~. Capítulo 7 .~

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"Eu posso ter errado e cometido excessos, mas nunca foi por falta de amor.

Mateus Barcelos.".

LUCAS

As lágrimas caíram feito verdadeiras cascatas. Dividido entre uma carência jamais experimentada e um profundo misto de surpresa, choque e gratidão, caí na gargalhada e a prendi em meus braços com toda a força que pude reunir. Dona Helena na minha humilde residência... que surreal, mano! Se eu não estivesse acordado, vivo e, acima de tudo, totalmente consciente, poderia jurar que tudo não passava de sonho, talvez ilusão de ótica.

— Eu não acredito que a senhora veio me visitar — ainda rindo, chorei feito um condenado. — Caraca, maluco... que doideira! Isso é o que eu chamo de surpresa!

— Você não achou que eu viria passar duas semanas no Rio e ficaria sem te ver, não é? — sorrindo e com o rosto tão molhado quanto o meu, ela se afastou brevemente para me olhar dos pés à cabeça. — Mas você já é um homem, menino!

— Que nada — senti o rosto esquentar.

— Tá bonito... tá forte... tá alto... — analisou Dona Helena, observando cada centímetro do meu corpo. — Olha só esses músculos... e esse cabelo curtinho... tá na moda, né?

— Eu não acredito que a senhora tá aqui — abraçando-a novamente, tentei respirar fundo pelo nariz. Não deu muito certo. — Que surpresa incrível, Dona Helena!

— Eu já tinha comprado a passagem quando recebi a sua cartinha, por isso não te respondi — ela secou meu rosto com carinho. — Eu estava tão preocupada sem notícias suas, Lucas!

— Aconteceram tantas coisas desde que a senhora foi embora, Dona Helena!

— Ah, mas eu imagino... — ela voltou a me olhar de cima abaixo. — Eu só não imaginei que te encontraria tão... como é mesmo que vocês, jovens, falam? Sarado?

Gargalhando, mais uma vez a prensei contra mim.

— Venha, Dona Helena — entrelaçando nossos dedos, obriguei a mulher a caminhar. — Eu vou te apresentar a minha casa.

Ainda bem que estava tudo limpo e arrumadinho. É bem verdade que Dona Helena ficou impressionada com o tamanho da república, mas, segundo suas próprias palavras, nada era mais impressionante do que a beleza do Alexandre. Achando graça do comentário de minha segunda mãe, fiz questão de levá-la até a cozinha, onde pudemos nos sentar para colocar as fofocas em dia enquanto ela tomava um cafezinho. Talvez por estar incomodado com os elogios da mulher, Xande queria sair para nos deixar a sós, no entanto comentei que ele podia ficar, afinal, não existiam segredos entre nós.

Segurando a xícara de café na mão direita e o pedaço de bolo de milho — que havia sido preparado por Eduardo na noite anterior — na esquerda, um dos primeiros assuntos abordados por Dona Helena foi o arrependimento que ela sentia por não ter me levado para morar com ela em Minas Gerais. Explicando que havia perdido o número do meu celular, a senhorinha evidenciou o tamanho de sua angústia, dizendo, inclusive, que ela chegou a sentir um profundo sentimento de culpa, sentimento que só desapareceu por completo quando Padre José lhe deu notícias minhas.

Encantado com o sotaque fofo da Dona Helena, coloquei um largo sorriso no rosto. Era muito bom saber que ela gostava de mim, que ela se preocupava comigo, que eu lhe fazia falta. Agradecendo pelo carinho, concordei que eu deveria ter ido com ela, que provavelmente a minha vida teria sido mais fácil se eu tivesse me mudado para Pouso Alto, que talvez eu não tivesse tantas dores de cabeça se tivesse fugido do Rio de Janeiro. A partir de então, começamos a falar sobre a minha vida, sobre minhas desilusões amorosas, sobre a faculdade, sobre meu trabalho, sobre a minha dedicação aos treinos na academia, sobre meus planos para o futuro.

Marcas do Passado: Incertezas do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora