• DE DENTRO DA SOMBRA •

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"Os homens temem a morte, como as crianças temem a escuridão."

Francis Bacon

As antigas vidas que habitam as ruas das nossas cidades vagam em desespero. Não há nada, nem ninguém, neste mundo despedaçado que esteja são. Talvez eu seja um louco por ter ouvido os sussurros. Palavras de remorso, choro, soluços e os inocentes choramingando. Se eu te disser que uma sombra estava em pé, no meio de diversos, cadaveres, casas e bairros que um dia já foram comerciais, você não entenderia. seus corpos são como um abismo infinito da mais obscura escuridão, mais ao olhar seus olhos, dessas coisas que um dia já foram seres vivos e racionais. Seus olhos brilham como a luz do sol, talvez por estarem olhando diretamente para ele. Isso não é nem metade das coisas mais estranhas, e incomuns que este fim de mundo guarda. Diria que estaria louco em ver e viver neste lugar, mas felizmente estou. Estou tão louco e insano, que poderia transcender, de maneira inimaginável... no entanto, a algo mais intrigante do que estas sombras, algo que me tira a sanidade... na verdade me deixa mais retardado. Pois não consigo compreender, isso certamente é a coisa mais incomum disso tudo!

Vejo alguém, um humano... não! Um verme! Um verme, pequeno, curioso e fascinante. A qual o observo, desde o seu nascimento. Tão inteligente, certamente possa transcender! caminhar sobre um plano totalmente absurdo e imortal. Mas esta preso aqui, não por estar em um... ferro velho? Algo que um dia foi um comboio de caminhões militares, esmagados por prédios. E não, esta garotinha, catadora de sucatas, estar cercada por todo esse lixo, por essas sombras misteriosas e assustadoras, não é tão ruim assim. Na verdade, é adorável, ela não sente medo. Mas estar com ele... aquele maldito capuz escuro. Isso sim é um terror!

Curiosamente põe suas patinhas habilidosas nos escombros dos armamentos, ossos de vermes, soldados esmagados junto de suas armas e equipamentos, algo que no momento de suas mortes certamente foi aterrorizante e doloroso, mas aqui esta ela mexendo em seus cadáveres sem nenhuma consideração. Até por que isso já se perdeu a anos, mas o medo no coração dessa garotinha é minúsculo. Talvez sua inocência seja o único sentimento positivo neste lugar. Diversas sucatas, equipamentos, veículos e utensílios domésticos espalhados e destruídos por toda a parte. Um parque de diversões para essa fonte de vida minúscula e cativante. Pequenina e muito inteligente, em seu rosto uma grande máscara esconde sua identidade, porém algo muito grande para si, a aparência e semelhante a de um parachoque de carro, mas também possui as funções de uma mascara de gás. E óculos de aviadores. Junto dela, um androide em formato de carrinho de pedreiro, que leva os equipamentos e ela dentro do carrinho.

Silêncio e escuridão. A única sensação de existência neste momento, era do androide se movimentando desajeitado pelos escombros. Enquanto a aventureira se distrai mexendo nas suas novas sucatas, montando um novo equipamento. Ambos entram mais e mais na infinita escuridão da noite na cidade, mais veículos e prédios aparecem pelo caminho, destruídos e enterrados por montes de areia escura. As noites duram mais que o dia. A escuridão e vazio existencial é assustador. Apenas uma criança sozinha até então, um objetivo foi feito por ela. Não iria durar muito tempo, mas a rota do androide foi feita diferente. Distraída com sua novas peças, a garota percebe que esta em um lugar diferente, bem distante do que tinha planejado. Medo e frio a cobrem desesperadamente. Saltando do androide e o parando puxando alguns fios:

- Não, não, não! Que droga, estamos muito longe!

Iluminados pelos olhos do androide e a máscara da garota, solitários e perdidos em montes de areia e prédios abandonados e soterrados durante muitos anos. O medo e agonia de não poder voltar ao seu lar e aterrorizante, ela diz em seus pensamentos enquanto desmonta e reconecta os fios da lata velha:

- Que droga! Bem que o pai disse para não confiar nessas coisas. Onde estou? - seus óculos são ativados ao girar a órbita e ligam visões avermelhadas.

DORAVANTEOnde histórias criam vida. Descubra agora