mortes voluntárias

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Piscaria em uma sequência familiar. Seus nervos afloravam e seu sangue corria um pouco mais rápido na falta dessa sequência. Era como seus batimentos cardíacos, um ritmo certo para mantê-lo vivo e demonstrar qualquer desespero ou euforia.

A abstinência do viciado da sua única fonte de vida. Lamentável.

As telas oscilavam conforme a mensagem era transmitida. Era rápido, e então permanecia acesa, para de apagar no intervalo de uma palavra para a outra. Yeosang ainda tem um pouco de dificuldade em vincular seu sistema com o dos Guardiões, principalmente um móvel e em constante alteração, fazendo eles se apoiarem na moda antiga.

Ele geralmente recebe essa mensagem quando há uma pausa muito grande nas atualizações. É recorrente, para o desespero deles, mas vale a pena ouvir o chiado das televisores pararem e sua iluminação acender, para então apagar. Soa fantasmagórico, assustador, e esse é o maior pesadelo de Hongjoong, se tornar algo sobrenatural.

Mas enquanto Seonghwa controla os pulsos de energia dos eletrônicos, ágil, de tão longe, mas ao mesmo tempo tão perto, resta apenas para ele sorrir, aliviado, e repousar suas mãos nas telas de vidro, um som oco vindo do contato, um que ele nunca espera vir do mais velho.

São várias as vezes que eles estão juntos, mas breves. São poucas as vezes que ele estão juntos, mas duradouras. É alcançar os dedos envolver um dente-de-leão em sua palma, ele está lá, mas a brisa pode levá-lo, ou você pode assoprá-lo. Ou então, ele é frágil demais e cai entre o vão de seus dedos.

Hongjoong sempre encontra as sementes que o vento levou, e Seonghwa sempre está ao seu lado, até o verão e seu ar salgado o tirar dele. É um ciclo, que ele está feliz em correr em volta. Às vezes troveja e ele decodifica os relâmpagos, e se acalma pois sabe que o sol virá quando o céu parar de rugir e se abrir.

É isso que o acalma, é isso que os consola, é isso que eles esperam.

"Está tudo bem." Foi mandando após quase um mês sem atualizações. Três semanas desde que Seonghwa partiu, vinte e um dias desde que eles se viram, conversaram e se tocaram. O mais medíocre do código morse, Hongjoong perde seu olhar na luminosidade das telas, é sua tábua de salvação. O único contato deles, sem nunca terem se encostado, olhado um nos olhos do outro e perder o olhar, é a comunicação mais baixa e esquecida.

Como eles, perdidos. Não há rumo, é navegar por marés ferozes e altas, a adrenalina os movendo. Não há rumor, não há mapa. Apenas eles, apenas eles, os dois, entre os oito, no mar, no oceano, em um navio. Apenas eles, os dois, os únicos encharcados da água salgada, e brandido suas armas para um inimigo invisível, mas observador e presente.

Apenas os dois, protegendo os oito, e a milhares que buscam esperança, sem saber que precisam, sem o conhecimento de que ela existe. É a esperança, que os move, que os locomove, que os arrisca, que os risca.

Eram os dois, até ser apenas um, até voltarem a ser uma dupla, e então um grupo. Um se foi, mas permanece o número, pois ele volta, ele sempre volta.

Hongjoong tamborila a ponta dos dedos na televisão, a última tela, desnecessária, mas sempre ligada, terminando de transmitir a mensagem que ele sabe de cór. Um som vazio, que ameaçou se tornar seu coração quando ele o tocasse, ressoa entre seus ossos e pela sala. O persegue, mas ele está cheio.

Está cheio de saudades, de alívio, de amor, esperança, da necessidade de proteger, quando é incapaz de fazer para si mesmo. Há oito vidas em sua mão, e no que ele não pode se salvar, ele os salva.

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⏰ Última atualização: Mar 23, 2023 ⏰

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