Capítulo 9

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As outras três mulheres encararam a cena com um rubor nas bochechas, enquanto Charlotte recolhia sua mão com certa pressa, sentindo o rosto pegar fogo ao passo que via o Duque exibir um sorriso de canto.

— A tempestade nos pegou desprevenidos e, se não for muita ousadia de minha parte, gostaria de saber se poderia nos hospedar aqui — ele pediu, erguendo o corpo e encarando-a com certa curiosidade.

'O que uma moça jovem e tão bela faz cercada por mulheres nessa casa? Por que a irmã do anfitrião não está na casa principal?', eram as perguntas que rondavam a cabeça do Duque, que encarava a jovem ruiva a sua frente curiosamente. Mas, apesar de muito tentado, não perguntou sobre isso para ela, não ainda, ocupou-se em olhá-la com visível admiração.

Annie se aproximou dos dois homens e, sem nenhuma cerimônia, pegou das mãos dos dois as duas malas pequenas que levavam, então, seguindo em direção as escadas, falou:

— Acredito que não há problema, estamos prestes a jantar e os senhores serão muito bem-vindos — decretou a senhora, que recebeu um olhar irritado da dona da casa. — Venham, temos dois quartos livres.

Charlotte sabia que não podia simplesmente deixá-los à própria sorte no meio da tempestade, mas não sabia se era uma boa ideia tê-los por uma noite em seu ambiente seguro, principalmente quando um deles a olhava de forma tão intensa e causava estranhos arrepios em seu corpo.

Enquanto Annie os instalava, as outras três começaram a cochichar, correndo para a cozinha para terminar o jantar e fazendo Charlotte correr até lá junto a elas, não queria ficar sozinha. Quando chegou à cozinha, que estava mais aconchegante e quente que a sala, encontrou a confusão de vozes femininas enquanto ouvia as panelas borbulharem e sentia o delicioso cheiro do jantar.

— Ele é ainda mais bonito do que falaram! — Dália falou, suspirando ao lado do fogão.

— Ouvi dizer que ele queria se casar, pena que não temos nenhuma chance! — Justine comentou fazendo uma expressão de desânimo. — Mas a nossa senhora tem, viram como ele olhou para ela?

— Vocês adoram fofocar, não é? — Charlotte falou, sentando-se numa das cadeiras de madeira que ali haviam, rindo levemente. — Ele não me olhou de jeito nenhum, todos me olham assim.

— Porque você é muito bonita e todos a desejam desposar! — Dália falou, sonhadora. — E ele também deve desejar isso, com certeza.

— Se ele deseja minha mão, logo deixará de fazê-lo, os boatos correm rápidos e não devem demorar a chegar aos ouvidos do duque, Dália — a ruiva falou, suspirando levemente ao passo que brincava com um pequeno caroço de feijão que estava jogado na mesa. — Não deixe sua imaginação fazê-la sonhar por mim.

— Talvez você deva sonhar um pouco — a jovem retrucou, com um sorriso gentil. — Mas, de toda forma, ouvi dizer que ele é um homem muito galante e que é tão libertino quanto Marcel!

Enquanto as ouvia, Charlotte ria da animação das moças com a presença inesperada de um membro da realeza. Não podia negar que também estava animada, era diferente ter alguém que não fazia parte de sua rotina ali, principalmente alguém tão bonito.

Os minutos se passaram e, quando Annie retornou a cozinha, parecia tão animada quanto as demais moças. A senhora começou a coordenar as atividades que restavam para o jantar e, depois de seguir novamente até as escadas para levar a água quente para o banho dos convidados, retornou à cozinha com um sorrisinho estranho nos lábios, encarando a ruiva.

— Vá, Charlotte , coloque um vestido bonito, temos visitas hoje! — pediu ela, atraindo os olhos verdes à ruiva para si.

— Annie, eu sequer pensava em jantar à mesa — ela retrucou, mas se ergueu, um pouco a contragosto. — Avise-me quando o jantar estiver pronto, estarei aqui para receber nossos convidados e, sim, vestirei algo decente.

