CAMILA
1981 foi uma loucura e tudo começou numa tarde de agosto com Warren batendo na minha porta no final da tarde. As meninas estavam jantando na cozinha e o dia no estúdio havia sido uma loucura.
Abri a porta e ele sorriu ao me ver, me abraçou e procurou as meninas, que correram para abraçar o tio Warren.
— Cadê minha pequena usurpadora? — perguntou chamando Julia.
Eu sorri e minha garota, ela estava cada dia mais grande e mais esperta. Meu coração enchia de amor.
— Estou aqui, tio.
Ela abraçou Warren e voltou para a cozinha.
— Cadê Lisa? — perguntei quando sua atenção voltou para mim.
— Gravações em Nova York, ela chega hoje a noite. Sábado saio em turnê.
Fico surpresa, não sabia que ele estava numa banda.
— Que incrível, Warren. Parabéns — abracei-o mais uma vez.
Sentamos no sofá e ele olhou para mim, prestando atenção. Isso não era cara dele, que merda estava acontecendo?
— Eddie me procurou pedindo ajuda e eu aceitei. Sou o baterista temporário da The Flayers.
Esse nome...
Sinto aquele estranho aperto no peito.
— E ... e como ele está?
— Está feliz. Realizado por encontrar uma banda que valoriza o seu talento.
As palavras não deveriam me atingir, mas atingi.
Olho para o lado, não posso encarar Warren nesse momento, não quando meus olhos lacrimejam.
— Sabe, eu nunca parei para pensar o quão controlador Billy era com os The Six até Eddie aparecer no meu barco. Ele estava tão realizado e animado com as músicas que ele escreveu ao longo dos anos...
— Ele escreve?
Warren sorri.
— Sim, o filho da puta tem talento com as palavras e The Flayers deu a oportunidade que Billy nunca deu. Ele escreveu músicas para caralho nesses últimos anos. Algumas sobre você.
Minha mente entra em letargia com as palavras de Warren. Que merda está acontecendo? É um sonho.
— Sobre mim?
— Sim, Dreams é para você, Camila.
Warren aproxima e segura a minha mão, me dando apoio.
— Sábado às oito da manhã um ônibus vai estar esperando pelos The Flayers na frente da Soul Record. Eddie vai estar naquele ônibus...
— Warren...
Ele balança a cabeça e continua a falar.
— Ele me contou o que te disse naquela noite de Chicago. Você está livre e ele te esperando, se o que ele sente dor recíproco... não tem porquê esperar mais um ano para viver o amor. Porra, o amor é tão maravilhoso que nem a distância o diminuí.
— Você não entende. Eu não posso ir, tenho as meninas e...
— Você correu atrás de um músico uma vez. Atravessou o país por ele, seu amor é desse tamanho. Se amar Eddie como ele te ama, acho que está na hora de você acompanhar uma turnê.
Warren sorria e falava aquilo como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Abrir mão de uma vida por amor, eu fiz isso uma vez quando tinha dezoito. Mas eu não sou tão jovem. Tenho quase trinta anos e três meninas para criar, não posso correr atrás dele mesmo meu coração tendo se animado com a possibilidade de ir atrás...
Não posso.
— E o Billy? — as palavras deixa minha boca.
— Bem, Billy não é seu marido e não pode te impedir de seguir a vida. Não quando ele seguiu a dele com a Daisy.
Estou buscando desculpa.
Me levanto e ando pela sala nervosa.
— Fico feliz por sua turnê, Warren. Espero que você se divirta nesta turnê.
Eu sou sincera, eles amavam as turnê e o mundo do rock. Mas depois da The Six, algo faltava. Era como se a banda fosse a cola na nossa família e quando a cola se perdeu não tinha como manter os cacos que éramos unidos.
Billy voltou para a reabilitação. Ele ficou um ano fora e melhorou. Estava limpo desde aquele show em Chicago, desta vez por ele.
Karen e Eddie seguiram a vida em bandas diferentes e fazendo shows pela Strip. Eu fui num show da The Flayers, antes do álbum novo, e ver Eddie tocando guitarra e sorrindo foi demais para mim.
Ele estava tão feliz e tinha mulheres ao redor dele. Era como se aquilo que ele me disse em Chicago fosse o eco de uma vida esquecida.
Agora, Warren vem e me diz que as músicas são para mim e que o sentimento não morreu.
Warren beija minha bochecha e vai embora.
Arrumo as meninas para dormir e ajeito a bagunça e me sento de frente para o toca disco com Sky nas minhas mãos.
A foto do céu cheio de nuvem me encara, desafiando.
Solto a agulha encima de Sky e a primeira música toca, depois a segunda e a terceira...
Eles são bons para um caralho e a guitarra faz meu coração tremer. Eddie no baixo e sempre foi fantástico mas na guitarra, era como se ele tivesse nascido para ser guitarrista.
Porra, Billy realmente fodeu com tudo com a banda.
E então Dreams começou:É o sonho dos olhos dela
Que o pobre músico pensa
Ele não tem nada além da guitarra
E um punhado de coragem do bolso
E o cigarro
Sempre o cigarroAs fumaças perdem o brilho quando o sorriso aparece
A manhã depois da noitada é emocionante quando ela o espera...
