~. Capítulo 17 .~

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"Assim começou a nossa relação de gato e rato.

Mateus Barcelos.".

GUSTAVO

O som da batida eletrônica deu lugar a um silêncio constrangedor. Sem ao menos piscar, ele me olhava com certa profundidade. Em meu peito, o coração ainda batia de forma acelerada; em minhas veias, além do sangue também corria o ódio. Eu não podia acreditar que Lucas havia convidado o ex-namorado para o seu aniversário de 20 anos. Para mim, Gustavo Rodrigues Pimentel, isso era ultrajante, absolutamente inadmissível!

Enquanto esperava Lucas ter alguma reação, qualquer reação, não movimentei um músculo sequer do meu corpo. Nunca saberei dizer se ele estava apenas observando o meu rosto ou tentando ganhar tempo para encontrar uma justificativa plausível para a minha pergunta, no entanto admito que fiquei impaciente com a quietude do moleque. Imóvel daquele jeito, ele mais parecia uma estátua, uma estátua muito... então... bonita e insolente, mas, definitivamente, uma estátua.

— Você não vai falar nada? — indaguei, furioso por achar aquele trouxa bonito. — O gato comeu tua língua, daí?

— E o que você quer que eu fale? — por algum motivo, Lucas parecia chateado.

— Não sei, mas fala alguma coisa — rangi os dentes. — Convidar o Mateus, Lucas? Você é burro, piá?

— Pode ser que eu seja, mas não me julgo por isso — Lucas deu de ombros. — Quem nunca foi burro nessa vida, que atire a primeira pedra.

— Cadê a pedra para eu atirar na sua cabeça, Lucas?

Ao escutar a voz de Janaína, automaticamente olhei para a minha esquerda. Toda gostosa em um vestido branco, ela continha um sorriso maroto nos lábios e a malícia estampada em suas íris de jabuticaba.

— Por que você tá me olhando com essa cara de tédio, viado? — perguntou ela, os olhos brilhando mais ainda. — Eu nunca fui burra, me dá a pedra para eu atirar na sua cabeça.

— Cale-se! A conversa ainda não chegou no cemitério! — Lucas provocou a amiga, que instantaneamente estreitou as pálpebras pintadas de dourado. — E nem adianta fazer essa cara feia, amor. Eu ainda acho que esse vestido te deixou muito parecida com a Noiva Cadáver.

— Alguém sabe me dizer por que esse viado prematuro tá testando a minha paciência, Brasil? — a mulher saiu do sofá e se aproximou de nós. — Tá querendo me fazer gastar o meu réu primário faltando poucos minutos para o seu aniversário, cabrunco?

— Não liga para esse mal-educado, Jana — recomendei, novamente analisando a cara de pau do Lucas Rigozzi. — Você está linda, as duas estão.

— Obrigada, venerável cavalheiro — pelo canto do olho, percebi que Alícia sorriu e cruzou as pernas sensualmente. — Não vou me fazer de rogada, aceito o seu elogio.

— É um cavalheiro mesmo, um cavalheiro muito... gostoso... — atrevida, Janaína esticou o braço e apertou a minha bunda. — Ai, que badalo! Sempre quis sentir a textura de glúteos masculinos em uma calça de couro!

Meu rosto começou a arder instantaneamente. Eu não sabia que Janaína era atirada daquele jeito.

— Alícia, a cor do seu vestido tá refletindo no rosto do Gus — sorridente, Lucas fez questão de me provocar. — O que houve, mano? Você não aguenta um beliscão inofensivo nos fundilhos?

Jana gargalhou gostosamente.

— Não tente desconversar, seu filho da puta — todo envergonhado, resmunguei. — Eu quero saber por que você convidou aquele idiota para a sua comemoração.

Marcas do Passado: Incertezas do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora