O troco♟

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RAFAELLA

Respirei fundo enquanto meus pensamentos vagavam pela imagem de Gizelly ao lado de Reis. Sentia-me traída, mas não pela delegada, e sim, por mim mesma.

Durante tantos anos tive total controle de meus sentimentos, de meus atos. Para no fim, uma mulher chegar e mostrar que eu não poderia administrar tudo ao meu redor. Aquilo me consumia, célula a célula. Era como perder o controle de meu próprio ser.

Maldita delegada.

- Você está bem, querida?- Ouvi a voz grave do meu marido ao fundo, enquanto encarava o movimento de pessoas que caminhavam pela calçada, com seus enormes guarda-chuvas, e outras com suas capas.

O céu cinzento derramava sobre o Rio de Janeiro uma garoa fina, que não tardaria a se intensificar, transformando-se em um temporal. Encarei os olhos claros dele assim que senti o toque suave de sua mão sobre a minha. Ele estava bem agasalhado, olhando-me com um semblante curioso.

Soltei um suspiro e sorri pequeno.

- Está sim, meu amor. Só estava um pouco pensativa com tudo isso.-

- Não se preocupe. Tudo vai se resolver.- Falou ao entrelaçar os dedos aos meus.

Soltei outro sorriso fraco, recebendo o seu em troca.

- Eu espero que sim.-

- Não tenha duvidas, Rafaella.-

José parecia melhor do que nunca. Talvez todos os medicamentos tenham surtido efeito, rápido demais. Apesar do dia cheio, carregado de acontecimentos, ele parecia tranquilo.

Não demorou muito e os enormes portões de ferro da mansão foram abertos para nossa entrada. O veículo foi estacionado na parte frontal da casa, quando um dos funcionários se aproximou, abrindo a porta para que saíssemos. Corremos para o interior da casa, evitando nos molhar tanto com a chuva.

Nos reservamos ao nosso quarto, ele de um lado com seu computador, e eu do outro com um livro qualquer. Ficamos algumas horas assim, sem trocar uma mísera palavra. Meus pensamentos estavam longe demais para entrar no papel de uma boa esposa. Eles rondavam a mulher de olhos castanhos que não tardaria a chegar. Por alguns instantes julguei ter sido um erro ordenar que Gizelly comparecesse essa noite em minha casa, não era um momento adequado. Tanto pela sua expulsão do caso, quanto pelo meu estado emocional visivelmente abalado pela mesma. Atuar para José havia se tornado algo natural, era como ser um personagem criado por mim mesma, para completar uma história que não teve fim. Mas com Gizelly não era assim, não mais. Eu me perdi. Me perdi nos meus sentimentos, nos meus atos, nos meus planos. Tudo em mim era sincero para com ela, e eu simplesmente não conseguia agir diferente.

Era enlouquecedor não ter controle sobre mim quando se tratava de Gizelly Bicalho.

- Você fez tudo errado, Rafaella.- Suspirei baixinho.

- Disse alguma coisa?- José me indagou.

Ergui a cabeça e encarei seu rosto.

- Pensei alto, querido. Você quer que eu mande servir seu jantar aqui?-

- Não, podemos comer lá embaixo mesmo.- Ele deixou seu computador de lado, enquanto me encarava tranquilamente.

- Ok.- Falei ao me levantar, e me aproximar dele. - Acho que depois de todo esse estresse, devemos ficar um pouco juntos.-

Sentei ao seu lado, recebendo um sorriso.

- Acho a ideia maravilhosa. Estou com saudade de você.-

- Está?-

XM. Ataque Decisivo (Girafa gip)Onde histórias criam vida. Descubra agora