A resposta pareceu agradar a mulher, que a empurrou pelos ombros até as escadas e voltou para a cozinha, feliz por terem convidados, afinal sempre cozinhava, limpava e fazia tudo somente para as moças da casa ou o senhor Marcel.

Enquanto suas amigas trabalhavam animadamente, Charlotte subia lentamente as escadas, seguindo pelo corredor até seu quarto com certo receio. Ainda não se sentia de todo segura com os inquilinos inesperados, porém, sua curiosidade a muniu de uma coragem momentânea que a levou a passar da sua porta e caminhar, bem devagar e com passos leves, até o pequeno e amarelado feixe de luz que iluminava o tapete.

A ruiva caminhava a passos de algodão, a ponta de seus pés tocava com delicadeza o tapete grosso que cobria o assoalho do corredor e, quando chegou à porta, seus olhos verdes encontraram a pequena fresta. Mal se moveu, a visão limitada que tinha de dentro do quarto de hóspedes foi o suficiente para fazê-la ofegar levemente.

As longas pernas do duque escapavam da banheira de madeira, que estava cheia de água, ao passo que seus braços estavam apoiados na borda, ele parecia relaxado. Charlotte podia ver os músculos dos seus braços bastante definidos e notava o balançar leve dos dedos, mas não conseguia ver seu rosto com totalidade, a água quente deixava o quarto com um pouco de vapor e aquilo atrapalhava, de certo modo, sua visão.

Mas os olhos verdes não pouparam esforços, desceram lentamente pelos bíceps fortes, subindo em seguida, passando pelos ombros e deixando para sua imaginação o que estava embaixo da água, já que, depois, tudo o que via era as fortes pernas, jogadas confortavelmente para fora enquanto ele respirava.

Estava tão entretida com sua observação que o movimento da mão quase lhe passou despercebido. Lucian levou seus dedos aos seus cabelos escuros e suspirou, descendo-a lentamente por seu pescoço, caminhando para o peito forte enquanto colocava as pernas para dentro da banheira, ficando de joelhos e fazendo um pouco de água cair para fora, molhando o chão.

Uma das coisas das quais se orgulhava em si mesmo era de sua atenção e concentração, dessa forma, havia notado os fios ruivos, que quase brilhavam sob a luz do candelabro, em sua porta pouco depois da chegada da sua anfitriã. Mas aproveitou-se da oportunidade, afinal, ela parecia muito compenetrada em observá-lo.

O homem, com plena consciência do que estava fazendo, ergueu levemente o corpo, deixando todo seu peito à mostra e descendo a destra por ele, fingindo inocência no ato de levar a pele a essência amadeirada que usava sempre durante o banho. Seus dedos fizeram um caminho vagaroso pelos músculos enquanto movia o pescoço para o lado, ouvindo-o estalar e gemendo baixo com o relaxamento e com a excitação que a possibilidade de estar sendo observado pelos curiosos e intensos olhos verdes dela lhe causava.

O som rouco da voz dele naquele momento fez Charlotte ofegar, a visão trazia a ela sensações que jamais havia sentido e isso a apavorou por alguns instantes, tirando-a da bolha em que havia se colocado e, quando isso aconteceu, Lucian abriu os olhos, encarando-a com um meio sorriso banhado por malícia. Naquele momento, Charlotte Capman soube que foi pega no flagra.

Então, fazendo a única coisa que passou em sua cabeça em meio a vergonha e ao nervosismo, correu para seu quarto, fechando a porta e, ofegante, encostando-se sobre ela.

O que estava fazendo?

Por que sentia como se suas pernas estivessem prestes a desfalecer e seu coração prestes a sair por sua boca?

Não tinha resposta para essas perguntas, mas de algo sabia.

O Duque a havia visto.

O Duque que me amavaOnde histórias criam vida. Descubra agora