Chapter 1

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Retirar todas aquelas ataduras era algo que eu gostava muito toda vez que o despia, mas havia precisado de muito tempo para conseguir tal proeza. Assim como também precisei de muito tempo para aceitar aquilo.

Na verdade, eu não havia aceitado, apenas ignorava as marcas que se estendiam por todo seu braço, insistindo em me lembrar o tipo de pessoa com que eu estava lidando.

Dazai era um sujeito incrível em vários sentidos, principalmente no ruim. Ele conseguia ser extremamente profissional, inteligente, observador e bonito até demais. Mas conseguia ser o extremo oposto quase que na mesma intensidade. Havia algo que ele conseguia ser de forma mais intensa que todos os traços que ele costumava mostrar: obscuro.

Todos nós temos um lado assim que às vezes não é tão perceptível, mas em Dazai chegava a me assustar às vezes.

Oque devia ter sido apenas uma consulta havia se tornado uma transa, que havia se tornado algo bizarro. Uma das coisas que mais me incomodava era quando ele pedia a minha mão em uma espécie de suicídio duplo. Ele sempre era levado na brincadeira pelos demais, mas aquilo era real.

Sincero.

Sincero demais.

E aquilo me machucava porque eu não consegui fazer o papel de apenas mais uma. Eu me afeiçoei a pior pessoa possível: a uma pessoa que queria morrer. Pode parecer bizarro criar elo com alguém assim, mas não foi premeditado ou proposital.

Lembro- me como se fosse hoje.


Meses antes

O olhar dele era pesado e acusatório e eu era alvo de sua observação como se eu tivesse acabado de cometer um crime terrível. Nos últimos dias eu me sentia julgada na presença dele, mas por nunca ter passado por um psicólogo antes talvez uma consulta se resumisse a isso: ser observada como um animal em cativeiro por um cientista que o usa para seus estudos científicos.

Dazai Osamu era o meu primeiro psicólogo e naquele momento estava sentado de forma ereta na cadeira com as pernas cruzadas e uma prancheta em suas mãos. Prancheta que eu desconfiava que estava ali apenas de enfeite pois ele nunca fez uso da mesma.

Será que ele não via nada interessante o suficiente em mim para colocar ali? Ou me achava tão perturbada das idéias para prestar total atenção em mim e ignorar o objeto em mãos?

De qualquer forma, era oque ele costumava fazer. Vez ou outra a caneta pousava sobre seus lábios e nessas horas eu tinha total certeza que ele estava pensando demais em algo que eu havia dito e eu imediatamente me arrependia de tal ato:

-Então Mei-san- ele disse descruzando a perna- O término recente aumentou esses sentimentos ruins?

-Sim. Em cem vezes.

Era minha terceira consulta em duas semanas e eu ainda me sentia um lixo pelo ocorrido, decidindo me submeter às consultas, pois eu simplesmente não conseguia superar o maldito cafajeste:

-Já aconteceu algo semelhante a isso? Que tenha feito se sentir dessa forma.

Eu odiava a capacidade que ele tinha de fazer as perguntas específicas demais e me colocar contra a parede:

-Sim.

-O que?

-Preciso mesmo falar sobre isso?- franzi o cenho nada disposta a falar naquilo.

-Precisa. Não posso ler mentes, mas posso te entender com sua ajuda.

Ele disse aquilo, mas eu tinha quase certeza que ele lia sim. Aquele homem parecia me conhecer muito melhor do que eu mesma. Ou a psicologia era algo fascinante ou ele era surreal:

Reverse Psychology- Imagine Dazai OsamuOnde histórias criam vida. Descubra agora