|01| whisky roubado e bala de menta

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Quando me perguntavam "o que você quer ser quando crescer?" eu sempre estufava o peito para dizer com a certeza mais clara do mundo: ser alguém importante.

Meu contentamento barato me trouxe até o mais profundo nada, e essa pergunta nem ao menos pode mais ser respondida, até porque creio eu que com vinte e três anos você já é bem crescido.

E para quem chegou agora e me acompanhará nessa jornada inesperada, dou um spoiler: eu não cheguei à lugar algum.

Foi por isso que, decidido a mudar minha vida de forma drástica, tive a conversa mais difícil de toda a minha vida com meus pais. Eu sempre fui bem de vida, não posso negar, mas meu problema é outro.

Sempre gostei de aprontar.

Fui expulso de um colégio, suspenso de outro até quase ir parar num reformatório, mas meu pai limpou a bagunça como sempre fez. Limpou não, escondeu para baixo do tapete. E olha, sinceramente acredito fielmente na teoria que criei com o passar dos anos, e ela é baseada na seguinte afirmação:

Caralho, alguém deveria ter me punido.

Talvez assim eu não teria crescido um grande babaca sem rumo, talvez dessa forma todo o pretérito vergonhoso que carrego na bagagem não existiria. Sabe qual o grande problema?

É que eu gosto.

Gosto do inesperado, gosto da adrenalina e gosto da sensação de estar sempre nos holofotes. Gosto de me encrencar e poderia facilmente comparar a sensação de ser pego fazendo alguma porcaria àquele tesão gostoso que antecede um orgasmo. E porra, há quanto tempo não tenho um?

Mas, retornando ao assunto "conversa com meus pais", o resultado foi desastroso. Eu gosto deles, de verdade, mas sinceramente eles nunca aprenderam a me dar asas, e foi isso que resultou o rumo que a conversa tomou. É óbvio que qualquer um que mantenha qualquer tipo de carinho por mim não gostaria de me ver vivendo sozinho numa cidade grande. Quantos danos eu poderia causar?

Inúmeros, eu diria, e mal posso esperar.

Porém, segundo meu pai, se quero tanto ser independente e sair da aba deles, preciso aprender também à viver sem os cartões de crédito e tudo aquilo que sempre me bancou.

Por isso estou aqui parado no centro do corredor da conveniência, pensativo, sorrindo ao visualizar a garrafa mais cara de uma bebida que eu nem ao menos gosto. É ela.

Mirando o alvo escolhido, olho ao redor e percebo que o estabelecimento é realmente grande, e muitos funcionários perambulam de um lado para o outro atrapalhando todo o meu plano.

Capturo o objeto de vidro e sorrio ao ler o nome da marca famosa, mordendo meu próprio lábio inferior enquanto meus pés me guiam até o corredor mais vazio. Ali, sem vergonha alguma na cara, enfio na bolsa de couro e encaro meu reflexo patético na geladeira de refrigerantes, sorrindo.

Mas, ao cogitar sair do estabelecimento com a garrafa escondida, giro meus calcanhares à ponto de comemorar o feito que não me orgulho tanto assim, e então tenho a ideia de pegar uns dois ou três pacotes de bala de menta para disfarçar.

Dou passadas tranquilas até o caixa, sem medo algum, sorrindo simpático ao atendente. E porra! Que atendente. Corpo alto e robusto, cabelo escuro caindo pelos olhos enquanto os fios traseiros cobrem sua nuca, rosto marcante e mãos carregadas por veias marcadas enquanto captura as embalagens do doce que deixo ali em cima.

Sorrindo simpático enquanto uma covinha se forma em uma das suas bochechas, ele diz: — Eu também gosto dessas.

— É uma delícia, não é? — É mais do que óbvio que meu questionamento não se dirige ao doce em questão, e sim a ele. Com os olhos semicerrados, o homem avalia minha fala e morde o lábio inferior, encarando um ponto fixo qualquer abaixo do seu corpo, um pouco pensativo. E aí, entorpecido pelo pensamento dissimulado de que quero suas mãos agarrando meu corpo com força, falo: — Digo, a bala. É uma delícia.

