HELLISH • jjk x pjm

[23] corra por mim

JIMIN:

Hoje faz um mês que estou na casa de Jungkook.

Foram tantos acontecimentos e tantos sentimentos inusitados que tudo que consigo pensar é: como diabos cheguei até aqui?

Alguns dias se passaram desde aquela noite em que dormimos juntos no sofá, espremidos, xingando um ao outro no meio da noite porque, de alguma forma, seu cotovelo veio parar em minha cara, e minhas pernas, em sua cintura.

Ainda que tenha sido desconfortável e o torcicolo no dia seguinte tenha quase me matado, foi gostoso ouvir sua gargalhada às três da manhã quando o xinguei de todos os palavrões possíveis porque batemos as testas de tanta proximidade.

Hoje, entretanto, quando acordo e rolo pela cama, meus olhos buscam pelo teto como se ele pudesse me ajudar de alguma forma. Agora, depois de tanto, tenho apenas dois meses ao lado de Jeon.

Tenho certeza que ainda não consigo me sustentar com o salário da sorveteria, mas de forma alguma penso em sair de lá. Yoongi me acolheu, me alimentou nos dias mais difíceis e me fez sorrir em momentos melancólicos.

O que farei quando perder tudo isso? Por que minha cabeça insiste em martelar pensamentos ruins de que serei abandonado quando esses meses se passarem?

Então, ainda encarando o gesso do teto, busco por respostas que provavelmente não encontrarei. Aí, decidido a não me fragilizar por coisas que ainda nem mesmo aconteceram, levanto e começo a arrumar algumas roupas, afinal passarei a noite no hotel em que Hoseok está hospedado.

Animo-me tanto com a hipótese de ter meu melhor amigo ao meu lado que acabo deixando a empolgação tomar conta, dançando por todo o quarto para espantar essa tristeza enquanto separo tudo que precisarei.

Mas a tristeza volta, pois me lembro que Jungkook dormiu na casa de Namjoon para que treinassem até tarde uma tatuagem especial para um cliente. Isso significa que não o verei hoje, e me preocupa muito perceber que um dia sem vê-lo já me deixa amuado.

E quando eu precisar partir?

Caramba, Jimin! Chega dessa tristeza!

No trabalho, Yoongi entope vasos, a senhorinha simpática que me deu doce certa vez retorna (e nós papeamos por longos minutos como se eu fosse um desempregado), agradeço por os valentões não aparecerem para judiar de mim e Hoseok vem me buscar já no finzinho da tarde.

Um dia muito gostoso, eu diria.

— Que lugar fofo do caramba. — É sua primeira observação sobre a espelunca adorável de Yoongi, então me cumprimenta com um beijo melado na bochecha e acena para meu chefe.

— Foi difícil de encontrar? Eu falei que podia ir sozinho...

E ele dá a resposta mais Hoseok possível: — De jeito nenhum! Quero conhecer a cidade que meu melhor amigo está se apaixonando...

— Essa frase tem duas percepções. — Yoongi diz, sorrindo como quem fará alguma provocação. Então retorna: — Estaria Jimin se apaixonando pela cidade ou se apaixonando na cidade?

— Eu diria que os dois. É o lugar pelo qual ele está apaixonado, claro, Seul. E é também o lugar em que mora o cara mais legal e tatuado e etc. Ele fala isso todo dia.

— Mas que caralho. — É tudo que digo, vermelho e envergonhado.

Os dois riem, porque tudo isso que dizem acaba sendo meio óbvio. Eu amo Seul, estou amando viver aqui, mas meu amor mesmo tem nome e sobrenome...

Um dia inteirinho sem ver Jungkook, e ontem não o vi também...

Ah, poxa vida. Que saco.

— Ficou bicudo por que? — Yoongi retruca com antipatia, me dando um tapa fraco na nuca que não carrega agressividade alguma, apenas vontade de pirraçar.