~. Capítulo 9 .~

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"A sua paciência é a chave para a nossa felicidade.

Gustavo R. Pimentel.".

LUCAS

Desabei na cadeira giratória no momento exato em que Jonathan passou a chave na porta da sala de reuniões.

— O que tá acontecendo, Lucas? — perguntou o gerente, extremamente sério, enquanto se sentava diante de mim. — O que você queria conversar comigo com tanta urgência?

O nervosismo deixou minhas mãos trêmulas e suadas.

— Eu quero pedir as contas.

Talvez pelo impacto da informação, Jonathan não falou absolutamente nada. Eu sabia que seria assim, mas não imaginei que ele começaria a gargalhar depois de alguns segundos em silêncio absoluto — comportamento que intensificou o meu nervosismo.

— Isso é uma piada, né? — deduziu ele, o sorriso deixando ruguinhas ao lado de seus olhos castanhos. — 1º de abril foi há três meses atrás, Lucas.

— Eu tô com cara de quem tá brincando?

O sorriso de Jonathan se desfez aos poucos.

— O que o Mateus tem a ver com essa decisão, Lucas?

— Nada — menti.

— Como ator, você é um ótimo vendedor de móveis — esquadrinhando a minha face, ele tamborilou os dedos na superfície da mesa de madeira maciça. — Por que você não experimenta me contar a verdade? Quem sabe eu possa te ajudar.

Engoli em seco. Eu sabia que a verdade era a única saída, porém... o que eu fazia com o medo de ser julgado?

— Vocês não se bicam, né? — investigou Jonathan. — Por que você não gosta dele?

— Porque ele fodeu com a minha vida — sentindo a raiva me tomar, externei. — Eu quase me matei por causa daquele... egoísta.

O semblante de Jonathan, que até então demonstrava leves sinais de descontração, adquiriu um súbito e irreversível tom de preocupação.

— A coisa é mais séria do que eu imaginava, então — refletiu. — O que existiu entre você e o Mateus no passado, Lucas?

— Aquele jegue é meu ex, Jonathan — fechei os olhos por um instante. — E ele veio trabalhar aqui para infernizar a minha vida, é isso.

Inicialmente, eu relutei em abrir os olhos, mas acabei mudando de ideia ao me incomodar com o silêncio ensurdecedor da sala de reuniões. Ao erguer as pálpebras, deparei-me com os lábios de Jonathan no formato da letra "o". Quase dei risada da fisionomia de incredulidade do meu gerente.

— Lucas...? Lucas, você é gay?

— Desculpa não ter te contado antes — envergonhado, murchei os ombros. — Espero que isso não interfira em nossa amizade, cara.

— E por que interferiria? — ao se recompor do choque momentâneo, Jonathan voltou a tamborilar os dedos na mesa. — Eu não sou preconceituoso, moleque. E além do mais, quem come de tudo não passa fome?

— O que você tá querendo dizer com isso?

— Quer que eu desenhe? — esboçando um sorriso de canto, ele ergueu as sobrancelhas. — Para bom entendedor...

— Meia palavra basta — dei risada. — É sério que você...?

— Mais tarde, quando eu te der uma carona até a sua casa, a gente conversa sobre a minha vida pessoal — ele me interrompeu e pôs fim em todas as perguntas que eu queria fazer. — Agora, eu realmente gostaria que você me contasse um pouco mais sobre essa decisão ridícula de pedir as contas.

Marcas do Passado: Incertezas do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora