Se fosse em outro momento ...

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Abri meus olhos lentamente ao sentir a claridade batendo em meu rosto suavemente conforme o vento balançava as cortinas. Fecho e abro os meus olhos repetidas vezes conforme tento me acostumar com a claridade, me sento na cama me sentindo meio perdido procurando me lembrar de onde estava.

Sorri ao fitar as paredes esverdeadas e olhar para a cama vendo aqueles cachos perfeitos repousados sobre o travesseiro ao meu lado. Fiquei a observando por alguns segundos, ela estava em um sono tão tranquilo e profundo. Seu rosto estava ligeiramente coberto pelo edredom, voltei a me deitar ao seu lado e fiquei brincando com seus cachos que estavam levemente desgrenhados.

Alguns segundos se passaram em silêncio até que o despertador dela tocou. Ouço Paola murmurar algumas coisas bem baixo enquanto se mexia devagar esticando seu braço na tentativa frustrada de alcançar o despertador sem olhar. Seguro o riso e fico observando aquela cena.

Paola ergue a cabeça devagar e pega uma pequena almofada que ela estava dormindo abraçada e a joga com força no despertador o derrubando da cômoda fazendo o mesmo se desmontar completamente assim que tocou o chão.

— Que ódio. Odeio acordar cedo.

— Essa é a minha enfermeira por amor — Disse já sem conseguir segurar o riso e ela se senta na cama em um sobressalto ao ouvir minha voz. Alguns cachos caem sobre seu rosto enquanto ela pisca algumas vezes tentando manter os seus olhos abertos, ela me olha por alguns segundos parecendo estar confusa o que me faz sorrir — Bom dia.

— Bom dia?

— Isso é uma pergunta? Ou uma resposta.

— As duas coisas. Eu não tomei café e ainda tô processando minha alma de volta para meu corpo e tentando lidar com tudo que aconteceu ontem, afinal, não é todos os dias que um dos Idols mais famosos da Coréia acorda na minha cama.

Sorri a observando.

— Mas sinceramente, qual o segredo de vocês Idols? São cinco horas da manhã, você de cabelo bagunçado está lindo. Agora olha para mim, estou um bagaço - Ela faz um bico e cruza os braços após passar as mãos no rosto para tirar alguns cachos que estavam cobrindo seus olhos.

— Bagaço? — Pergunto confuso tentando repetir a palavra assim que ela completa a frase.

— Ah, é uma expressão brasileira. Estou feia, bagunçada.

— Não está bagaço — Ela começa a rir me olhando — O que foi?

— Você falando a palavra bagaço com o sotaque coreano é fofo. E o certo seria: Você não está um bagaço. Ou não é um bagaço.

— Aigoo! É tão difícil.

— Você falou certinho. Estou pegando no seu pé para compensar tantas regras quando lutava para aprender o Hangul.

— Reclame com o Rei Sejong. Eu não tenho participação na criação do Hangul.

— E eu não participei da criação da palavra bagaço.

— Mas tá usando ela.

— E você tá usando o Hangul.

— Você também.

— Touché! — Rimos e ela se levanta enrolando-se no edredom.

Ficamos conversando enquanto eu observava ela indo de um lado ao outro pelo quarto se arrumando para ir para a faculdade.

Ela estava animada me contando sobre como decidiu ser enfermeira e todos os perrengues que passou na faculdade e no curso técnico de enfermagem no Brasil antes de vir para a Coréia.

Meu celular estava no modo avião pois sabia que iria ficar tocando a noite inteira. Como também sabia que iria ter que lidar com várias pessoas enchendo meu saco assim que eu cruzasse a porta daquele hotel. Simplesmente desliguei pois queria ter motivos para toda a ladainha que teria que ouvir da empresa.

Não me arrependo de nada.

Não me arrependo de ter lido o mangá e achado aquele bilhete, pois isso foi a melhor coisa da minha vida. Ter olhado a caixa e achado a carta dela, ter lido as mensagens que ela havia me mandado na DM e estar aqui com ela; ter a conhecido, ter a ouvido, ter a beijado, ter a tocado, ter a sentido.

Eu realmente não me arrependo de nada.

Ela havia me feito sentir coisas que eu pensei que jamais iria sentir, ela me fez questionar sobre coisas que eu nunca imaginei.

Paola havia conseguido enxergar além de mim.

Em apenas algumas horas ela foi capaz de me mostrar o porquê eu havia escolhido a música, ela havia me feito ver o motivo de ainda ser um Idol, ela havia me feito enxergar quem eu sou de verdade, pois agora eu consigo me olhar no espelho e reconhecer quem sou.

Reconhecer que o Min Yoongi que um dia eu fui ainda existe em mim e que em algum lugar ele sente muito orgulho do que nós nos tornamos.

Eu irei continuar amando a música e finalmente irei aceitar que a música sempre fez parte de mim.

— Finalmente pronta. Minha sorte é que moro a menos de cinco minutos da faculdade. Então posso ficar estudando e revendo umas coisas do estágio até na hora de sair.

— E eu pensando que iria te dar uma carona. Pelo jeito vou ter que te acompanhar em uma caminhada, então.

— Min Yoongi em uma caminhada de cinco minutos?

— Impossível por acaso?

— Seria mais fácil você dizer que iria dormir aqui e esperar eu voltar.

— Está querendo me sequestrar, senhorita Paola?

— Não me dê ideias ... — Ela sorri e pega uma pequena pasta de documentos e se senta em uma cadeira segurando um papel com várias anotações grifadas.

Fiquei observando-a enquanto ela estudava. Imaginei; se eu não fosse um Idol, se fosse em outro momento ou em outro lugar, isso duraria por muito tempo?

You And Me | MYGOnde histórias criam vida. Descubra agora