Cerimônia

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Adora Grayskull's POV

Fiquei boquiaberta com a cena, porquê Catra não havia escolhido um salão grandioso para nos casarmos, e sim, um pátio pequeno, íntimo, como uma gruta, delimitado por paredes de pedra, cobertas por trepadeiras e ramos de boa-noite, que serpenteavam em direção ao céu. As últimas flores brancas e luminosas do fim do verão, estavam abertas e pareciam estrelas caindo em volta de nós.

A iluminação era feita apenas pela lua cheia e as muitas velas presas nos parapeitos das altas janelas em arco ao redor arrumadas às dezenas na mesa de pedra onde as pequenas taças de prata esperavam e acomodadas entre as flores que cresciam em profusão por todo o jardim.

Era tudo perfeito, como Catra havia prometido. Apesar de estarmos no centro de um castelo que ela mantinha com ordem e precisão, o pátio possuía uma beleza caótica, como o próprio amor. Pelo menos, como o amor que eu sentia por ela, que parecia incontrolável. Era um lugar em desordem, selvagem, no fundo do meu coração, que um dia também insistira na ordem racional.

É, foi o jardim que me fez respirar fundo.

Mas foi a visão da própria Catra, e não o cenário incrível que ela havia criado para nós, que me compeliu à sussurrar seu nome.

Ela estava me esperando no fim de um corredor formado entre a folhagem, diante da mesa de pedra, e eu nunca a tinha visto tão séria, tão solene. Mas aquele não era o lado sombrio de Catra. Não, era como se ela estivesse tão feliz que não conseguia sorrir. Eu entendia isso porque estava sentindo a mesma coisa. Era como um júbilo tão intenso que só poderia ser expresso com os olhos. Parecia profundo demais para ser demonstrado apenas com um sorriso.

Naquele momento, eu sabia que nossos convidados estavam ali, nos observando das cadeiras enfileiradas nos dois lados do caminho, mas mal os percebia. E não andei até Catra imediatamente. Ficamos em silêncio, perdidas no tempo, no espaço, e uma na outra. Mesmo à distância, na escuridão, eu podia ver que ela estava emocionada, que ela jamais se esqueceria de como eu estava ao entrar no jardim vestida de noiva, assim como eu jamais esqueceria a imagem de Catra de pé, ali, confiante, com os ombros alinhados, um pouco puxados para trás, e as mãos cruzadas às costas, como sempre fazia.

Mas, naquela noite, Catra não baixou a cabeça nem andou de um lado para o outro. Ficou perfeitamente imóvel, costas eretas, olhos fixos em mim enquanto compartilhávamos aquela felicidade extraordinária, profunda, as duas cientes de que aquele era um momento único.

Poderíamos ter ficado assim durante horas se o meu pai não tivesse tirado o braço do meu e beijado meu rosto. Finalmente desviei o olhar de minha noiva e me virei para o meu pai, cujos olhos novamente brilhavam com lágrimas enquanto ele me dizia:

– Eu te amo, filha.

Quis dizer ao meu pai que também o amava, mas, de repente, fiquei com um nó na garganta e precisei confiar que ele entendia que eu não conseguiria falar.

Então, ele deu um passo para o lado, porquê a tradição era que eu caminhasse sozinha os últimos metros até minha mulher. Nem flores eu carregava. Deveria me aproximar de Catra com as mãos vazias, para simbolizar que, a partir daquela noite, não haveria nada entre nós.

Assenti para Glim, que ficou à minha frente, e começou a ir devagar pelo caminho. Quando ela chegou ao seu lugar e olhou de volta para mim, todos os convidados se levantaram e se viraram também. Mas eu ainda mal os notava, nem dava atenção à Glim, que esperava à esquerda da mesa de pedra, nem percebia Avan parado à direita de Catra. De novo, estava hipnotizada pela imagem dela, concentrada não somente em seus olhos, mas na mulher inteira, a vampira, com quem eu iria me casar.

Seu cabelo brilhava ao luar que, juntamente com as velas, também iluminava suas feições. As maçãs do rosto definidas, o nariz reto e o queixo forte que eu tinha notado pela primeira vez numa escola da Pensilvânia, num dia e num lugar que pareciam infinitamente distantes. Ela usava uma roupa tão socialmente “Catra”, e tão clara quanto seus olhos, e que era tão adequada quanto o jardim, que era perfeito para nossa cerimônia. Era discreta, sem nada exagerado ou seda brilhante, mas sua simplicidade só parecia enfatizar sua segurança, como se ela confiasse o suficiente em seu poder, a ponto de não precisar de qualquer aparato extra. De algum modo, ela conseguia mostrar que era uma princesa, mesmo usando nada mais do que uma veste simples e elegante, como a que usara no jantar que oferecemos antes do casamento.

O Casamento  |  CatradoraOnde histórias criam vida. Descubra agora