Por causa desses traumas, me tornei uma pessoa fria, eu nem conseguia perceber isso quando mais jovem. Mas, quando eu peguei em uma arma para matar um moço afro-americano para cumprir as ordens da KKK, eu não consegui nem me manter de pé direito.
Em resumo, a ordem de admissão era simples: matar um jovem afro-americano com um futuro promissor. Comecei a observar um jovem estudante em ônibus no Brooklyn. Era noite de sexta-feira, ele estava voltando cansado e sentei ao lado dele. Conversamos sobre futuro e carreira profissional. Ele me disse que havia perdido a mãe por conta de um câncer, o pai dele era o único exemplo dele, pois trabalhava de carpinteiro enquanto sustentava o filho que estudava.
" - Meu sonho é ser advogado, um dia eu vou conseguir ajudar meu pai e vou orgulhar a minha mãe que me olha lá do céu. "
Eu inventei uma desculpa esfarrapada dizendo que poderia ajudar ele pois eu era um advogado novo na Cidade. Mostrei minha falsa identidade e ele acreditou. Disse que deveríamos descer algumas quadras depois e iria mostrar para ele o local onde trabalhava. Enquanto ele e eu conversamos, eu não segurei as lágrimas e comecei a chorar. O jovem indagava e questionava se eu estava me sentindo mal e eu disse que apenas tinha me lembrado de algo ruim.
O ônibus para, nós descemos.
" Está tudo bem mesmo? O senhor está chorando!"
" Garoto, eu apenas me lembrei que aqui perto fica o local onde minha avó morreu. "
Eu inventei uma desculpa novamente e levei ele à um beco, onde eu tirei o revólver do bolso e apontei para ele. O garoto soluçava e eu chorava feito uma criança. Não teve jeito, eu matei o menino naquele lugar, era tarde da noite e eu tinha sujado minhas mãos de sangue.
Todas as noites eu sonho com aquele rosto gentil, com aquele jovem entusiasmado e resiliente que vi. Depois eu tive que atirar em Kenedy e depois matar, matar e atirar em várias outras pessoas.
Todas estas pessoas, aparecem para mim ao dormir, sou atormentado e não consigo ter paz. Isso está me deixando cada vez mais frio e imprevisível. Contudo, eu não posso mais viver assim é assustador demais, eu não tenho mais a paz.
Só queria poder voltar no tempo, ter pedido desculpas para meu irmão e ter me despedido de meus pais. Era só o que eu queria.
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1001 Guerras
BeletrieO livro é uma continuação ou um complemento essencial do livro "1001 reflexões ". Se passa alguns anos antes do outro, e o meio tempo em que o Protagonista Alexandre era criança. No ano de 1945 após o fim da II Guerra mundial, o mundo se divide em d...