chapter VI

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Já fazia semanas desde a última vez que falei com Bright, e, sendo bem sincera, isso está me corroendo; fico o dia inteiro no celular, olhando de cinco em cinco minutos minha caixa postal na esperança de que uma mensagem apareça, mas nada acontece e eu só cultivo mais e mais ansiedade em mim. Minhas unhas estão todas roídas e minha alimentação está horrível, tenho culpado o fato de estar estudando demais, mas nem isso eu estou conseguindo fazer direito.

Era uma sexta feira, suspeito que minha mãe tenha colocado algum tipo de remédio no suco que ela me entregou mais cedo, pois eu literalmente dormi mais de dez horas. Tenho um sono sensível, qualquer coisa é motivo para que eu acorde, então, quando eu ouvi gritos vindos lá de baixo, eu levantei imediatamente e abri a porta com o taco de baseball de Dew em mãos.

Aquela cena era inacreditável; meu pai estava na sala, ele estava numa discussão com Dew e minha mãe, claro, estava tentando acalmar a situação. Talvez eu tenha roubado um pouco a cena com aquele meu pijama de Hello Kitty, pois todos olharam pra mim, inclusive meu pai; Eu não tenho várias boas lembranças do meu pai, quer dizer, ele nunca brincou de boneca comigo, não me ensinou a nadar e nem a andar de bicicleta, e, a única vez em que foi me buscar na escola, terminamos o dia com Dew chorando.

- O que significa tudo isso ? - perguntei, já que todos estavam imóveis desde que cheguei na sala.

- oi, meu amor. - disse meu pai, finalmente.

- não chame ela de meu amor, você nem sabe quantos anos ela tem! - Dew retrucou. É claro que ele estava com raiva, meu pai sumiu a quase dez anos sem dar nenhuma notícia, eu tinha sete anos na época, mas me lembro bem de como as coisas aconteceram naquela noite.

- Você não sabe quantos anos ela tem, os hobbies e sonhos, não sabe meu curso na faculdade, não sabe as coisas que passamos. Você é um estranho, um bêbado que foi embora quando eu tinha só doze anos. Nós sobrevivemos dez anos sem você, e vamos continuar sobrevivendo. Não adianta dizer que mudou, David, você sempre fez isso. Ficava dois meses sem beber e queria fingir que tinha mudado, e então se decepcionava com algo, enchia a porra da cara e descontava tudo na gente. - Dew continuou.

Geralmente, crianças tendem a seguir caminhos ruins dependendo de como foram tratadas na infância. Pra um garoto que sofria de abuso paterno, Dew é até normalzinho demais.

- Eu posso falar agora? - David perguntou e não teve resposta, então continuou. - Passei todos os dez anos pensando em vocês, pensando em tudo que tinha feito de errado. Imaginei que ficariam melhor sem mim, passei anos sem beber para que um dia pudesse pedir desculpas dignas a vocês. E você sabe por que? Porque eu amo vocês!

- Quem ama não faz sofrer. Você não sabe oque é amar, eu amo elas, você não ama. - Dew o interrompeu. - Sabe o porque você não as ama? Porque quem ama quer mudar, quer fazer diferente, fazer melhor, e não largar a pessoa amada como se fosse um inseto repugnante. Eu tenho todos os motivos do mundo pra ir embora viver a minha vida. Eu tenho idade, dinheiro e recursos. Mas eu as amo, e sei que tenho que fazer o papel que você não fez.

Meu pai abaixou a cabeça; Meu pai se chama David porque ele não é asiático. Minha mãe fez faculdade fora quando mais nova, e então conheceu meu pai, um estadunidense gentil e doce que a tratava como rainha. não o suficiente.

- O que você quer além de pedir desculpas? - perguntei, agora tendo a atenção dele voltada para mim.

- Eu só queria conversar, me desculpar, me explicar.

- Mas oque você fez não tem justificativa..

- Eu sei. - ele me interrompeu. - Eu sei disso. Mas mesmo assim eu sinto que devia tentar.

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