22 de março de 2016

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Os olhos azuis cansados e vermelhos de Carolyn Walker a examinam agora com um certo espanto. Está agarrada ao seu robe como se a vestimenta pudesse lhe trazer algum tipo de estabilidade. Seu cabelo castanho está preso em uma rabo de cavalo baixo e despreocupado, o que dá para se notar nos vários fios soltos das amarras do elástico. Seu rosto e vestes transmitem exatamente o que é nesse momento: uma mulher que fora extremamente vaidosa um dia, mas que perdeu a principal coisa que a fazia viver.

- Perdoe-me, senhora Walker - diz, aproximando-se aos poucos e estendendo sua mão, sem saber como agir. - Eu sou Maxine, a...

- Saia do quarto da minha filha imediatamente - sua voz soa calma e gélida, assim como seu olhar acabara de se tornar. - E deixa a agenda em cima da mesinha.

- Claro, sinto muito - vira-se, levando o objeto em suas mãos até o local mencionado.

Não era para ela estar fazendo terapia lá embaixo?

Discretamente, arranca a folha que rabiscou e guarda no bolso da frente de sua calça, enquanto deixa a agenda em seu devido lugar. Vira-se para trás e encontra a mulher ainda parada à porta, dessa vez de braços cruzados, esperando-a se retirar.

- Você não mexeu em nada a não ser a agenda, mexeu? - pergunta assim que Max para em sua frente, ao lado de fora - Não tirou nada fora do lugar?

A um certo tom de desespero em sua voz, o que faz o livro que pegou da estante parecer deixar a sua bolsa quilos mais pesada.

- Não senhora - mentiu, sentindo-se extremamente culpada ao ver os olhos da mulher suavizar.

Por quê não consegue parar de fazer besteira?

- Esse quarto... - a mulher olha para o local com a mão na maçaneta, enquanto seus olhos enchem de lágrimas - foi a única coisa que me sobrou dela.

A jovem não sabe o que fazer. Normalmente está acostumada a esse tipo de situação pois é algo que vê sempre em seus pacientes, mas como ajudar alguém que simplesmente não quer ser ajudado?

- Foi você que trouxe aquela doutora para me ver, não é? - pergunta de modo enigmático, olhando-a nos olhos.

- Sim - responde a olhando no mesmo nível, sem se deixar abater, mas ainda mantendo o respeito. Sua vontade mesmo é se encolher pela culpa e nem ao menos olhar para cara de Carolyn, mas sabe que não pode se mostrar vulnerável agora. Nunca pôde nem sua profissão, nem mesmo naquele dia com Camille. - O Sr. Walker solicitou pois está preocupado...

- Eu agradeço a atenção, - acenou com a cabeça - mas eu não quero ajuda. Quero aquela doutora para Anthony, pois sei o quanto ele precisa de fato, mas eu não. Quero apenas ficar com a minha dor, em paz.

- Senhora Walker... - mas é interrompida pela mesma.

- Sei o que irá dizer, senhorita, afinal é sua profissão. A vontade de ajudar está em suas veias - diz com um semblante completamente sem vida. - Mas eu não quero ajuda. Não importa quem venha ao meu socorro, eu não quero ser socorrida. Minha menina não quis viver, porque eu devo então?

Ouvir tudo isso machuca o coração de Max. A vontade de contar tudo o que sabe até agora fica presa em sua garganta. Não foi um suicídio, foi um assassinato! Mas como pode dizer isso sem provas? Ela tem o papel em seu bolso, mas isso não significa absolutamente nada. Não tem como provar nada e por esse motivo fica quieta.

Sente mais uma vez que está negligenciando uma pessoa que precisa de cuidados.

- Senhora Walker, por favor - tenta o máximo que pode. Não pode deixar outra tragédia acontecer nessa família. - Eu imagino o quão difícil está sendo para a senhora, mas Camille não gostaria de te ver assim. Tenho certeza de que ela te amava mais do que tudo nesse mundo e tudo o que ela mais queria era te ver feliz e bem.

O Que Aconteceu?Onde histórias criam vida. Descubra agora