• DOCE LAR •

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" O lar é o reflexo do coração - mestre dos magos."

Em confins do Nordeste Brasileiro, desertos se formaram, perdidos entre os estados, formados pelo efeitos do surto no passado e os castigos inimaginávels dos Estelares. Muitas árvores carnívoras se desenvolveram de forma monstruosa, porém, não se sabe ao certo o que ocorreu para sua diversificada mutação. As novas espécies de árvores foram chamadas de, "Raízes do céu", pois seu tamanho é capaz de alcançar a atmosfera da terra, afetando as nuvens dessa zona. Entre a Bahia e Piauí, este deserto abandonado pela a humanidade se encontra. Um lugar perigoso, pois tudo pode acontecer em locais que não existem humanidade, não existem mais edifícios ou estradas, os resquícios da humanidade ou foram soterrados pelas areias, poeira, ou esmagados e soterrados pelas raízes das árvores. Em outras palavras, é um lugar excelente para se esconder da própria humanidade. Somente Sombras e Estelares vagantes e invisíveis adormecem neste momento. Portanto, é necessário muita experiência e sabedoria para cruzar este local. Debaixo de toda árvore, reside algum prédio abandonado, habitado por sombras ou Vermes isolados. E no meio disso, Haytan habita um lugar para se chamar de casa.

Em um teatro abandonado, debaixo de escombros se esconde um Capuz escurecido, porém, junto a este sentimento frio da solidão, uma doce e inocente garota põe sua curiosidade em formas de criatividade. Sofia corre pelos corredores e entradas, passando esculturas destruídas e acentos queimados, descendo as escadas da plateia, saltando no palco e atravessando as cortinas. Literalmente, por trás das cortinas, se encontra uma quase infinidade de equipamentos e ferramentas, coletadas e guardadas como coleção por Sofia e Haytan. Armas e veículos, construídos de maneira bizarra e assustadora, mas curiosamente, nem todos estão totalmente completos. Como se fossem belos quadros inacabados. Um espaço amplo e ligeiramente vazio, pois as paredes e o próprio telhado estão cobertos por diversos itens dos mais absurdos e aleatórios, possíveis de se imaginar, um lugar totalmente aberto a sua própria imaginação. Haytan e Sofia vivem em paz e segurança neste local. A casa deles, chamada com frequência por Sofia, de:

- Casa na árvore!

O lar aonde a imaginação, a paz, o frio e o descanso vive. Longe das dores e murmuros dos leprosos andarilhos, dos insetos grotescos, o cheiro desagradável e os ventos esfumaçados das cidades. É no subsolo que o pai e a filha vivem, mas a luz do sol ligeiramente toca nos buracos do teto. Geralmente ao meio dia em que o sol fica mais evidente é possível se aquecer um pouquinho estando de baixo da sua luz, por um curto período, mas sua fraca iluminação ainda faz bem a nossa melanina. Haytan, acostumou Sofia, a ficar debaixo do sol todos os dias, para que pelo menos sua pele cresça saudável, diferente da dele. Haytan é tão pálido que é possível ver seus ossos e veias circularem o rosto. Já Sofia, é amarela como a fraca e apática luz do sol que a ilumina e mais saudável que o próprio pai.

