Chapter 2

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Alguns meses se passaram para que eu fosse liberada das sessões com Dazai e eu não poderia estar mais feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz por estar melhor de todas as minhas guerras internas e por finalmente não precisar mais me encontrar com aquele homem. E triste por não precisar mais me encontrar com aquele homem.

A terapia havia me feito seguir em frente no que dizia respeito a traumas passados, principalmente envolvendo meu ex. O problema é que eu superei de forma tão eficiente que já estava caidinha por outra pessoa. O outro problema é que essa pessoa era meu psicólogo leitor de mentes que muito provavelmente notou o rumo que meu coração havia decidido tomar. Mas não disse nada.

Sei que há normas que devem ser seguidas entre um profissional e sua paciente então aquilo não passaria de desejos secretos que ninguém nunca saberia.

Oque as pessoas não podiam saber também era que após o ocorrido do bar e após a minha alta nós acabamos nos encontrando novamente e não foi coincidentemente e muito menos rápido. Na verdade foi bem demorado.

Eu estava em uma cafeteria me abrigando da chuva e tomando um café meio amargo para despertar antes de chegar ao trabalho e degustando uma rosquinha doce demais. Ouvi a porta abrir e segundos depois o dono de cabelos castanhos passou por mim, mas não pareceu ter me visto. Agradeci por isso, pois eu engasguei com meu café.

Ele pediu algo no balcão e checou algo no celular. Seu pedido não demorou a ficar pronto e quando ele se virou seus olhos vieram de encontro aos meus. O tempo pareceu parar quando ele olhou para mim. E apesar de tudo, ele não demonstrou surpresa.

Dazai veio em minha direção e eu achei que ele apenas me cumprimentaria e seguiria seu destino, mas ele se sentou no sofá a minha frente colocando o casaco próximo a si:

-Olá- ele me cumprimentou sorridente.

-Está me seguindo doutor?

-Não, te vi apenas agora.

Ele pousou uma mão sobre a mesa de uma forma que a manga de sua blusa subiu um pouco, me dando a visão de suas ataduras. Tentei desviar o olhar e disfarçar minha curiosidade, mas era tarde demais, pois ele percebeu minha espiada:

-Me desculpe.

-Tudo bem- ele tomou um gole de seu café.

-Está indo para o trabalho?- perguntei pateticamente, mas eu precisava mudar de assunto.

-Sim- Dazai olhou para o celular e pegou o casaco que havia colocado ao seu lado- E você?

-Irei em breve- eu precisava sair logo dali, mas não queria ir junto com ele.

Ele me encarou analisando algo em mim que eu nunca soube oque era:

-A que horas você entra?

-Por quê?

-Toda vez que você responde minhas perguntas com outra pergunta é porque ou está escondendo algo ou não quer falar sobre Mei.

Eu adorava como ele dizia meu nome sem qualquer titulo honorífico, soava tão intimo apesar de não sermos amigos:

-Não estou escondendo nada.

-Todos nós temos algo a esconder.

-E você adora descobrir essas coisas- falei sem pensar.

-Não gosto de todas as coisas que descubro. Apenas preciso delas para ajudar quem as revela.

-Que tipo de coisa gosta de descobrir?

-Não são bem as coisas, mas sim de quem elas vêm- ele percebeu que não entendi- Você por exemplo. Eu sempre ficava ansioso por nossas consultas.

Prendi o fôlego:

-Ficava?

-Sim.

-O que há de tão interessante em mim?

Ele me deu um sorriso genuíno:

-Você estava envolta em uma tristeza profunda. Mas mesmo com ela ali você agia como se nada estivesse acontecendo, escondendo tudo muito bem. É fascinante.

Eu estava ouvindo direito ou um psicólogo havia acabado de me dizer que achava minha tristeza fascinante?

-Mas fiquei de fato fascinado quando vi você caminhar para fora da escuridão. Senti inveja.

-Inveja?

-Sim, inveja.

-Por que inveja?

Ele relutou um pouco antes de responder, Achei que ele diria que gostava de ver seus pacientes melhorando, mas não foi oque saiu da boca dele:

-Não estou nessa carreira para fazer a vida das pessoas melhor. Mas para encontrar respostas.

-Quanto ao que?

-A escuridão que reside em mim.

Sentada em uma cafeteria, as 07:30 da manhã com meu ex psicólogo sentado a minha frente com seu café em mãos e me encarando do jeito fixo costumeiro enquanto me revelava que seu interior era pior que o meu. A informação travou no meu cérebro, pois nele terapeutas são pessoas com a saúde mental em dia buscando ser o apoio de pessoas abaladas:

-É muito para digerir?

-O que?- acordei do transe- N- não, é só que... Eu não esperava essa informação.

-Bem, é com esse tipo de coisa que lido todos os dias.

Dazai levantou:

-Vamos?

Olhei para ele me perguntando por que ele queria que fosse com ele a algum lugar, notando minha confusão ele prosseguiu:

-Estou de carro. Vou te dar uma carona.

Não sei se aquilo era uma boa idéia. Será que ele conseguia dirigir sem passar o tempo todo analisando cada gesto meu? Em seu consultório havia pessoas do lado de fora da sala esperando por sua vez com o homem bonito, em seu carro seria apenas nós dois. Pensando bem, eu nem devia pensar naquilo já que havia dormido na casa dele.

E mesmo tendo dormido lá, a única interação que tivemos foi pela manhã e quando saí dali. Dazai manteve o máximo de distancia possível o tempo todo.

Me apressei agradecendo por não precisar pegar um metrô lotado e observando as costas daquele homem misterioso. Vendo aquele rosto bonito ninguém jamais imaginaria que palavras como aquelas poderiam sair de seus lábios.

Meses depois eu descobriria que vendo aquele sorriso tão belo, ninguém jamais imaginaria oque ele guardava dentro de si:

-Tudo bem?- ele perguntou notando meu silêncio.

-Sim.

Naquele dia ele me deixou no meu emprego e de alguma forma havia descoberto o horário que eu ia embora, me buscando sem que eu pedisse e me levando para um lugar já conhecido.

Reverse Psychology- Imagine Dazai OsamuOnde histórias criam vida. Descubra agora