Depois de ter recebido a notícia voltei pra casa, tentei levantar a cabeça, por mais que tudo me dizia que estava derrotado...poderia morrer amanhã e deixar todo mundo magoado.
Os meus amigos, a minha família, a mulher que eu amo.
No entanto, não quis deixar ninguém preocupado, então mantive tudo em off, ia normalmente umas duas vezes por mês ao hospital pra fazer consultas novas, até o momento de ser operado.
E do outro lado estava a Lia, em outra cidade, a começar outra vida, um novo amor...
Tentei ficar feliz por ela, sabendo que ela tentou ficar feliz por mim, sei o quanto lhe magooei, pois na altura que vos conto isto tudo eu sofri 3 vezes mais.
Nesse período afastei-me de todo mundo, amigos, conhecidos, colegas...até família.
As únicas pessoas que sabiam da minha situação eram os meus melhores amigos e os meus pais, eu tinha medo de partir e receber o tipo de mensagem na timeline "porquê que me deixaste, foste sem despedir"...
Juro que já conseguia sentir a dor de todo mundo, junto com a minha, sentiria-me culpado em saber que ao ir, magooei-os a todos, então preferi bazar sem deixar rastos, como um fantasma, como alguém que nunca existiu...
Apaguei as redes sociais, tornei-me incontável.
Em casa não fazia nada além de comer e dormir, cada dia que passava perdia mais peso, nesse momento estava a pesar 47kg...e aproximava-se a semana da operação...
Não podia falar com ela, era o que mais me doía, sei que ela nunca iria me perdoar por ir e não avisar, mas preferia assim do que vê-la chorar mais uma vez.
Na semana da operação, recebi uma mensagem do hospital com algumas indicações de coisas que teria que comprar, pois ia ficar alguns dias internado depois de ser operado...não sabia se devia acreditar nessa possibilidade, ou se apenas devia ir, fazer o que eles queriam.
Na lista de compras, havia pijamas, roupa interior, cobertores, cenas pra banho e coisas assim...
Por mais incrível que pareça, eu estava calmo, só à espera do meu destino...Então a minha mãe finalmente veio de Luanda, até a minha casa em Lisboa, foi um pouco difícil de encontrar, mas assim que a vi na rua, fui logo a correr lhe dar um abraço, e confesso que chorei, chorei mesmo...
Ela tava tão emocionada quanto eu, temia perder o seu primeiro filho, eu chorava por ela.
Sentamos, conversamos, deixei-lhe um pouco mais calma, ela como costume, só dizia que eu tava muito magro e pálido, mandou-me comer toneladas de sopa, sopa e mais sopa, chegou um tempo que já estava enjoado de cagar líquido, nada que um bom frango grelhado com arroz e feijão preto não resolvesse...
No dia seguinte ela veio ter comigo pra irmos comprar as coisas que disseram no hospital...então fomos logo ao colombo, porque ela queria também aproveitar pra se comprar umas coisitas...vocês sabem como são as mães angolanas.
Foi um dia antes da minha operação marcada.
No meio disso tudo, estávamos lá na embaixada de angola (colombo)...
E recebo uma mensagem no whatsapp de um número estranho, não estava nem gravado, e como era um áudio, limitei-me a reproduzir e ver o que era, ou quem era...
Assim que comecei a ouvir, arrepeei-me com a mensagem...
"Olá mano, tudo bem?, olha não sei porquê mas senti que tinha que te passar essa mensagem de Deus, ele quer que tu saibas que vai tudo correr bem, que tu és amado, tu és querido, e não deves temer nada, porque Deus é contigo."
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BROWN EYES - Volume 2
Teen FictionKevin Vieira, depois de perder quase tudo que tinha, inclusive o amor da minha vida, a minha saúde e esperança, espero que exista algo melhor pra mim no final disto tudo... Embora estas festas, viagens e profecias...o que será da nossa história se n...