Sei Quem Você é - Capítulo 30

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Piscou fortemente os olhos, esperando que se ajustessem à luz forte que contrastava com a escuridão de suas pálpebras. Demorou para distinguir e se lembrar o que havia acontecido. Não conseguia se mexer.

De novo, presa de novo. O mesmo sentimento de impotência de novo. O coração batendo rápido de novo. A respiração acelerada de novo. Tudo de novo.

— Você tem trauma de ficar presa? — Ouviu uma voz feminina, com dificuldade, rolou seus olhos lacrimejantes na direção, a mesma garota loira que viu no bar estava sentada em um banco alto, balançando os pés, segurava uma faca reluzente e sorria.

— Vai tirar esse sorrisinho do rosto quando eu sair daqui! — Tsuki disse com a voz trêmula, mas estava sorrindo, e esperava que seu sorriso parecesse confiante o suficiente. — Onde eu estou?

— E por que eu te contaria? — Com um pulinho, ela desceu do banco e se aproximou de Tsuki. Passou por ela e desapareceu de sua visão.

— Deixa 'pra lá. — Tsuki olhou para frente e depois fechou os olhos, respirando fundo, sentia todo o seu corpo tremer ao reviver aquele trauma. Tentava controlar a respiração acelerada. — Que tipo de invocação o tal Dabi tem comigo? Parece um demônio me perseguindo.

— Eu estou aqui também. — Tsuki ouviu a voz dele, estava atrás dela. Abriu os olhos azuis, virou a cabeça tentando olhar para trás, mas ainda não conseguia vê-lo.

— Que bom, assim não vou precisar falar 'pra você depois de novo. — Com dificuldade, a garota deu de ombros. — Mas e aí? Por que caralhos você invocou comigo que nem um capeta?

Para a surpresa de Tsuki, Dabi a respondeu:

— Porque você 'tá na lista.

— Que lista?

— Sequestradores não devem respostas à seus sequestrados. Se contente com isso.

Tsuki revirou os olhos, olhou para baixo, presa a uma cadeira novamente. Aquela merda de treino com Endeavor de como se livrar de um sequestro acabou não servindo de nada. Foi desnecessário naquela época e desnecessário em sua atual situação. Não havia cordas nem mordaça. E sim suas mãos presas a uma pedra que não conseguiria quebrar e todo o seu corpo rente àquela cadeira de forma desconfortável. Mas afinal, era um sequestro, a última coisa que iria se sentir era confortável.

Longos minutos de silêncio se passaram, não se sabe quanto, mas para Tsuki foram horas e horas, até tentou calcular uma possível rota de fuga, mas impossível. Além de que não conseguia se soltar, estava cansada demais e com dor, não conseguiria lutar contra a mulher loira e Dabi.

— Caralho, não tem nada de útil no seu celular hein? — Dabi comentou.

— Sou uma adolescente, acha mesmo que teria algo útil aí? Não tem nada além de jogos e música.

— Estou vendo. — Ele respondeu. — Você não tem o número do seu pai?

— Tenho. E ele não é meu pai.

— Você disse que era.

— Só chantagem. — Tsuki riu sem graça. Não tinha nada a perder agora. — Procura aí, 'tá salvo como "fogueira do inferno".

Dabi soltou uma risada curta, olhando para a garota com dúvida.

— Estou falando sério. — Tsuki riu também. — Vão ligar 'pra ele e dizer: "sequestramos sua filha, queremos um trilhão de ienes agora se não ela morre"? Sinto muito, mas não vai dar certo. — Ficou em silêncio, abaixando o olhar. — Ele ainda tem o Shouto, e se acontecer alguma coisa com ele, Enji só vai tentar outro filho.

— Não pretendemos isso.

— E o que pretendem?

— Não acha que está sendo invasiva demais? Podemos te matar aqui mesmo.

— Se quisessem mesmo me matar, já teriam feito. Além disso, não tenho medo da morte.

— E do que tem medo?

— Sei lá... Da minha irmã falando meu nome completo.

— Medo plausível.

Um celular tocou, a menina loira atendeu e conversou com alguém.

— Tomura-chan está me chamando. Você também.

— E quem vai ficar aqui com ela?

— Como se eu pudesse sair. — Tsuki brincou.

— Você sabe se livrar de um sequestro. — Dabi afirmou.

— Como você sabe disso?

— Devem ensinar na U.A., não? Vai lá, Toga. Diga a ele que eu vou depois.

— Ok. — Ela respondeu, Tsuki logo viu ela passando em sua frente brincando com a faca na mão, Toga destrancou uma porta e saiu.

— Eu sei quem você é. — Disse Tsuki.

— Não, não sabe. — Dabi contrariou.

— Sim, sei. — Tsuki insistiu. — Eu sei seu nome.

— Sim, Toga acabou de falar.

— O nome verdadeiro. Dabi. — Enfatizou com ironia. Se pudesse mover as mãos, teria feito aspas.

— Continua com essa paranoia? 'Cê é doida, menina.

— Certo, certo. Vou fingir que acredito em você.

Tsuki não estava se sentindo bem. Não era nem por conta do sequestro, mas sim fisicamente. Podia ver que estava mais pálida que o normal, se sentia cansada demais e faltava ar em seus pulmões. Deveria ser por conta do sangue perdido em todo aquele tempo. Além de que não havia comido nada e nem bebido água.

Sua cabeça pesou para baixo, os olhos azuis opacos, respirava devagar e com dificuldade.

— Menina?

Ouviu a voz de Dabi, estava distante.

— Menina? — Ele repetiu. — 'Cê morreu?

Sentiu suas mãos puxarem sua cabeça para cima pelo cabelo.

— Ei. — Ele a chamou novamente.

Não conseguia responder, nem dizer que estava doendo, mas ele pareceu perceber alguns segundos depois, pois soltou os cabelos da garota e passou a segurá-la pelas bochechas com uma mão, a outra estava apoiada na própria cintura, como se estivesse se perguntando o que fazer. Ele a encarava com dúvida.

— Quantos dedos tem aqui? — Dabi levantou dois dedos da outra mão, Tsuki não conseguia falar. Ele estalou a língua e suspirou. — Pisca três vezes se está morrendo.

Tsuki piscou muito mais de três vezes.

— Ok.

Ele a soltou e cruzou os braços, ainda em dúvida do que fazer. Se pudesse, talvez gritaria um "ei, Alexa, o que fazer quando alguém está tendo uma hemorragia?".

Dabi saiu da sala. Um tempo depois, Tsuki viu que alguns dos outros vilões entraram junto dele.

— Ela 'tá morrendo. Sei o que fazer não. — Dabi explicou.

— Ela 'tá tendo uma hemorragia! — O vilão lagarto se aproximou preocupado.

— Que linda! — Toga elogiou.

— Precisaremos soltar. — Disse Mr. Compress.

— Solta. Ela não vai conseguir fazer nada, mesmo. Vai lá Spinner. — Toga sugeriu.

Tsuki viu o vilão lagarto ir para trás da cadeira e todas as correntes que a prendiam afrouxaram. Ele tirou a pedra que prendia suas mãos e a colocou deitada no chão.

— As feridas abriram. — Mr. Compress se ajoelhou perto da garota. — Dabi, traz o kit de primeiros socorros.

— A gente tem isso?

— Só traz!

A Caçula TodorokiOnde histórias criam vida. Descubra agora