Capítulo 4

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Marcel não dormiu.

Rolou na cama a noite inteira, de um lado para o outro, imaginando as inúmeras possibilidades para o que poderia estar acontecendo com sua irmã. Então, na manhã seguinte, seu humor estava amargo para com todos, menos Chelsea e Brista, que ocuparam longas horas da sua manhã experimentando e mostrando para ele como haviam ficado os vestidos que o rapaz havia trazido da capital para as duas.

Enquanto as duas garotas se divertiam, Judith observava o filho de longe. Sabia bem que ele estava estranho e tinha medo do que aconteceria à tarde, no entanto, ainda era a senhora daquela casa e Marcel não podia passar por cima de sua autoridade, ao menos era o que ela pensava.

As horas se arrastaram durante toda a manhã. Enquanto Judith coordenava os empregados e o chá da tarde, já que as damas iriam tomar chá em sua fazenda naquele dia, Marcel aprontava o cavalo para seguir até a fazenda dos Griffin.

— Mas eu queria ir também, irmão! — Chelsea insistia, enquanto o observava montar o cavalo. — Por que não pode me levar?

— Chelsea, meu bem, tenho certeza que terá novas oportunidades, mas hoje, preciso ir sozinho — Marcel argumentou, segurando as rédeas com força. — Logo verá Charlotte , tenho certeza.

Um pouco distante, Judith observava o curto diálogo que antecedeu a partida do filho, sentindo um aperto no peito ao ouvir a última frase, estava em pânico, apesar de manter a postura elegante de sempre. Encarou o cavalo levar o filho para longe, rogando a Deus que aquela visita não terminasse numa catástrofe, afinal, sabia que o filho poderia derrubar o céu por suas irmãs, acabar com seu genro não seria uma tarefa difícil para ele.

***

Charlotte estava sentada na frente da grande janela da sala, que lhe dava uma ampla vista para o jardim.

A ameaça que recebera mais cedo ainda ecoava em sua mente, várias e várias vezes, fazendo seu corpo tremer enquanto levava a pequena xícara de chá aos lábios. Willian não estava ali, havia saído para checar as plantações e os demais trabalhadores, dessa forma, ela sentiu que podia respirar e chorar.

Queria aliviar o peso que se instalou permanentemente em seus ombros, queria se sentir, ao menos um pouco, segura em sua própria casa. Mas sabia que aquilo era impossível e já havia aceitado seu destino, estava presa a Willian Griffin até sua morte, que provavelmente chegaria pelas mãos dele.

Estava tão perdida em seus pensamentos que sequer notou o cavalo se aproximar da grande casa. Marcel chegou com um trotar rápido, o vento desalinhava seus cabelos e ele estava ofegante, nervoso. Ao longe, viu a irmã sentada frente a janela, seus cabelos ruivos estavam perfeitamente alinhados, mas o rosto era triste. Charlotte exibia profundas olheiras, seus olhos eram tristes e sem vida, seu corpo, mais magro e frágil que ele se lembrava, parecia tremer levemente, ela estava chorando.

O rapaz demorou alguns instantes para se aproximar da entrada da casa, descendo do cavalo e o entregando a um capataz, que parecia muito surpreso por vê-lo ali e se dispôs a chamar o dono da casa imediatamente. Mas Marcel mal o respondeu, entregou o cavalo a ele e caminhou a passos largos até a porta, a abrindo num rompante e vendo os olhos verdes de sua irmã se erguerem para ele.

Charlotte acreditou estar vendo uma miragem quando, de súbito, seu irmão invadiu a casa, abrindo a porta com força e caminhando até ela, a abraçando carinhosamente, um abraço fraterno do qual ela sentia tanta falta. Tentou limpar o rosto, sorrindo de forma forçada enquanto procurava esconder a tristeza e as marcas dos abusos que sofrera.

— Irmão — iniciou ela, puxando a manga do vestido para baixo, escondendo os braços — , não acredito que está de volta!

Marcel sempre soube que sua irmã mentia muito mal, por isso, não foi difícil para ele saber que ela escondia algo. O rapaz se sentou ao lado dela no pequeno estofado e segurou suas mãos, acariciando os finos e trêmulos dedos da ruiva.

O Duque que me amavaOnde histórias criam vida. Descubra agora