Melodias e noites de insônia

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Um, dois, três, quatro ...

Já estava no meu quarto copo de Iced Americano e ainda era apenas três da madrugada, por alguma razão eu não me enjoava de tomar Iced, essa com certeza é minha bebida favorita e a minha melhor companhia em noites de insônia.

Dedilho algumas notas soltas no violão e suspiro o deitando em meu colo, meus olhos passeiam pelo quarto vazio por alguns segundos e logo começo a fitar o teto branco enquanto meu pensamento viajava entre os mil devaneios que se permitiam surgir no silêncio da madrugada, estava me sentindo exausto e completamente frustrado.

Faziam exatos três dias desde que comecei a tentar compor uma nova música mas a cada palavra que colocava no papel e a cada nota que anotava na partitura sentia que estava faltando algo, tudo parecia falso e aos poucos a sensação de impostor começava a surgir; aos poucos comecei a me sentir uma farsa, e simplesmente o único pensamento que fica indo e voltando em minha mente é se realmente tenho talento; Será que sou realmente bom no que faço? Tudo parece tão falso, tão sem graça, tão sem emoção, tão monótono.

Lembro quando comecei com a música, ouvia horas meus cantores de hip hop favoritos e me imaginava nos palcos sendo o maior rapper da minha geração, comecei a compor cedo e nem sempre tive muito apoio mas ainda sim fui lá e dei o meu melhor, mostrei a todos do que sou capaz. Então, porque ainda sinto que sou uma farsa ocupando o lugar de alguém que realmente tenha talento?

Tinha exatamente uma semana que havia chegado da minha viagem até Daegu, acredito que ir ver meus pais tenha sido o principal motivo de me fazer ficar tão reflexivo sobre quem fui e quem eu sou hoje. Me olhar no espelho nos últimos dias tem sido difícil, pois não me reconheço mais, compor era o que me mantinha bem e me dava algum tipo de conforto, eu amava compor, amava a música e fazia isso porque realmente eu gostava; hoje faço porque preciso. Isso tem me tirado a inspiração, não sinto nada, não vem nada na hora de escrever e esse vazio me frustra, eu quero voltar a sentir algo pela música, quero voltar a amar o que faço.

O silêncio do quarto se estende completamente enquanto minha mente permanece barulhenta.

— Ei! Min Yoongi ... — Ouço alguém me chamar enquanto bate na porta e balanço a cabeça lentamente na tentativa inútil de manter minha mente em silêncio por alguns segundos antes de abrir a porta.

— Já vou ...

— Yoon? — Suspiro ao reconhecer a voz de Ji hwa na porta e me levanto da cama finalmente me permitindo sair dos meus devaneios por alguns minutos, caminho em passos lentos e pesados até a porta e suspiro novamente antes de girar a maçaneta finalmente abrindo-a dando de cara com a pequena staff de longos cabelos pretos na altura da cintura e olhos pequenos que ganham bastante destaque graças aos enormes óculos redondos dourados que a mesma estava usando, quase não conseguia ver seu rosto já que a mesma estava usando uma máscara preta e segurava uma caixa enorme que dava quase o dobro de seu tamanho, permaneço encarando-a por alguns segundos até que ela rola os olhos e bufa me entregando a enorme caixa — De nada! É sempre tão bom falar com você, Min Yoongi.

— O que é isso? — Pergunto extático encarando a caixa e a mesma que já estava se afastando balbucia algo e para girando o corpo lentamente e volta em passos indignados ficando parada bem na minha frente.

— Aish! Não está vendo?

— Omo?

— É uma caixa ... — Ela sorri me olhando como se fosse óbvio. E realmente era, mas ela sabia muito bem que não era sobre isso que estava me referindo e sim sobre o que continha dentro da caixa então ela apenas dá de ombros e continua — São os presentes das armys brasileiras que foram aprovados na inspeção, não contém nada perigoso; aqui tem cartas, roupas, bilhetes, fotos ...

— Entendi.

— Um amor como sempre, né? — Suspiro e ela ri.

— Você também é um doce. Parece um mousse de limão.

— Yoon ... Você está bem? — Confirmo balançando a cabeça devagar e lhe lanço um sorriso amarelo enquanto ela me analisa olhando fixamente em meus olhos como se tentasse me decifrar — Não foi uma boa viagem, né?

Apenas sorri ladino.

Ji Hwa sorriu me dando um abraço rápido e saiu murmurando enquanto eu apenas joguei a caixa sobre a cama e direcionei minha atenção para a enorme janela da sacada que me proporciona uma visão maravilhosa da cidade de Seoul.

Fiquei olhando o pouco movimento que tinha na cidade naquela hora pois em poucas horas começaria toda a correria da hora do rush, afinal, ainda eram apenas três da manhã; volto para dentro do quarto e começo a mexer na caixa, estava bastante pesada então provavelmente tem bastante coisa.

Haviam várias cartas, bilhetes, fotos, pôsteres, lembrancinhas; como chaveiros feitos a mão, clips de papel personalizados, cordões, anéis e muitas outras coisas.

Mas o que mais me chamou a atenção naquele momento era um pequeno embrulho branco com detalhes amarelos, o pego retirando o mesmo do fundo da caixa e rasgo o embrulho rapidamente e paro ao finalmente ver o que tinha ali ... um mangá?

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