Aproveitando-se da oportunidade inesperada do local razoavelmente vazio, ele apoia as mãos grandes no balcão, curva um pouco o corpo em minha direção e confesso que tremo levemente assim que sua boca gostosa se aproxima do meu ouvido sorrateiramente, mas, ao contrário do que imaginei, ele diz:

— E que horas você vai tirar a garrafa da sua bolsa, hm? — E porra, ele me pegou em flagra mas fez isso com a voz mais gostosa do mundo.

Acho que cheguei a arrepiar, santa mãe de deus.

Eu iria para a cadeia por esse cara. Juro.

Com a boca curvada num meio sorriso, aproximo meu rosto do seu, parecendo um gatinho prestes a ronronar, e então raspo minha bochecha na sua, sussurrando de volta: — Ops.

Assim que nos afastamos, meu olhar não demonstra arrependimento ou sequer pensa nisso; eu estou é bem tranquilo, diria até excitado com as novas possibilidades, mas então o clima é quebrado:

— Vai pagar ou precisarei chamar o segurança?

Eu, umidificando meus lábios com a língua, sussurro afetado: — Rude.

Em seguida seu olhar entediado cai na minha imagem retirando a garrafa da mochila, juntamente com a carteira bordô. Retiro cartão por cartão, esparramo pelo balcão e murmuro algo que mais se parece com um gemido de descontentamento, dizendo com todo o cinismo que consigo:

— Droga, não sei qual usar.

Os olhos do homem se arregalam um pouco, acho que agora ele percebeu que tenho dinheiro e não preciso passar por isso. Na verdade não tenho é nada, meu pai sim, e hoje será meu último dia com todos esses cartões e dinheiro sujo. Sei que ele cortará todas as contas e vínculos, então pouco me preocupo com a situação atual.

— Meu nome é Jimin. — Digo como se ele tivesse perguntado algo, apoiando-me propositalmente no balcão. — E o seu, meu doce? Nunca vi um tom de pele tão bonito.

Sua pele mais parece ouro, brilha e reluz enquanto caio aos seus pés de forma brusca.

— Isso não interessa.

Mas, algo que ele provavelmente se esqueceu, é que em seu uniforme consigo ver uma plaquinha com o nome escrito em letras completamente visíveis.

Namjoon. Kim Namjoon.

Céus, eu faria tantas coisas com esse homem.

— Namjoon. — Digo baixo, com a voz fraca, deixando meus olhos levantarem com lentidão até alcançarem os seus. — Por deus, Kim Namjoon, você é fodidamente bonito.

— É uma tentativa escancarada de persuasão, Jimin? Você ainda me deve.

— E pago da forma que quiser — respondo, banhado em ironia.

— Lá fora eu não sei, mas aqui dentro sou pago pra isso e quero que pague em dinheiro ou cartão.

Além de tudo é mandão. Do jeitinho que eu gosto.

— Hum...sendo assim, escolho esse — aponto para o cartão dourado, sorrindo travesso — os outros você pode pegar e fazer o que quiser.

— Como é?

— Eles não terão mais funcionalidade mesmo...

— Você é pirado. Por acaso está bêbado?

— Nunca estive tão lúcido.

No final de tudo, após o tal Kim Namjoon revirar os olhos e negar com a cabeça, ele finalmente termina o processo da minha compra, mas não quero me despedir. Saio dali tendo certeza de que voltarei, e como voltarei. Não consigo parar de sorrir.

Mas, caminhando enquanto chacoalho a sacola da conveniência de um lado para o outro e mastigo a maldita bala de menta, sinto meu corpo todo tremer em antecipação porque sei o que está prestes a acontecer.

Sempre fui muito atento à tudo, e com o carro desgovernado em disparada na avenida não é diferente. Talvez o motorista esteja bêbado, não sei, mas o maldito hyundai está à mais de cem por hora e isso já seria muito problema por si só, mas a grande questão não é nem essa.

É o imbecil atravessando a rua completamente distraído no celular.

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HELLISH • jjk x pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora