Piscou fortemente os olhos, esperando que se ajustessem à luz forte que contrastava com a escuridão de suas pálpebras. Demorou para distinguir e se lembrar o que havia acontecido. Não conseguia se mexer.
De novo, presa de novo. O mesmo sentimento de impotência de novo. O coração batendo rápido de novo. A respiração acelerada de novo. Tudo de novo.
— Você tem trauma de ficar presa? — Ouviu uma voz feminina, com dificuldade, rolou seus olhos lacrimejantes na direção, a mesma garota loira que viu no bar estava sentada em um banco alto, balançando os pés, segurava uma faca reluzente e sorria.
— Vai tirar esse sorrisinho do rosto quando eu sair daqui! — Tsuki disse com a voz trêmula, mas estava sorrindo, e esperava que seu sorriso parecesse confiante o suficiente. — Onde eu estou?
— E por que eu te contaria? — Com um pulinho, ela desceu do banco e se aproximou de Tsuki. Passou por ela e desapareceu de sua visão.
— Deixa 'pra lá. — Tsuki olhou para frente e depois fechou os olhos, respirando fundo, sentia todo o seu corpo tremer ao reviver aquele trauma. Tentava controlar a respiração acelerada. — Que tipo de invocação o tal Dabi tem comigo? Parece um demônio me perseguindo.
— Eu estou aqui também. — Tsuki ouviu a voz dele, estava atrás dela. Abriu os olhos azuis, virou a cabeça tentando olhar para trás, mas ainda não conseguia vê-lo.
— Que bom, assim não vou precisar falar 'pra você depois de novo. — Com dificuldade, a garota deu de ombros. — Mas e aí? Por que caralhos você invocou comigo que nem um capeta?
Para a surpresa de Tsuki, Dabi a respondeu:
— Porque você 'tá na lista.
— Que lista?
— Sequestradores não devem respostas à seus sequestrados. Se contente com isso.
Tsuki revirou os olhos, olhou para baixo, presa a uma cadeira novamente. Aquela merda de treino com Endeavor de como se livrar de um sequestro acabou não servindo de nada. Foi desnecessário naquela época e desnecessário em sua atual situação. Não havia cordas nem mordaça. E sim suas mãos presas a uma pedra que não conseguiria quebrar e todo o seu corpo rente àquela cadeira de forma desconfortável. Mas afinal, era um sequestro, a última coisa que iria se sentir era confortável.
Longos minutos de silêncio se passaram, não se sabe quanto, mas para Tsuki foram horas e horas, até tentou calcular uma possível rota de fuga, mas impossível. Além de que não conseguia se soltar, estava cansada demais e com dor, não conseguiria lutar contra a mulher loira e Dabi.
— Caralho, não tem nada de útil no seu celular hein? — Dabi comentou.
— Sou uma adolescente, acha mesmo que teria algo útil aí? Não tem nada além de jogos e música.
— Estou vendo. — Ele respondeu. — Você não tem o número do seu pai?
— Tenho. E ele não é meu pai.
— Você disse que era.
— Só chantagem. — Tsuki riu sem graça. Não tinha nada a perder agora. — Procura aí, 'tá salvo como "fogueira do inferno".
Dabi soltou uma risada curta, olhando para a garota com dúvida.
— Estou falando sério. — Tsuki riu também. — Vão ligar 'pra ele e dizer: "sequestramos sua filha, queremos um trilhão de ienes agora se não ela morre"? Sinto muito, mas não vai dar certo. — Ficou em silêncio, abaixando o olhar. — Ele ainda tem o Shouto, e se acontecer alguma coisa com ele, Enji só vai tentar outro filho.
— Não pretendemos isso.
— E o que pretendem?
— Não acha que está sendo invasiva demais? Podemos te matar aqui mesmo.
— Se quisessem mesmo me matar, já teriam feito. Além disso, não tenho medo da morte.
— E do que tem medo?
— Sei lá... Da minha irmã falando meu nome completo.
— Medo plausível.
Um celular tocou, a menina loira atendeu e conversou com alguém.
— Tomura-chan está me chamando. Você também.
— E quem vai ficar aqui com ela?
— Como se eu pudesse sair. — Tsuki brincou.
— Você sabe se livrar de um sequestro. — Dabi afirmou.
— Como você sabe disso?
— Devem ensinar na U.A., não? Vai lá, Toga. Diga a ele que eu vou depois.
— Ok. — Ela respondeu, Tsuki logo viu ela passando em sua frente brincando com a faca na mão, Toga destrancou uma porta e saiu.
— Eu sei quem você é. — Disse Tsuki.
— Não, não sabe. — Dabi contrariou.
— Sim, sei. — Tsuki insistiu. — Eu sei seu nome.
— Sim, Toga acabou de falar.
— O nome verdadeiro. Dabi. — Enfatizou com ironia. Se pudesse mover as mãos, teria feito aspas.
— Continua com essa paranoia? 'Cê é doida, menina.
— Certo, certo. Vou fingir que acredito em você.
Tsuki não estava se sentindo bem. Não era nem por conta do sequestro, mas sim fisicamente. Podia ver que estava mais pálida que o normal, se sentia cansada demais e faltava ar em seus pulmões. Deveria ser por conta do sangue perdido em todo aquele tempo. Além de que não havia comido nada e nem bebido água.
Sua cabeça pesou para baixo, os olhos azuis opacos, respirava devagar e com dificuldade.
— Menina?
Ouviu a voz de Dabi, estava distante.
— Menina? — Ele repetiu. — 'Cê morreu?
Sentiu suas mãos puxarem sua cabeça para cima pelo cabelo.
— Ei. — Ele a chamou novamente.
Não conseguia responder, nem dizer que estava doendo, mas ele pareceu perceber alguns segundos depois, pois soltou os cabelos da garota e passou a segurá-la pelas bochechas com uma mão, a outra estava apoiada na própria cintura, como se estivesse se perguntando o que fazer. Ele a encarava com dúvida.
— Quantos dedos tem aqui? — Dabi levantou dois dedos da outra mão, Tsuki não conseguia falar. Ele estalou a língua e suspirou. — Pisca três vezes se está morrendo.
Tsuki piscou muito mais de três vezes.
— Ok.
Ele a soltou e cruzou os braços, ainda em dúvida do que fazer. Se pudesse, talvez gritaria um "ei, Alexa, o que fazer quando alguém está tendo uma hemorragia?".
Dabi saiu da sala. Um tempo depois, Tsuki viu que alguns dos outros vilões entraram junto dele.
— Ela 'tá morrendo. Sei o que fazer não. — Dabi explicou.
— Ela 'tá tendo uma hemorragia! — O vilão lagarto se aproximou preocupado.
— Que linda! — Toga elogiou.
— Precisaremos soltar. — Disse Mr. Compress.
— Solta. Ela não vai conseguir fazer nada, mesmo. Vai lá Spinner. — Toga sugeriu.
Tsuki viu o vilão lagarto ir para trás da cadeira e todas as correntes que a prendiam afrouxaram. Ele tirou a pedra que prendia suas mãos e a colocou deitada no chão.
— As feridas abriram. — Mr. Compress se ajoelhou perto da garota. — Dabi, traz o kit de primeiros socorros.
— A gente tem isso?
— Só traz!
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A Caçula Todoroki
FanfictionSeus olhos eram azuis, assim como suas chamas. Seu gelo era cristalino e tão afiado quanto o seu linguajar. Seus cabelos eram bicolores assim como os de seu gêmeo. Atitude rebelde como o mais velho Porém, era protetora como a segunda. Mas teimosa e...