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SOFIA MANZUR
point of view
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    Rafe Cameron era um pé no saco — não do tipo irritante, era mais do tipo insuportável.

     Por isso, quando soube que as programações da clínica durariam a tarde inteira eu quase ajoelhei no chão e agradeci a Deus por uns 10 minutos ininterruptos. Isso significava uma tarde inteira sem Rafe Cameron, uma tarde inteira de paz.

      Usei todo o tempo livre para organizar os seus prontuários de recuperação e revisar alguns trabalhos da faculdade antes de entregá-los por e-mail aos meus professores.  

      Quando terminei, minha cabeça latejava e já passava das 5 da tarde. Tomei um analgésico e me joguei no puff redondo que ocupava um espaço no canto do alojamento. Olhei para o pôster do Kanye West que magicamente apareceu no seu quarto um dia depois de Rafe descobrir que eu era obcecada pela Taylor Swift. Enquanto ele dormia, eu risquei o pôster com uma canetinha vermelha.

      Eu não me orgulho disso.

      — Um cachorro, Wheezie? — o som da sua voz ecoou pelo quarto no momento em que ele abriu a porta e se jogou na cama.

       Wheezie fazia chamadas de vídeo com Rafe todas as tardes. Era o único momento do dia em que eu o via não ser um completo filho da puta mimado.

       — É... Achei que você ia querer companhia quando voltasse pra casa, aí eu adotei. Olha como ela é linda!

       Eu segurei uma risada.
       Rafe odiava responsabilidades e, pela forma como mordia a maçã que trouxera consigo, ele não estava nem um pouco feliz.

     — Porra, Wheezie. Eu não queria uma cadela, tu acha que...

      — Não fala assim com ela — interrompi apenas para vê-lo revirar os olhos e voltar a se concentrar na tela do próprio celular.

      — Qual vai ser o nome dela? — a garotinha perguntou, empolgada.

      Comecei a enfiar o meu computador dentro da mochila e recolher as canetas de cima da pequena bancada.

      — Sofia — ele respondeu.

     Eu parei imediatamente.

      — Eu amei!

      — O quê? — perguntei me virando para ele.

      Rafe não respondeu, apenas ajeitou o próprio corpo — enorme, diga-se de passagem — na cama e voltou a me provocar erguendo aquela sobrancelha ridícula. Meu sangue subiu e eu puxei o ar, irritada.

      — Você está me chamando de cadela?

       Ele riu. Ele riu.

       Senti vontade de voar na cama e colocar as minhas mãos ao redor do pescoço dele.

       Calma, Sofia. Repeti a mim mesma.

       — Rafe — comecei, mantendo a calma. — Você não pode colocar o meu nome em uma cadela.

       Aquele marmanjo com 1,90 de altura deixou o telefone de lado e cruzou os braços sobre o peito. Meu Deus, eu o odiava tanto.

       — Quem disse?

       — Eu? — disse, como se fosse óbvio.

       — Não só posso como vou — ele continuou, dando outra mordida na maçã. — E, quando ela tiver filhotes, vou chamá-los de Sofia I, Sofia II e Sofia III.

      Revirei os olhos violentamente e fiquei me perguntando que barulho faria se eu quebrasse o meu computador na cabeça dele. E se isso faria ele aprender a mastigar de boca fechada.

      Jesus, tudo sobre ele me irritava.

      — Relaxa, girassol, é só um nome — continuou, abrindo um sorriso de orelha a orelha. — Cara, tu anda muito bravinha ultimamente. Acho que já passou da hora de procurar um guerreiro que aguente tua chatice o bastante para te relaxar.

      Coloquei a mochila no ombro e parei na porta.

      — Ah, um guerreiro? — perguntei, dando uma risada.

      — A procura vai ser árdua, muito, muito difícil mesmo... Mas eu acho que você consegue encontrar.

      — O que te faz pensar que eu não estou relaxada o bastante?

      — Além do mau-humor frequente e a cara feia que esboça todos os dias?

     Engoli uma resposta mal-criada que seria demais até para mim e me limitei a erguer o dedo do meio.

      — Vai se foder.

      — Boa noite, girassol — disse, sínico, ao me ver abrindo a porta. — Te vejo amanhã.

𝐈𝐍𝐄𝐑𝐓𝐈𝐀, rafe cameronOnde histórias criam vida. Descubra agora