erva daninha

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Ele realmente odiava o branco.

Suspirou, engolindo lágrimas atrás de lágrimas, a garganta seca e arranhada de tantos gritos, de tantas emoções suprimidas. Sua cabeça latejava com a claridade, das explosões, dos choros, do desespero.

Estava esgotado, exausto, e uma casca da pessoa que já foi. E pensar que se passaram apenas algumas horas. Respirou fundo, desejando se deitar ou apenas encontrar uma posição confortável.

Os sentimentos eram tão fortes que se tornaram tangíveis. Se ele estendesse as mãos, poderia tocar. Os detritos feriram seus pulmões e as balas perdidas cortaram a pele exposta. A correria, as algemas, deixaram deus membros pesados. Sua mente processou demais e esperava o mal espreitar a cada respiração exalada.

Foi um show de luzes, um evento incandescente, o festival da dor e aglomerado de desespero. Ele estendeu as mãos, agarrou desesperado qualquer um ao seu alcance e tentou salvá-los. Empurrou qualquer um para suas costas e serviu de escudo humano.

No fim, todos tinham tendências de auto-sacrifício. Riu amargo, engasgando com a bile no fundo da língua. No fim, não foi o suficiente.

Ele estava sozinho. A cela era branca, a luz branca, suas correntes eram brancas, seu uniforme de presidiário era branco, e havia um pequeno lírio branco em um pote branco do outro lado do vidro. Pouco antes de liberarem o gás, em um ataque de raiva, ele bateu e tentou quebrar o vidro, e o pote caiu, destruído, e a flor amassada. Ele se acalmou, repudiando como uma simples flor poderia trazer tantas memórias e traumas. As câmeras filmaram e mostraram para seus vigias seu ataque de raiva, o gás sonífero sendo liberado e ele desmaiando logo em seguida, para acordar acorrentado feito um animal.

A cela estava quente. Suava caso se mexesse demais, rápido demais, torturante demais. Ao fim de seu pequeno acesso de raiva, o suor pingava. Ele poderia tentar afastar um pouco as roupas do corpo ou se abanar, mas ele era um rebelde e participou ativamente de um ato terrorista. As correntes apertavam seus membros quase bloqueando o sangue de correr.

Tiveram que impedir o governador de matá-lo dezenas de vezes, em apenas um dia de prisão. Apesar de ser um terrorista, ele era mais valioso vivo.

Wooyoung estava com ele. Wooyoung estava em algum lugar ali dentro. Foram as únicas pessoas que não conseguiram sair da mira dos Guardiões. O centro da cidade virou um tornado, e San tentou garantir a saída de todos eles criando quantas ilusões pudesse, ficando no olho do furacão. Ele foi sedado, e suas distorções da realidade também.

Se encolheu, no silêncio, no branco.

San queria voltar para casa. Queria voltar para sua família, voltar para Wooyoung. Ele tinha mutações fortes, talvez não estivesse acorrentado em algum lugar, pagando de prisioneiro.

Talvez estivesse sendo testado como um animal. Talvez ele estivesse sendo treinado como uma arma. Cerrou os punhos, a simples ação o fazendo exalar ar quente. Talvez a hipótese de Jongho sobre as celas serem próximas ao centro da terra não fossem tão infundadas.

Piscou, sentindo uma lágrima solitária escapar. Ele queria voltar para casa. Fungou, o som reverberando com sofrimento por todo o quarto, as paredes ecoando o som patético com pesar. De tão branco e imaculado, parecia uma sala infinita, um único espaço flutuante no universo. San estava preso lá.

Apesar da dor amarga e esmagadora da captura, ele estava bem, ele estava feliz. O que são duas baixas para quatro vivos?

Quatro, certo. Eles eram apenas quatro agora. Outra lágrima escapou. Eles perderam Seonghwa-hyung e então Jongho, e agora Hongjoong-hyung perdeu Wooyoung e San.

As esperanças queimaram em seu cerne mesmo quando Seonghwa sumiu, já que não havia corpo. Jongho foi declarado morto pelo sistema desde que desapareceu em uma missão, e os seis viram a apreensão dos dois. San perdeu as esperanças de sair vivo, ele e Wooyoung, quando a agulha do dardo perfurou seu pescoço e o mundo se curvou em preto.

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