Capítulo 11

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Quando acordou naquela manhã, Charlotte conseguiu ouvir, mesmo do seu quarto, a voz potente de seu irmão ecoando pela casa.

Abriu os olhos preguiçosamente e esticou o corpo, bocejando e se sentando na cama, demorando alguns minutos para recobrar a consciência. O quarto ainda estava escuro por conta das grandes cortinas, então, a ruiva se ergueu da cama e, arrastando os pés preguiçosamente, puxou com certa força o grosso tecido que impedia que a luz do sol chegasse ao ambiente.

Já com o quarto iluminado, ela foi até a bacia de água gelada e lavou o rosto, penteando os cabelos e os deixando soltos. Estava bastante à vontade. Vestiu um de seus vestidos coloridos, optando por um de saia pouco rodada, mais discreto e em um bonito tom de azul, estava alegre naquela manhã e a visita de seu irmão certamente alegraria ainda mais seu dia.

Abriu a porta de seu quarto e passou a caminhar tranquilamente pelo corredor, ajeitando distraidamente as mangas de seu vestido e o discreto decote, porém, assim que chegou ao topo da grande escadaria, os olhos escuros e intensos se prenderam aos seus e ela lembrou-se de que aquele não era um dia comum.

Charlotte havia se esquecido completamente da presença do Duque na casa, então, quando seus olhos encontraram os dele e as lembranças retornaram a sua mente, a jovem dama sentiu o corpo gelar e o coração errar as batidas. Foi impossível para ela não descer os orbes verdes pelos braços fortes e pelo peitoral largo, agora coberto por uma camisa social de cor branca, enquanto lembrava-se da cena da banheira.

No entanto, tão rápido quanto se deixou levar pelos pensamentos libidinosos, os deixou de lado, pigarreando e começando a descer as escadas, tentando ocultar o impacto que a presença do homem lhe gerou com uma expressão neutra.

Diferente de Charlotte , que tentava a todo custo se mostrar indiferente, Lucian não fez a menor questão de desviar o olhar do belo anjo que descia, de forma lenta e elegante, os degraus. Seus olhos desceram lentamente para os ombros, observando cada centímetro da pele clara e inspirando profundamente, algo que atraiu a atenção do outro cavaleiro que também se fazia presente na sala.

Marcel observou a cena com preocupação.

O olhar do Duque não deixava dúvidas quanto ao interesse, mas o rapaz não pretendia deixar que aquilo se tornasse mais do que era, olhares. Sabia que sua irmã já havia sido muito machucada e a última coisa que desejava era que qualquer coisa ruim lhe acontecesse novamente.

Desse modo, assim que a ruiva se aproximou dele, Marcel inclinou o corpo e beijou sua testa, sorrindo para ela e colocando seu corpo gentilmente na frente da mulher, impedindo que o Duque continuasse sua lenta e detalhada inspeção.

— Querida irmã, fico muito agradecido por hospedar o Duque em sua curta estadia, não imaginei que a tempestade os pegaria antes que chegassem a casa principal — falou ele, chamando a atenção do Duque para si. — Mas decidi que vir guiá-lo logo pela manhã era a melhor opção.

— Não irão sequer tomar café comigo? — ela perguntou, tocando delicadamente o ombro do irmão.

— Infelizmente, mamãe já está com a mesa posta esperando por nós — Marcel respondeu, sorrindo para ela gentilmente.

Enquanto o diálogo se desenrolava, Lucian observava-os com atenção. Percebeu o comportamento protetor de Marcel para com a ruiva e, mesmo que ser privado tão rudemente da companhia dela não o agradasse, tinha certeza de que haveriam maiores oportunidades. Também sabia que, se quisesse de fato aproximar-se de Charlotte , precisava da permissão de seu irmão e não sabia se o melhor caminho era confrontá-lo.

— Mas acredito que haverão novas oportunidades, senhorita Capman — Lucian se pronunciou, pela primeira vez, estendendo a mão para ela. — Espero que esteja presente no baile que haverá daqui há três dias, será um prazer revê-la.

Lucian sentiu a palma delicada tocar a sua e, levando o dorso da mão dela aos lábios, o beijou com lentidão, vendo-a corar e sorrindo internamente ao notar a graciosidade que era ver Charlotte Capman com bochechas avermelhadas.

