Normani Kordei

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Fingimos que nada mudou. Que a noite passada não foi ao mesmo tempo incrível e esquisita. Mas a viagem de volta a Portland é carregada de uma tensão que nunca senti entre nós. Ainda conversamos. Ainda discutimos sobre o que ouvir no rádio. Ainda fazemos o jogo das placas de carros, cada uma tentando ser a primeira a lembrar uma palavra que contenha todas as letras da chapa à frente. Mas não consigo parar de pensar em ontem à noite. Sobre o que aconteceu ter sido importante de alguma forma. Quando enfim estacionamos diante da garagem de casa, fico aliviada. Preciso de um tempo sozinha para pensar. Para tentar descobrir o que achar do passeio de mãos dadas na praia e do sexo com intimidade que veio depois. No entanto, toda a minha intenção de ter um tempo para mim mesma se evapora no momento em que Dinah para o carro e vejo uma garota sentada nos degraus da frente. Minha mente congela. Em meio ao zumbido nos ouvidos, consigo ouvir Dinah murmurar: "Puta merda..."

É Halle. Ela está sentada na frente de casa e nos observa descer do carro com uma expressão indecifrável. Dinah pega nossa bagagem no banco de trás, colocando minha bolsa em um dos ombros e sua mochila no outro. Halle levanta, e a forma como encara Dinah sem dúvida nenhuma é cautelosa. Uma rápida olhada me diz por quê. O sorriso habitual está bem longe de passar por seu rosto. Toco o braço de Dinah, pedindo que se acalme. Seus olhos encontram os meus, e sua expressão é raivosa. Ela respeita meu pedido, apesar de não concordar, fazendo um simples aceno de cabeça em cumprimento para garota a nossa frente, ainda com a cara fechada.

- Oi, Dinah.

Halle sai do caminho para que Dinah passe. Se não tivesse feito isso, teria levado um esbarrão, tenho certeza.

- Estamos chegando agora de Cannon Beach. - explico, movida pela clara necessidade de dizer alguma coisa.

- Ah. Ela abre um sorriso tenso enquanto me observa. - Tenho boas lembranças daquele lugar. A maioria envolve entrar escondida no seu quarto no meio da noite.

Dinah enfia a chave na fechadura com raiva, claramente ouvindo a conversa, porque seus ombros ficam tensos. Não. Não! Isso está mesmo acontecendo? Em termos racionais, sei que Halle não pode estar dizendo aquilo para Dinah. Ela não tem como saber sobre ontem à noite. E fica óbvio pela expressão ligeiramente desesperada em seu rosto que é só uma tentativa de me lembrar dos bons tempos. Mas só sinto uma estranha vontade de ir atrás de Dinah e conversar com ela. De dizer que sim, Halle entrou no meu quarto uma vez ou outra, mas isso foi antes, antes...

- O que está fazendo aqui? - pergunto a ela, de repente irritada com sua presença.

Ela se encolhe um pouco, provavelmente por causa do meu tom nada empolgado.

- A gente pode conversar?

Viro mais uma vez para Dinah, só para ver quando bate a porta sem nem olhar para trás. Levo os dedos à testa, sentindo uma dor de cabeça surgir do nada.

- Claro.

O que mais eu poderia dizer para a garota que namorei por cinco anos? Apesar de ter levado um fora dela? Sento no degrau. Halle franze a testa, confusa, provavelmente pelo frio. Conversar dentro de casa faria muito mais sentido. Mas não quero as duas no mesmo ambiente. E não sei se quero Halle na minha casa antes de ouvir o que ela tem a dizer.

- Hã, certo. - ela fala, sentando ao meu lado, mas sem encostar em mim. - Então Dinah foi com você para Cannon Beach?

- Foi.

Isso não explica muita coisa, mas não devo nenhuma satisfação a ela. Mesmo assim, é estranho ela ter perguntado. Uma das melhores coisas de Halle era que não tinha
ciúme de Dinah. Ela sempre pareceu capaz de entender o que as outras pessoas se recusavam a aceitar. Mas detecto um sinal de tensão em sua voz agora, como se tivesse sentido uma mudança no clima entre
mim e Dinah. Apesar de nem eu saber que mudança era. Pensei que soubesse, mas agora... Halle olha para o céu, que está nublado, mas pelo menos não chove.

Just Friends - NorminahOnde histórias criam vida. Descubra agora