Capítulo 26

329 60 13
                                    

Anastácia Stelle

Fazia muitos anos que uma alegria tão grande não me
sondava. Ele tinha sido preso. Meu Deus, o assassino de Magnólia
agora apodreceria atrás das grades e ainda que não tivéssemos
descoberto quem estava por trás de tudo, aquele já era um motivo
imenso para se comemorar.
— Não acredito nisso! — Carla parecia congelada quando
terminei de contar a ela todo o plano que tínhamos armado para
aquela festa. Assim que chegamos à festa, levei minha amiga
comigo para o local de segurança que os meus guarda-costas me
manteriam até que tudo acabasse e foi muito difícil contê-la parada
lá comigo. Minha amiga era extremamente profissional e tentou sair
da sala de segurança a todo custo para orientar os contratados do
evento, mas os seguranças não permitiram, o que a deixou bem
irritada.
— Pode me perdoar por ter mentido? — Sorri, incapaz de
esconder a alegria que sentia. — A boa notícia é que prendemos o
assassino da minha irmã e em breve saberemos quem está por trás
de tudo isso. — Ela piscou, confusa, provavelmente assimilando a
informação.
— Anastácia — Meu pai se aproximou e me envolveu em um
abraço carinhoso. Ele estava mais charmoso do que nunca com
aquela máscara cobrindo metade do rosto. — Conseguimos, filha —
ele comemorou.
— Sim, papai. Nem sei dizer o quanto estou radiante de
felicidade.
— Eu te disse que Lobo era uma boa contratação. — Ele
sorriu e senti meu rosto esquentar.

Andava pensando sobre o que meu pai acharia do meu
envolvimento com Lobo e temia que ele acabasse não concordando,
o que seria um problema. Não estava disposta a permitir que
ninguém, nem mesmo meu pai, me afastasse dele.
— Papai, quando chegarmos em casa, tem algo que quero te
contar. É sobre o Lobo e...
— Minha filha. — Ele sorriu singelo — Você tem todas as
características da sua mãe e a mais forte delas é a clareza com que
eu consigo ler seus sentimentos. Pode até tentar enganar os outros
com esse jeito meio... ácido e sarcástico, mas basta que eu dê uma
única olhada em você para saber o que está sentindo. E eu sei.
— Sabe de quê? — Ele deu um tapinha em minha mão.
— O que sente em relação ao Lobo. — Arregalei os olhos. —
Conversaremos em casa, mas espero que seja recíproco, senão
serei obrigado a usar um dos meus exemplares da arma de micro-
ondas nele — mencionou uma das minhas armas favoritas
produzidas pela nossa empresa.
Abracei-o emocionada e precisei de todas as minhas forças
para não chorar e borrar toda aquela maquiagem.
— Já tem idade o suficiente para decidir o que quer da sua
vida amorosa, filha, e não serei eu quem ditará as regras do seu
coração. Já atrapalhei demais prendendo-a durante toda uma vida e
fico extasiado ao saber que, mesmo assim, considera minha
opinião. — Ele beijou minha bochecha. — Te amo mais do que tudo,
Anastácia .
— Também te amo, papai e sei que não fez por mal. Só
queria me proteger. — Abracei-o com mais força e quando me
afastei, precisei perguntar.
— Pai, acaso isto está estampado no meio da minha testa?
— questionei, temerosa.
— Para mim, sim. — Foi sua resposta antes de se juntar a
Wood do outro lado do salão.
Olhei para a multidão que começava a voltar ao normal em
uma dança lenta e casual na pista de dança, até que meus olhos
pousaram no homem alto, de ombros largos e a postura de um
guerreiro marchando em direção à guerra. Lobo estreitou os lábios e

um sorriso indecente subiu por ele, arrepiando todo o meu corpo,
mas acima de tudo, notei que ele tentava se apressar para chegar
até mim.
Será que também estava ansioso para me ver, tanto quanto
eu estava por seu toque?
— Anastácia , querida! — Uma voz melodiosa me fez romper o
contato visual com Lobo.
— Tia Claire. — Abri um largo sorriso ao vê-la. Estava louca
para contar a ela toda a aventura que vivemos em segredo naquela
noite.
Minha madrinha me puxou para um abraço e eu não hesitei,
joguei-me em seus braços com todo o carinho que tinha por ela.
— Tia, tenho tanto para contar...
— Anastácia! — Carla me chamou e me virei para ela de súbito.
Suguei o ar com força quando uma dor pungente transpassou meu
corpo. Arregalei os olhos e congelei, em pânico.
— Sinto muito, amiga — Carla retirou a faca com um puxão
forte e tentou cravá-la novamente. Levei a mão, tentando impedi-la
e ela acabou acertando minha perna.
Tombei e caí no chão ao som de tiros no lugar. Meus olhos
perderam o foco muito rápido.
Não.
Não era possível, meu Deus.
Desconfie de quem você ama e não só de quem te odeia.
As palavras de Lobo se infiltraram em minha mente, como um
bilhete guardado na agenda, disposto a me fazer lembrar o que
jamais deveria ser esquecido.
Mas eu esqueci.

SOB A Proteção do Lobo Onde histórias criam vida. Descubra agora