Sonhos - Capítulo 38

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A noite foi difícil para Tsuki, não dormiu direito, os pensamentos sobre o porquê de Endeavor não estar participando da investigação do seu desaparecimento a perturbaram a noite toda.

Porque ela sabia o motivo.

Quando finalmente conseguiu dormir por mais algum tempo, teve um pesadelo. Um pesadelo horrível.

Tinha quatro anos novamente. Estava no quintal de casa, se levantando do chão depois de uma queda. Sentia o suor em seu corpo, partes dele queimarem fortemente e a temperatura mudando constantemente a ponto de quase enlouquecê-la. Ficou de joelhos no chão e olhou para cima, vendo a sombra de Enji, de braços cruzados, olhando para ela com uma superioridade sufocante.

Tsuki olhou para o lado, Shouto, também com quatro anos, estava desmaiado no chão alguns metros de distância. Queimaduras espalhadas por seu corpo.

Seu corpo tremia, tremia de cansaço, de frustração, de fraqueza, de enjoo e de medo, muito medo. Mas tremia principalmente de ódio.

Assim que se levantou para olhar nos olhos de Enji, aqueles olhos que tanto odiava encarar, Tsuki ouviu um grito. Um grito familiar.

Um grito cheio de dor e desespero.

O grito de Touya quando ele morreu.

Ouviu aquilo pelo menos quinze vezes mais alto. Ensurdecedor, enlouquecedor.

Tampou os ouvidos com as mãos, sentindo-se cair de novo no chão, sua cabeça já doía devido a força que tentava parar de ouvir aquele grito infinito, fechava os olhos com força.

E então, tudo parou. Quando abriu os olhos, tudo estava escuro, não enxergava nada. Estava sozinha, no meio de uma escuridão profunda e sem fim.

Quando seus ouvidos pararam de zumbir, escutou uma voz.

Tsuki?

Reconheceu imediatamente.

Touya?! — Tsuki se levantou rapidamente, olhando para seu corpo, estava crescida novamente. Olhou para os lados. Atrás dela, estava Touya.

Os cabelos brancos com apenas alguns resquícios de mechas avermelhadas, os olhos azuis tão gentis como sempre foram ao olhar para ela, agora mais baixo que ela, pois ele ainda deveria ter uns treze anos. Ele estava com sua camisa favorita, e sorrindo. À alguns metros dela.

Tsuki relaxou ao vê-lo.

Touya...

Ela se aproximou do garoto e tentou tocá-lo, hesitou, suas mãos tremiam, estava com medo de que ele sumisse quando o tocasse.

Mas nada aconteceu quando Tsuki o tocou no rosto. Pelo contrário, ela o sentiu. E ele sorriu.

Lágrimas rolaram pelo rosto de Tsuki, ela o puxou para perto e o abraçou. Touya retribuiu o abraço.

Eu preciso de ajuda, Tsuki.

O quê? — Ela diminuiu o aperto em volta do corpo do menino.

Me ajude, por favor, maninha. Seu maravilhoso irmão está com problemas.

Touya se afastou, andando de costas ainda encarando ela. Tsuki deu um passo e estendeu o braço para tentar puxá-lo de novo.

Tsuki acordou num susto, sentia uma falta de ar enorme. Já era dia, a luz do sol iluminava um pouco o quarto através das frestas da cortina.

Respirou ofegantemente, aos poucos percebendo que foi apenas um sonho, não era real, se acalmou e passou a mão em sua testa suada, deu um suspiro longo e se levantou da cama.

A Caçula TodorokiOnde histórias criam vida. Descubra agora