não mais só.

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Não foi a minha intenção.

Não foi.

Eu juro que não foi.

O meu mundo apenas ficou em silêncio após aquela fala de minha mãe.

Eu sei que é verdade, eu concordo com ela, mas não acho que seja necessário ela ter dito aquilo.

Doeu.

E eu que pensei que já estava acostumado a ouvir palavras ruins vindas dela.

É como se o meu mundo tivesse ficado escuro, como se apagassem a luz e me empurrassem para um buraco fundo, buraco esse que eu não consegui sair.

Não foi a minha intenção tomar tudo aquilo, eu só queria que a dor sumisse.

Que não existisse.

Eu só queria não sentir nada.

Absolutamente nada.

Mas eu senti, eu senti muita coisa.

Eu senti cada cápsula descendo pela minha garganta de forma amarga.

Senti cada impulso que o meu corpo dava.

Senti meu corpo tentando me desentoxicar.

Senti falta de ar.

Senti os batimentos lentos do meu coração.

Senti os arrepios no meu corpo agindo na overdose.

Vi o céu ficando escuro enquanto o gosto amargo dos remédios subiam pela minha boca.

Pensei que doeria mais.

Mas não doeu.

Depois disso tudo eu não senti mais nada, apenas uma sensação confusa e visões embasadas. Uns vultos entraram onde eu estava, e agora eu estou aqui, ainda mais confuso coberto por coisas brancas.

As paredes brancas, aparelhos brancos, lençóis brancos, roupas brancas.

Pelo visto minha tentativa de ir embora não deu certo.

Olhando para o lado pude ver o meu braço, cheio de agulhas grandes enfiadas em minhas veias e conectadas a uma máquina que fazia um barulho estúpido e irritante.

E agora?

Como irei olhar para o Iwa-chan depois de tudo o que eu disse?

Isso será tão humilhante.

Não queria o desapontar.

Mas já é tarde para eu pensar nisto.

Respirei fundo sentindo todos os meus órgãos doendo.

Queria eu não estar mais aqui.

Queria eu não sentir mais dor.

Mas aparentemente, deixar de sofrer não é uma escolha para mim.

- puta merda - exasperei ao me recordar, eu não contei apenas sentimentos e sensações bobas para o Iwa-chan, eu não apenas me despedi dele, eu não apenas disse que ficaria tudo bem.

Eu contei tudo.

- finalmente resolveu acordar - ouvi a voz de minha mãe a vendo entrar no meu quarto.

Como sempre, ela estava elegante, com um vestido fino e caro e saltos altos, será que as revistas realmente acreditaram que ela estava sofrendo pela minha quase perca?

Eu não acredito.

- você não cansa de me envergonhar? - questionou se virando e ligando a pequena TV que ficava a frente de minha cama, este muito provavelmente era um hospital bem caro já que as acomodações eram amplas e chiques - pensei que dessa vez eu finalmente me livraria de você, eu até mesmo o deixei mais tempo, não chamei a ambulância assim que te encontrei, deixei os remédios fazerem efeito, mas pelo visto, você não serve nem sequer para morrer, nem mesmo os infernos aceitam a sua alma? O quão patético e sujo você é? - ela riu da minha cara - as notícias não param de falar de você, ao menos serviu para virar assunto, seria melhor se fosse sobre o seu falecimento, hoje eu estaria usando preto.

"Herdeiro dos Oikawa's é internado após um atentado contra a própria vida, até o momento não recebemos mais notícias além de seu caso estar estável, nós e todo o público dessa emissora desejamos sua melhora, o nosso apoio e nossos sentimentos a Haki Oikawa que não deixou o hospital por sequer um minuto, fique tranquila, seu filho ficará bem!"

Se antes o meu mundo estava em silêncio, agora, ele estava barulhento e tumultuado.

Não apenas de forma figurada.

Realmente estava barulhento.

Do lado de fora do quarto muitas vozes falavam ao mesmo tempo, uma gritaria enorme, provavelmente alguém tinha sofrido um acidente grave.

Ao menos foi o que eu pensei.

Até a porta ser novamente aberta

- não sabe bater? Eu estou tendo um momento com o meu filho - fez um teatro falso figindo secar lágrimas com o paninho de algodão que estava em suas mãos.

- já pode parar com a palhaçada, ninguém acredita mais nisso.

- Iwa-chan? - questionei surpreso por ver o olhar tão duro do meu amigo sobre a minha mãe.

- você está seguro agora - dirigiu o seu olhar para mim, senti nojo de mim ao ver aquele olhar, ele sentia pena - por favor - pude ver dois policiais adentrando o quarto.

- que palhaçada é essa? - ela ficou furiosa ao ter o seu braço algemado por um dos caras.

- estou lhe dando voz de prisão, a senhora tem o direito de permanecer calada, tudo o que disser pode e será usado contra você no tribunal.







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