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"Não vai me responder?" Murmuro pela terceira vez chamando a atenção de Vinnie. Ele pisca diversas vezes voltando sua atenção pra tela, seu semblante exausto e olheiras evidentes embaixo de seus olhos.

"Ah, sim. O que era mesmo?" Questiona franzindo o cenho como se estivesse tentando se recordar. O barulho alto do seu jogo me incomodava e minha paciência estava ficando bem pequena com isso. Depois do feriado de carnaval, foi inevitável...ele teve que voltar para LA com a família dele e eu tinha shows pra fazer aqui então, foi isso. Não tinha muito o que falar, era um saco ficar longe mas não tinha muito o que se fazer sobre.

Mas o que me preocupava mais era esse comportamento dele que abria margem para as minhas paranóias andarem soltas, toda vez que fazíamos ligações ele não parecia estar interessado em conversar, só respondia as mesmas coisas ou então estava jogando e prestava mais atenção no jogo do que em mim.

Tentei de todas as maneiras já perguntar sobre como ele ainda se sentia com o trabalho e tantas mudanças acontecendo mas agora ele dizia que...estava tudo bem, não queria ser evasiva e continuar perguntando algo que ele já respondeu então não perguntei mais. Mas, era tão óbvio que algo estava estranho e que ele estava distante.

Reggie
Não fica pensando nisso, fazia tempo que ele não ficava assim mas é da personalidade dele mesmo. Não é nada com você.

Reggie tem sido a única pessoa que conseguiu me fazer enxergar a luz no fim do túnel e como ele era o irmão do meu namorado, não foi difícil me acalmar. Mas lá no fundo....

Melhor eu parar de pensar nisso.

A rotina tem sido corrida, mal tinha tempo pra comer, pra ver as meninas ou até minha família. Esqueci até o aniversário da minha mãe e bom, podemos dizer que ela não está feliz com isso.

De alguma maneira, eu sentia que estava vivendo meu sonho mas abrindo mão de outras coisas que eu gosto, o que me deixava triste e lentamente me fazia entrar numa crise existencial.

"Nada. Esquece." Disparo depois de encara-lo seriamente. Recentemente ele tem ido em bastante podcast e eu só queria saber como tinha sido.

"Você tá bem?" Pergunta com uma expressão confusa.

"Eu que devia te perguntar isso. Você tá aqui mas não tá" Revirei os olhos.

"É que eu tava jogando...e você sabe, não dá pra pausar"

"Mas pra que caralhos você começou a jogar sabendo que é hora da nosssa ligação?" Questiono rispidamente, ele arqueia uma sobrancelha como uma criança que não fazia ideia que tinha feito algo errado. Mordo meu lábio inferior só pra segurar as palavras que estavam entaladas em minha garganta e que talvez fossem fruto da minha frustração e eu poderia me arrepender se falasse pra ele.

"Desculpa, é que...nunca te incomodou."

"Não me incomodou porquê você falava comigo antes, agora você finge que nem tô aqui."

"Isso não é verdade, Agatha. Às vezes você fala coisas que não tem sentido" Resmunga passando a mão em seu cabelo, minha boca se abre em surpresa. "Eu-"

Aperto o botão vermelho encerrando a ligação antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa. Eu entrava em conflito pensando se eu estava exagerando ou não, por quê namoro não vem com instruções? Era só oque eu queria. Ter confiança pra agir sem pensar que estou sendo louca.

Me encosto na parede respirando fundo quando vejo o celular tocar, mostrando seu nome na tela. Encaro o aparelho reluzente ignorando.

Não tenho tempo nem pra ficar triste, já tinha outro ensaio pro show desse feriado. É, seguir seus sonhos doía também. E eu não tinha tempo nem no feriado, mesmo com a páscoa chegando. Conversava com a Maria basicamente todos os dias, obviamente que eu não citava nada sobre os nossos problemas de relacionamento. Na verdade, conversamos mais sobre séries e filmes do que outra coisa e mesmo assim sempre arrancava uma risada de mim.

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