15 de março de 2016

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"Prezada srta. Lewis,

Como vai? Sinto que nunca fomos devidamente apresentados, não é? Me chamo Anthony, sou pai de Camille, sua paciente que… enfim. 

Soubemos recentemente através de uma amiga de nossa filha que ela havia começado a frequentar a terapia poucos dias antes do fatídico ocorrido. Soubemos até que a senhorita veio visitá-la no dia do acontecido e presenciou tudo. Sei que provavelmente e infelizmente está acostumada com situações como essa, mas peço perdão por aquela ter sido a sua última imagem da nossa menina. Peço desculpas também por não termos conseguido lhe dar a devida atenção. Tudo está um breu para nós desde o dia que ela se foi.

Mas o motivo do meu e-mail não é para marcar uma consulta para nós, embora talvez seja uma maneira de processarmos essa dor interminável. Não. Gostaria de conversar com a senhorita sobre Camille. Entender o que levou minha doce criança a cometer tão extremo ato. Saber se de alguma forma tivemos culpa nisso sem nem ao menos perceber. E para ela ter lhe procurado, quer dizer que ela de fato precisava de ajuda e não notamos.

Precisamos entender! O que aconteceu? O que minha filha guardava que ela não via outra saída? Precisamos de todas essas respostas e sinto que a doutora é a única que consegue nos respondê-las.

Diga-me um bom horário para que possamos ter essa conversa. Estou à disposição.

Agradeço desde já a colaboração e o cuidado que teve com minha filha em seus últimos dias de vida.

Atenciosamente,

Anthony Walker"

Maxine lê e relê aquele e-mail endereçado a ela compulsoriamente. Demorou mais do que o apropriado para responder, mas teve de fazê-lo. Anthony chegaria dali alguns minutos.

Todas as informações dadas pelos seus amigos no dia anterior ainda ecoavam pela mente da psicóloga e esse foi o principal motivo para de fato ter respondido o senhor Walker. Precisa de informações. O quão próxima as famílias são de fato? Quais eram as pessoas que Camille não se dava bem? Precisa de cada detalhe que possa lhe ser oferecido.

Mas então entra a parte perigosa. Vai contar a verdade? Vai contar que simplesmente surtou com a jovem quando começou a desabafar? Vai contar que está de posse do diário dela? Que na verdade, pelo que parecia, havia sido assassinato?

Doutora Lewis? — Max dirige seu olhar para o telefone, de onde sai a doce voz de sua secretária e respira fundo por já imaginar do que se trata — Anthony Walker está na recepção.

— Obrigada Daisy, pode mandá-lo entrar — termina de falar, soltando o botão que lhe permite ser ouvida.

Acalma seu coração e faz uma prece silenciosa. Que tudo dê certo. Só quer fazer o que deveria ter feito desde o começo: ajudar Camille.

— Bom dia — um homem alto com cabelos levemente grisalhos bate em sua porta e entra, a cumprimentando com a mão estendida. — Doutora Maxine Lewis?

— Somente Maxine, por favor! Muito prazer, senhor Walker — sai de seu lugar e aperta a mão estendida a si. Logo, aponta para a cadeira ao seu lado. — Sente-se, por favor.

Ele apenas assente levemente com a cabeça e faz o que lhe é pedido, enquanto a loira volta ao seu lugar.

Repara rapidamente nele. É um homem de meia idade muito elegante. Postura ereta, terno e gravata muito bem alinhados e olhos azuis que podem ser bastante intimidadores, mas que no momento não conseguem esconder toda a dor dos últimos dias. Há também pequenas olheiras embaixo de seus olhos que presume-se que não existiam antes. Não consegue imaginar a dor que sente nesse instante.

O Que Aconteceu?Onde histórias criam vida. Descubra agora