Ela me espera...Ela olha e vê a roupa amassada e o brilho dos olhos
E sorri
Amor, onde você estava
Ela me pergunta e eu digo
Sonhando nossos sonhos,
Vivendo de sonhos e desejosEla olha e sabe que são sobre ela
Os sonhos
Os desejo
As luzes da cidade
O amor em meu peitoComo não se apaixonar por esse sonho
Em formato de mulher?
Em formato de lar...
Ela é tudo
E maisSinto o nó na garganta e as lágrimas molham a capa do disco. Ele escreveu sobre mim, para mim. Quando eu não sabia do seu amor por mim, ele compôs canções de amor sobre mim...
— Eddie...
Essa noite eu sonho com ele e me sinto de novo com dezoito anos. Quando acordo estou motivada a fazer a mesma loucura que eu fiz aos dezoito. Coloco Sky para tocar mais uma vez e ligo para minha mãe ficar com as meninas.
Mamãe chega e sorrio para ela, ela estranha. Eu saio de casa e sei onde preciso ir. O caminho até a casa de Freddie Mendoza é curto. Bati três vezes na porta e uma mulher vestida uma camisa masculina atende.
— Bom dia, Maggie — entro e beijo sua bochecha e vou para sala. — Eu preciso da ajuda de você.
— O que é tão importante para você bater as sete da manhã? Cami, a gente se veria daqui uma hora no estúdio.
— Eu sei, eu estou ansiosa.
Freddie aparece vestindo um moletom e sorri para mim e beija Maggie.
— O que é tão importante, Camila? — ele pergunta.
— Eu preciso fotografar a turnê dos The Flayers. Vocês precisam convencer a Soul Record sobre fotografar essa turnê.
O estúdio de Freddie tinha uma parceria com a Soul Record, sendo a equipe fotógrafa de todos os seus artistas.
— Você quer ficar seis meses na estrada? — Maggie pergunta mais interessada e menos irritada.
— Sim. — sorrio.
— Por quê?
— Porque Eddie Loving vai estar lá.
Que se foda o mundo, mas eu não iria esconder meus sentimentos por aquele homem. Não mais. Nada poderia fazer esse sentimento ser errado, eu era livre.
Meggie olhou para mim como se a última peça do quebra-cabeça tivesse encaixado.
— Porra, é por você que ele foi dormir no meu sofá umas três vezes por causa de um coração partido.
Ela se aproximou e me olhou como se me visse pela primeira vez.
— Eu posso fazer isso — disse Meggie. — Mas, Eddie é meu amigo, meio chato e incoveniente, mas é um bom amigo e não posso permitir que alguém o magoe novamente. Você vai magoa-lo, Camila?
Sorrio.
— Não, não vou — e sou sincera.
Quero o coração e os sonhos que Eddie um dia ofereceu para mim. Quero todo o amor do mundo.
— Então, considere feito. Arrume suas malas e vá atrás daquele idiota.
Maggie virou a costa e foi para o quarto. Deixando-me sozinha com Freddie, ele sorriu para mim.
— Você brilha como eu nunca a vi brilhar.
Sorrio e saio, tem mais uma pessoa que preciso avisar antes de fazer as malas.
Volto para casa, mamãe observa as gêmeas brincar no quintal. Julia está na escola.
— Mamãe.
Ela olha para mim e sorri.
— Eu preciso que você cuide das meninas para mim pelos próximos meses.
— Como?
— Surgiu o trabalho de acompanhar a turnê de uma banda. Fotografa-los.
— Você já recusou trabalho longe de casa ante, Camila. Por que você aceitou este?
— Por que o rapaz que eu amo vai estar lá.
— Camila...
E ali está o mesmo olhar que ela me deu quando sai de casa aos dezoito para seguir Billy Dunne.
— Mamãe...
— Você já foi atrás de um amor e olha onde ele te trouxe.
Ela apontou para ao redor, ela queria dizer divorciada, mas tudo o que eu vi foi um lar e três filhas adoráveis.
— E me trouxe aonde eu precisava estar. Agora eu que me ajude porque eu vou atrás do amor, mamãe. Não posso desistir do meu coração só porque ele foi partido uma vez, eu preciso acreditar em novos amores.
Ela aproximou e acareciou meu rosto, observando meus traços. Os anos tinham passado para nós, éramos mulheres adultas, mas ainda eu encontrava lembranças de nosso passado em seu olhar. Ela me olhava com amor e devoção, exatamente como me olhou no dia que me deixou ir.
Ela havia beijado minha testa e disse: está casa sempre será seu lar para voltar.
Agora, eu preciso das mesmas palavras.
— Siga esse coração estupido, menina. Mas não se esqueça que esse é o seu lar para voltar. Estaremos esperando por você.
Mamãe me beijou na testa e me deu sua benção para seguir meu coração e desta vez ele estava batendo por Eddie Loving.
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Como não se apaixonar por ela? [Daisy Jones and The Six] (REVISANDO)
FanfictionA década de 70 foi marcada pelas lendas de Rock in roll, Daisy Jones and The Six, com o álbum mais vendido e turnê arrebentando todas as cidades e com Daisy Jones e Billy Dunne, cantando e sentindo todas as músicas de amor e ódio, arrependimentos e...