O trotar do cavalo fazia o corpo forte e grande de Lucian balançar levemente.
Enquanto suas mãos firmes seguravam as rédeas, seus olhos castanhos dividiam-se entre olhar a estrada e o céu, que anunciava a tempestade que, com toda certeza, o pegaria antes que ele chegasse à casa central da fazenda dos Capman. Mas a culpa de estar prestes a ficar ensopado era toda sua, afinal, Juan, que vinha cavalgando logo atrás de si, havia o avisado que deveriam ir de carruagem.
Lucian ainda conseguia ouvir os resmungos mal humorados do amigo enquanto cavalgavam com toda pressa e adentravam o território do gentil fazendeiro que se dispôs a acolhe-los. Não culpava o amigo por estar tão irritado, estava habituado a acompanhar nobres de mais alta estirpe ou nascidos em berço real, era difícil para Juan entender que ele não se agradava de todas aquelas bobagens propostas pela coorte e gostava de sentir o vento no rosto, o cheiro da brisa e do campo enquanto viajava.
Mas admitia que, talvez, trocar a carruagem pela brisa fresca e pela vista do céu noturno não foi uma boa escolha naquele dia, afinal, mal percorreram mais alguns metros e o duque sentiu os primeiros pingos de chuva molharem seus cabelos escuros e escorrerem por seu rosto.
— Eu avisei, senhor! — Juan falou, olhando-o com as sobrancelhas franzidas.
O rapaz, que era um pouco mais novo que Lucian, tinha cabelos loiros e longos, que desciam por seus ombros e estavam presos com uma fita escura, seu corpo era magro e esguio, seus óculos já estavam completamente molhados e ele malmente enxergava àquela altura, portanto, seus olhos ambar estavam confusos e estreitos, tentando lhe fornecer ao menos uma visão parcial do caminho a frente.
Lucian riu, sentindo suas roupas completamente ensopadas grudando em sua pele, balançando a cabeça levemente para diminuir a água que acumulava nos fios escuros de seu cabelo. Então, olhou para frente, avistando ao longe uma casa mediana com janelas iluminadas que se destacavam no breu da noite.
— Vamos, há uma casa bem ali! — gritou ele, tentando fazer sua voz soar mais alta que os trovões, que estremeciam o céu.
Agitou as rédeas e seu amigo o seguiu, correndo com os cavalos em direção a casa que, de certo, seria seu abrigo naquela noite.
A tempestade não deu trégua alguma, mas Lucian mal se importava com aquilo. A chuva, os trovões e o vento forte o faziam sentir o frescor da liberdade e acalmavam seu espírito, que ainda carregava o furor da última guerra e estava em busca de paz. O ducado para ele foi uma surpresa, bem como todas as responsabilidades que acompanhavam o título que boa parte dos outros soldados almejavam. Apesar de não achar que fazia seu estilo, aceitou com prazer a honra, mas também com um pouco de pesar, afinal, não nasceu para viver enclausurado.
Quando os cavalos pararam em frente a casa, ele desceu de sua montaria com maestria, puxando o animal para baixo de uma árvore, onde pudesse se manter minimamente seco, então subiu rapidamente os degraus, erguendo a destra e batendo apressadamente na porta.
— Espero que haja mesmo alguém... Estou congelando aqui — resmungou Juan, juntando as mãos e esfregando-as uma na outra na tentativa de se aquecer, fazendo Lucian revirar os olhos.
Um trovão alto soou, porém, mesmo assim, Lucian teve a impressão de ouvir uma voz feminina vinda de dentro da casa. Então, a maçaneta girou lentamente e a porta se abriu, no exato momento em que um raio cortou o céu, iluminando com sua luz cálida aquela que lhe abrigaria naquela noite.
Por um momento, o duque ficou paralisado.
Jamais havia visto criatura tão bela e, momentaneamente, aquilo o desconcertou. A jovem moça usava vestes simples e leves, talvez consideradas até um pouco inapropriada para se estar na presença de um homem, o tecido fino movia-se levemente por conta da ventania que insistia em perpassar o corpo do duque e agarrava-se ao corpo pequeno da ruiva a sua frente, revelando mais do que o apropriado, algo que ele não deixou de reparar.
Trazia um candelabro e a luz amarelada da vela iluminava seu belo rosto, os olhos esverdeados exibiam um misto de medo e curiosidade, seus ombros estavam um tanto quanto encolhidos e ele percebeu a mulher a sua frente puxar para cima a echarpe que estava sob seus braços, escondendo a pele que estava a mostra e fechando o decote.
— Desculpe-me, senhorita — Juan tomou a frente e Lucian percebeu que o loiro estava tão deslumbrado com a aparência dela quanto ele. — A tempestade nos pegou enquanto íamos para a casa central da fazenda, somos convidados do senhor Marcel Capman.
O duque notou o olhar da jovem se acender levemente ao ouvir o nome do seu anfitrião e a desconfiança deixou seus belos olhos verdes, ao menos um pouco.
Quando abriu a porta, Charlotte chocou-se um pouco com a presença do estranho, que a observou por longos minutos sem falar nada. Seus olhos eram intensos e penetrantes e seu olhar a deixou desconcertada, fazendo-a recuar alguns passos para trás.
Porém, a menção do seu irmão a deixou um pouco mais confiante, mas ainda não o suficiente para deixá-los entrar em sua casa no meio da noite, afinal, se o fizesse, teria que deixá-los ficar até o dia seguinte.
E ela não tinha certeza se aquela era uma boa opção.
— Desculpe... Mas quem são vocês? — indagou, ainda com o corpo entre a porta e a parte de dentro da casa.
— Perdão pela forma rude com a qual chegamos — Lucian se pronunciou pela primeira vez. — Me chamo Lucian, sou o Duque de Gloucester, vim até aqui a pedido de Marcel Capman.
A voz dele levou certo arrepio a sua pele, era grossa, profunda, com certa entonação rouca e uma pequena nota de timidez que em nada combinava com um homem como aquele. Antes que pudesse responder algo, Charlotte ouviu os passos apressados das quatro mulheres e, quando se virou, encontrou olhos arregalados e bochechas coradas.
— Senhor duque! — Annie, a mais velha das moças, tomou a frente, passando por Charlotte e tocando seus ombros para deixá-la mais confortável.— Perdão, não o esperávamos aqui, o senhor Marcel havia dito que iria para a casa principal.
Annie havia ouvido do próprio Marcel que o Duque chegaria naquele dia, ele a avisou para que passasse o recado para Charlotte para que a ruiva não se assustasse se notasse a presença de um estranho por ali. Porém, claramente, a senhora acabou se esquecendo completamente.
— A chuva nos pegou — Lucian explicou, passando pela porta assim que Charlotte se afastou. — Sinto muito pelo constrangimento, senhorita...
— Charlotte — ela falou, erguendo a mão num gesto cortês. — Charlotte Capman.
O duque, como o bom cavalheiro que era, se aproximou alguns passos, segurando a mão da jovem e sentindo seu calor, já que as suas estavam frias e úmidas. Então curvou o corpo, levando o dorso macio aos lábios enquanto a olhava, beijando sua mão e se demorando mais que o necessário no ato, fazendo as bochechas de Charlotte ruborizarem.
— É um prazer, senhorita Capman.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Duque que me amava
ChickLitCharlotte , uma jovem belíssima, filha de um dos fazendeiros mais importantes do reino, não era nobre, mas todos sabiam seu nome e sabiam que ela decidiu casar-se por amor. Enquanto tudo o que ela desejava era viver seu conto de fadas, seu marido a...