Rafaella
Minha mente demorou vários minutos para processar a informação com clareza. Eu não era a única herdeira? Mas Mauro havia se divorciado tinha anos da minha mãe e não tinha filhos, sendo eu a única que era reconhecida e levava seu nome apesar de não compartilharmos o mesmo sangue. Qualquer história além disso só poderia ser uma coisa:
— Um golpe. Depois de anos fielmente dedicados ao sobrenome você quer aplicar um golpe bem no momento do testamento. Logo você Daniel, que o Mauro sempre exaltou... — Era o filho do melhor amigo de Mauro, o que veio a se tornar seu confidente após a morte do pai e que se demonstrou dos mais nefastos interesseiros.
— Você está me ofendendo Rafaella, mas tudo bem, essa era uma reação totalmente esperada da parte do seu pai, é por isso que ele te deixou esse vídeo — O homem disse puxando de sua pasta um pendrive que prontamente conectou a televisão do escritório. Nele, aparecia aquele velho intragável.
— Se o Danie está te mostrando isso é porque você a acusou de golpe e isso Rafaella, é uma coisa que não me deixa surpresa, mas ainda assim decepcionado. Parece que em todos esses anos ainda não aprendeu a ser agradável, educada e confiar nas pessoas — E por qual razão seria, hein? Quase perguntei olhando a televisão — Mas não há golpe algum. Daniel apenas está cumprindo a minha última vontade: Deixar tudo para minhas duas herdeiras... — Saiu da sua boca, ou melhor, da imagem que um dia foi ele. Era no mínimo estranho pensar que ele continuava falando naquele tom superior como se ainda estivesse aqui e não estava.
Olhei para Daniel com a finalidade de captar suas reações e ele parecia esconder um sorrisinho através de uma mão abaixo do queixo, como quem vangloriava o velho por me conhecer muito mais do que eu achei que ele poderia.
— ...Eu não pensei que depois de passados tantos anos e com uma doença terminal eu encontraria a felicidade, mas encontrei uma mulher doce, batalhadora e com uma vontade de viver que não está associada a sua pouca idade, mas a gana que tem é que não via há tempos. Ela é uma luz no Mundo Rafaella e aposto que você vai amá-la tanto quanto eu a amei em cada um dos dias do curto tempo que passei com ela — Aquela conversa estava tomando um rumo meio estranho e eu não estava gostando disso. Tomei o controle da mão de Daniel e parei aquele curta-metragem de horror.
— Você deixou que uma mulher mais nova se aproximar de um senhor que você se dizia amigo e dar o golpe nele? Com alguém como você não é necessário um inimigo para estar do lado — Julguei e como já havia levantado da poltrona comecei a me preparar para sair da sala, sendo, no entanto, interrompida pela voz de Mauro outra vez.
— E não, não há nada de romântico antes que você comece a inventar que alguém se aproveitou de mim. Ela é alguém que conheci há pouco e que resultou ser uma filha minha a qual eu não sabia da existência... — Como é?
Definitivamente eu não estava preparada para essa reviravolta. Meu corpo todo outra vez incrédulo no intervalo de quinze minutos voltava a agir governado por pela mais completa surpresa. Isso parecia mais...
— ...Uma história de filme ruim, não é? Eu também não acreditei a princípio, mas depois de mais de cinco provas de DNA isso se comprovou. Como você não vai acreditar de primeira também eu informo que junto da pasta onde consta esse vídeo e algumas cópias do meu testamento você vai encontrá-las e se duvidar pode coletar meu material genético pela casa, pois pedi que Armênia não sumisse com minha escova de dentes nem a minha de cabelo antes da leitura...— Falou como se adivinhasse que eu faria um novo teste. Aliás, mesmo com suas piadinhas o exame não estava descartado.
—...Você deve estar curiosa para ouvir essa história completa e receio que essa vai ser a mais comprida que te contei em anos: Conheci a mãe da minha filha em julho de 2002, em plena conquista do penta da seleção brasileira. Eu não gostava de futebol e queria manter a loja aberta no dia do jogo, era o meu primeiro grande empreendimento e o lugar onde mais gostava de estar, mas ao mesmo tempo também não era um patrão horrível ao ponto de não deixar os funcionários irem tomar uma cervejinha no dia da final. Assim, liberei todo mundo e fiquei eu sozinho com a televisão quase no mudo. Acho que marque dia aquele aparelho não foi o único a ficar assim. Eu mesmo fiquei sem uma palavra na boca quando a carioca mais bonita que eu tinha visto na vida passou pela porta atrás de uma camisa do Rivaldo. Ela tinha acabado de sair do trabalho, achava que nem daria tempo de ver o primeiro tempo com o quão longe morava, mas não dispensava a camisa da sorte. Infelizmente eu não tinha a maldita camisa, havíamos vendido tudo mais cedo, mas insisti ainda sim que fizesse um cartão da loja e deixasse seu número para que eu ligasse assim que tivesse. Ela temeu que o Brasil não ganharia sem aquela superstição, mas eu garanti o amuleto não era a camisa, mas ela própria com sua beleza e energia. Tomei um fora, é claro, mas não desisti. Depois do título do Brasil não houve um dia de jogo que eu não mandasse uma camisa para ela. A carioca não recebeu nenhuma, seu o endereço errado, mas foi brigar comigo por todas aquelas camisas. Depois da briga consegui um encontro, depois outro e mais outro, foi o melhor ano da minha vida até ela sumir e Constança aparecer grávida — E essa parte eu conhecia bem.
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A família que herdei (Versão Rabia)
FanficRafaella e Bianca são de mundos totalmente distintos. Enquanto a primeira vive todos os privilégios de ter nascido uma herdeira a outra responde pelos infortúnios de ser uma mãe solteira no auge de sua juventude sem qualquer apoio ou subsídio. Duas...