30 de março de 2016

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— Aqui está sua água — April estende o copo na direção de Maxine.

— Obrigada — agradece, pegando a bebida, levemente receosa.

A menina senta no banco ao seu lado. As duas estão no jardim da casa de Ivy. O lugar que se encontram está bem iluminado, com várias folhagens e flores ao redor, com a piscina dando um toque especial no lindo cenário. Há algumas pessoas conversando ao longo do jardim de modo discreto, então não incomodam nenhuma das duas.

April havia levado Max para tomar um ar e se recompor. Assim que se sentaram onde estão neste momento, a menina ofereceu um copo de água, a qual a psicóloga aceitou meio reticente. Não conhecia esse lado generoso da garota. Aliás, a verdade é que não conhecia absolutamente nada dela do que apenas as versões contadas pelas pessoas.

— É a primeira vez que passou por algo assim? — April pergunta com um pouco de cuidado, mas olhando diretamente em seus olhos.

Maxine demora um pouco para responder, piscando um pouco pela confusão. Essa garota é extremamente enigmática e difícil de ler. A psicóloga não está conseguindo acompanhar o gesto de cuidado com a postura de superioridade que ela traz consigo. Pode ser apenas algo que ela não perceba que tenha, mas não deixa de ser contraditório para Max.

— Sim… — responde um pouco vacilante, mas logo pega de novo o controle para si mesma — quer dizer, primeira vez nessa magnitude e com alguém tão próximo.

— Os mais próximos são sempre os piores — April olha para frente, perdida em seus pensamentos. — Você pensa que está acostumada a isso pois passa por coisas parecidas sua vida toda com estranhos, mas aí chega um babaca que você pensava ser seu amigo e te mostra o quão vulnerável e frágil você de fato é.

Lewis examina a menina ao seu lado. Percebe que ela fala com apropriação. Parece ser um assunto delicado para ela.

— Aconteceu com você também? — a loira pergunta devagar, com medo de fechar a única brecha que conseguiu abrir em April.

— Uma vez — assente, respirando fundo e ajeitando sua postura. — Mas foi a única. Nunca mais deixei que alguém se aproximasse desse jeito de mim. Ninguém nunca mais ousou tentar fazer algo contra mim novamente, pois não conseguem chegar perto de mim o suficiente para tal ato. 

— Você encontrou uma forma de se blindar então? — a psicóloga pergunta, batucando o copo em suas mãos para tentar passar um ar despreocupado e não revelar sua verdadeira intenção: procurar respostas.

— Só entra em meu grupo de amizades quem for selecionado — ela assente e complementa de forma neutra. — Demorou muito para eu aprender isso, senhorita Lewis, mas são seus amigos que atraem os monstros para perto de você. Quando me dei conta disso, tornei-me mais seletiva. Só fala comigo quem eu tenho certeza que nunca me apresentará perigo. Ou, se porventura apresentar, eu tenha uma carta na manga e possa usá-la contra a pessoa em troca.

"Eu tenha uma carta na manga e possa usá-la contra a pessoa em troca". Camille registrou por alto em seu diário sobre os comentários ácidos de April. Existe também aquela conversa que Ethan ouviu entre as duas, a três meses atrás. Pelo tom, parecia como uma ameaça… será que April descobriu a verdade sobre a família da menina e a ameaçava por isso?

— Parece algo exaustivo e solitário — Maxine tenta aos poucos levar a conversa para onde quer. — Até mesmo perigoso.

— Não se voce analisa as pessoas certas. 

— Você tem alguém que possa lhe auxiliar nisso? — pergunta e vê a menina virar-se para ela, sem entender o motivo da pergunta e um pouco desconfiada — Digo pois deve ser extremamente difícil fazer essa análises em lugares novos, principalmente na faculdade onde é um mundo totalmente diferente e não se conhece ninguém à primeira vista.

O Que Aconteceu?Onde histórias criam vida. Descubra agora