Desabafos e os Pensamentos de Aizawa - Capítulo 33

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— É bem abusada pra ficar desobedecendo, não?

— Acho que sou, sim. — Tsuki se levantou, dando passos na direção do vilão. — Não tenho medo de você, não mais.

Mentira, Tsuki estava tremendo, mas não deixou que ele percebesse.

— Deveria ter. — Dabi mudou centímetros a direção a arma e puxou o gatilho, a bala passou raspando ao lado do rosto da menina.

— Sabe do que tinha medo, Dabi? — A garota parou a quatro passos do vilão, sua cabeça abaixada. — De quando meu pai chegava estressado do trabalho. De quando minha mãe entrava na minha frente quando eu ia apanhar. Até hoje eu sinto meu corpo tremer de pânico só ao ver ele se aproximando de mim. — Ela olhou para a cicatriz, que agora estava coberta por uma faixa.

Dabi revirou os olhos. Claro que ele sabia como ela se sentia. Ele havia passado pela mesma coisa. A exata mesma coisa.

Tsuki abraçou o próprio corpo.

— Eu pensei sobre o que você me disse.

— Que Deus te fez com restos?

— Não. — A Todoroki deu uma risada sem graça. — Você tava certo. Eu nunca parei pra pensar se ser super heroína era o que eu queria...

Silêncio.

— Por que tá desabafando comigo?

— Não é com você. É comigo mesma... Não sei qual era a sua relação com seu pai, se é que você teve um, mas eu não desejo um pai como o meu nem para o meu pior inimigo.

Dabi estava visivelmente confuso.

Todoroki não sabia porquê estava contando tudo aquilo. Talvez realmente já estivesse perturbada mentalmente o suficiente.

— Me diz uma coisa. Quando pegou meu celular, você olhou a galeria?

— Sim.

— Por favor me diga que não apagou nada. — Sua voz tremeu. Seu coração apertava só de pensar em perder as últimas memórias de seu irmão. — O que aconteceu com meu celular?

— Tá com fome? — Ignorou completamente a pergunta da menor.

— Não... — Tsuki sorriu, um sorriso melancólico. — Houve uma vez que tentamos fritar bacon com nossas individualidades. — Ela riu.

A Todoroki voltou para o colchão, ainda rindo. Deitou-se, olhando para o teto.

— Teve outro dia que a Fuyumi tentou ensinar nós quatro a cozinhar. A conta saiu cara naquele dia, todos apanhamos depois, mas valeu a pena, foi um dia legal. — Tsuki continuou rindo.

Dabi continuava em silêncio, apenas os sons das armas sendo carregadas e as risadas da garota preenchiam o cômodo.

Tsuki parou de rir.

— Obrigado por não me prenderem mais. Sabe, a Toga tava certa naquela hora, eu tenho trauma. Pensando bem, eu tenho muitos traumas. — Riu novamente. — Não consigo mais chegar perto de chaleiras, nem nada com água fervendo.

Dabi segurou a risada.

— Como será que tá o Aizawa-sensei? — A voz da menina mudou, agora estava triste. — Sabe, foi pouco tempo que convivi com ele, mas ele foi quase um pai pra mim...

Silêncio.

— Você teve pai? — O semblante de Tsuki mudou novamente, antes triste, agora curioso, a curiosidade também presente em sua voz.

— Não. — Dabi se contentou em dizer apenas isso.

— Por isso que tá sequelado assim.

— Quer levar outro tiro? Dessa vez eu não vou errar.

A Caçula TodorokiOnde histórias criam vida. Descubra agora