquecer do mar de merda em que eu tinha me metido). Morango, abacaxi, manga... Não importava. Elas não tinham álcool, de qualquer forma. Observei a faixa de "bem-vindo de volta" estendida na porta do chateau enquanto John B., Sarah, JJ e Kie cantavam High School Musical no karaokê. Rafe poderia ser um filho da puta na maioria das vezes, mas ele era inquestionavelmente muito amado.

Isso era meio fofo — da parte da galera, não dele.

— Sof? — Cleo me cutucou com o cotovelo. — Pega outra batida para mim? — e estendeu o copo na minha direção.

— Meu Deus, você é muito preguiçosa — resmunguei.

— Por favorzinho — pediu, fazendo biquinho.

Revirei os olhos, levantando do sofá.

— Tudo bem — respondi. — Mas só porque ninguém resiste ao seu biquinho.

— Que história é essa? — Pope perguntou, fingindo ciúmes ao se aproximar e deitar no colo da namorada.

— Ei, eu ainda vou sentar aí! — reclamei enquanto subia as escadas sem olhar para frente.

— Sinto muito — ele gritou de volta. — Ninguém toma o meu lugar, Manzur!

Entrei no chateau com um sorriso leve nos lábios. Eu conhecia os meninos por algumas vezes em que nos esbarramos na casa dos Cameron antes de eu ser oficialmente contratada como a enfermeira do Rafe. Gostava da forma como eles eram capazes de deixar qualquer ambiente mais leve. Isso era importante, em especial para Rafe. Apesar de tê-lo visto crescer, eu nunca tinha sido de fato próxima dele — exceto pelos anos em que nos odiamos mortalmente — mas, durante o trabalho na clínica, eu conheci outros dependentes químicos e isso era o bastante para reconhecer a importância de uma rede de apoio... Até para um tremendo babaca.

E, Deus, conviver com Rafe Cameron me fazia xingar tanto.

Dentro da cozinha preparei duas batidas, uma para Cleo — de morango — e outra para mim — de abacaxi. Quando terminei, limpei a bancada com um pano molhado e segurei os dois copos, fazendo um malabarismo absurdo para conseguir abrir a porta.

Foi quando eu genuinamente acreditei que, em vidas passadas, eu tinha atropelado uma idosa. Não era normal ser tão azarada. A porta abriu antes do tempo, batendo bem na minha testa, e as duas bebidas viraram em cima do meu vestido.

— Porra! — xinguei, olhando para as minhas pernas ensopadas.

Meu tênis branco, de repente ficou todo colorido.

— Jesus, Sofia, você é burra? — Rafe perguntou.

Eu sou burra? — esbravejei. — Você simplesmente empurrou a porra da porta sem bater.

Levei a mão até a minha testa, bem onde a porta tinha batido. O lugar latejava mas, por um milagre, não havia sangue.

— Ah, agora eu preciso bater para entrar na cozinha? Não fode. Olha por onde você anda e você não toma um banho de bebida. É bem simples.

Rafe poderia estar rodeado por pogues, mas ainda tinha a arrogância de um kook. Por isso, eu o odiava. Mesmo estando errado, a sua postura se mantinha firme e a mandíbula, travada. Eu queria poder dar um soco nele sem quebrar a mão — ou sem ser demitida — por todas as vezes em que ele me tirou do sério.

— Sério, cara, é tão difícil para você pedir desculpas? — resmunguei, aumentando o tom de voz. — É tão difícil assumir as próprias merdas?

Eu estava no meu limite.

— É, Sofia, porque eu com certeza abri a porta da cozinha com o único intuito de te dar um banho de ponche — respondeu, rude e sarcástico.

— Eu não duvido — rebati, dando de ombros. — Essa é a única forma que você consegue deixar uma mulher molhada. Deve massagear o seu ego.

Rafe parou por um momento, me analisando. Meu sangue fervia de raiva e eu sabia, estava perfeitamente ciente, de que para ferir o seu ego bastava questionar a fama de cafajeste que esbanjava. Achei que ele fosse gritar comigo mas, ao invés disso, Rafe inclinou a cabeça para trás e abriu um sorriso irônico e hostil — que eu absolutamente não poderia chamar de feio.

— Então vai ser assim? — perguntou, voltando-se para mim.

Estávamos tão próximos que eu poderia facilmente dar uma joelhada no saco dele. Não foi o que eu fiz, infelizmente.

— Agora você vai começar a falar da minha vida sexual? — ele riu. — Por quê? Está curiosa para saber como eu sou na cama?

Ergui o rosto, sem vacilar por um segundo sequer.

— Sério, Rafe? — eu ri. — Sinto muito por frustrar os teus sonhos, mas eu não estou passando necessidade.

Sua respiração fez cócegas nas minhas bochechas quando ele se curvou e disse:

— Que bom, porque eu também não faço caridade.

𝐈𝐍𝐄𝐑𝐓𝐈𝐀, rafe cameronOnde histórias criam vida. Descubra agora