— Ele está certo — Marcel falou, caminhando até o duque e parando ao lado dele assim que ele se colocou de pé. — Mas agora precisamos ir, seu acompanhante já está nos esperando lá fora, Lucian. Até breve, irmã.

Dito isto, Marcel aguardou que Lucian seguisse até a porta e o acompanhou, sob o olhar atento de Charlotte , que encarava as costas largas do duque enquanto ele se distanciava. Discretamente, aproximou-se da janela e ficou os observando partir, sob as instruções de Annie e os agradecimentos das demais damas, que pareciam ainda encantadas com o nobre que havia passado a noite ali.

Charlotte não as julgava, ela mesma estava encantada por ele, mesmo que não quisesse.

A cavalgada foi silenciosa.

Lucian não disse nada, estava ocupado demais pensando na imensidão esverdeada e revivendo os suspiros e o olhar tão atento da noite anterior. Já Juan, refletia sobre o perigo que aquela visita oferecia. Ele sabia da história da pobre moça mais velha dos Capman, devolvida por não gerar filhos ao primeiro marido. Sabia bem que não seria a melhor das decisões do duque envolver-se com ela, mesmo sendo, sem dúvida alguma, a moça mais bela de toda a região.

Já Marcel, que também estava perdido em seus próprios pensamentos, recordava-se da expressão tímida da irmã e do leve brilho, quase imperceptível, nos olhos dela quando o Duque levou sua mão aos lábios e a beijou.

Ele sabia que Charlotte gostaria de ser amada e desejada por alguém novamente, por mais que ela nunca houvesse dito nada sobre aquilo. Mas também sabia que o Duque não devia, se tivesse bom senso, escolhê-la, a não ser que estivesse disposto a enfrentar tudo o que aquela decisão iria lhe trazer e, principalmente, a não ser que estivesse pronto para lidar com todas as cicatrizes que ele sabia que sua irmã carregava no peito.

Mas decidiu não pensar nisso naquele momento, afinal, pouco depois de uma cavalgada mediana, ele avistou a grande casa logo à frente. Na porta, estavam as três damas e um homem mais velho, seu pai.

Suas irmãs estavam belíssimas, vestidas de forma extremamente elegante e muito enfeitadas. As joias chegavam a brilhar com o reflexo do sol matutino e os cabelos loiros bem alinhados das três damas deixavam seus belos rostos bem à mostra. Judith havia arrumado pessoalmente as duas filhas para a recepção breve, garantindo que Brista se destacasse o máximo possível.

Os olhos de Lucian viajaram de uma para a outra, observando a beleza que todos daquela casa compartilhavam mas concluindo que nenhuma delas era tão singular e perfeita quanto a da jovem que vivia isolada na casa em que passou a noite.

— Senhor Duque, é um prazer! — George se pronunciou, assim que os homens se aproximaram e desceram dos cavalos. — Essa é minha esposa, Judith, essas duas são minhas filhas mais novas, Brista e Chelsea.

As mulheres curvaram-se educadamente ao passo que eram apresentadas.

Brista tinha os olhos fixos em Lucian e ele não deixou de notar o olhar avaliativo da jovem, que tinha um porte elegante e muito bem articulado. Diferente de Charlotte , que esbanjava uma leveza e simplicidade, Brista portava-se como uma princesa, tinha um olhar que vibrava em teimosia e tenacidade.

Chelsea, por sua vez, sorria como uma moça sonhadora, tão jovem e vibrante que fez o duque querer rir. Ele sabia que, provavelmente, a mocinha sonhava em ser desposada por um nobre e achava que era sua chance, mal sabia ela que o duque jamais se casaria com alguém tão jovem.

— É um prazer conhecê-las, senhoritas — ele falou, cumprimentando-as com um inclinar de cabeça. — Fico muito feliz em ser recebido com uma visão tão bela — comentou, galante, arrancando risos de todas as três, bem como dos homens presentes.

Não demorou para que os criados chegassem para levar os poucos pertences que estavam com os dois convidados e, depois disso, todos seguiram para a sala de jantar, sentando-se à mesa e iniciando uma conversa agradável.

Enquanto comia e conversava, Lucian não conseguia não se lembrar do jantar na noite anterior, e nem queria, afinal, por que desejaria se esquecer da mulher mais bela que já havia visto em sua vida? 

O Duque que me amavaOnde histórias criam vida. Descubra agora