Ambos vivem sossegados aqui, no silêncio, no gelado e enferrujado toque das ferramentas e matérias. Os dois passam maior parte do dia estudando. Sofia aprendeu a ler muito cedo, graças ao ensino leve e cuidadoso de Haytan. A própria teve gosto em resolver cálculos matemáticos, desde o mais simples ao mais complexo dividindo ou multiplicando equipamentos, engrenagens, até mesmo conseguindo decorar a quantidade de passos e piscadas de seus olhos, todos os dias. Sofia é sempre muito atenta a mínimos detalhes, dos mais superficiais aos mais distintos. Por conta disso, a garota foi muito suscetível a desenvolver TOC, o transtorno obsessivo-compulsivo, a levando a ter muitas ações repetitivas e pensamentos excessivos. No entanto, isso nunca a prejudicou, a fazer qualquer tarefa, pelo contrário, Sofia, nunca para quieta, sempre está construindo e brincando com algo novo e estranho todos os dias. Correndo pelos corredores do teatro, escrevendo com giz, feito de diversas misturas químicas feitas por seu pai, cálculos e rascunhos de construções ou equipamentos práticos e muito da sua imaginação. Porém, com validade de algumas horas, já que nas mãos de Sofia, nada dura muito tempo, pois a vontade de desmontar e montar equipamentos com as mesmas pessoas é o seu passatempo favorito. Sofia, como dito, possui uma capacidade analítica incrível, sendo capaz de analisar e saber o formato e encaixa de qualquer coisa apenas observando, tudo isso em sua mente, tendo um raciocínio rápido e racional, uma capacidade extraordinário, para alguém da sua idade, com apenas quatorze anos. No entanto, nem tudo são flores no dia a dia da pequena explosiva. Sofia, nunca para o que esta fazendo, ou, nunca consegue focar, ou desfocar de algo, sendo muitas vezes sugada pelos seus pensamentos e fazendo coisas por puro impulso, diferente de seu pai, Sofia, odeia leitura. Para ela, apenas lembrar de algo que esteja escrito já é muito agonizante. Mas principalmente, Sofia quando esta muito tempo sozinha, sempre tem alguns surtos de ansiedade, levando a ter pensamentos assustadores. Entretanto, apenas ouvir a voz de seu pai, já é o suficiente para se sentir em segurança. Haytan nunca brigou, machucou, ou mentiu para Sofia uma única vez na sua vida, muito menos levantar o tom de voz para a garota, no máximo, apenas uma leve bronca, apenas para apontar o que é certo e o errado, em sua percepção, porém, Haytan sempre deixou essa função mais ética, para a interpretação de Sofia, afinal, diferente da infância de Haytan, ele jamais gostaria de fazer qualquer coisa que fizeram a ele em sua juventude, pois ele próprio fez uma promessa... Sofia, é a outra carne que falta no coração de Haytan, a única e mais importante na sua vida, mais, do que a sua própria. E Sofia ama Haytan, nunca imaginaria passar um dia sequer, sem a presença de seu pai. Haytan pode não se comunicar muito, mas Sofia aprendeu a ler o silêncio de seu pai, coisa que ninguém seria capaz de entender em Capuz Escuro. Somente de sentir a presença de seu pai, ela pode não ver ele, mas só de o sentir, já seria motivo de tranquilidade, em qualquer situação. Mas, Haytan e Sofia não são tão parecidos em suas ações e personalidades.

Haytan, não é alguém tão inteligente quanto sua filha, mas aprendeu a ter gosto por estudar. Se ainda existisse faculdades neste mundo de Vermes, certamente seria formado em, física, mecânica, astronomia, geografia, teologia e filosofia. Áreas pelas quais o próprio nunca se imaginária estudar. Apesar, de que graças a esses estudos, ambos foram capazes de sobreviver, dia após dia, independentemente se for nas ruas, desertos, cidades e lares abandonados pelos humanos, e consumidos pelos mortos, Estelares e Mutantes...

O encapuzado passa noventa por cento do seu dia em silêncio, os poucos momentos em que se ouve sua voz e se comunicando com Sofia. Um ato muito estranho que Haytan desenvolveu, foi ficar imóvel observando um ponto em específico, podendo ficar por horas parado, sem piscar, imaginando inúmeros cenários, principalmente sobre a estrutura do teatro onde vivem e sobre um, Estelar, seu corpo, poderes, ações, etc. Mas não é algo pelo o qual se aprofunda tanto, afinal... buscar o conhecimento sobre os Estelares, é saber que ira se perder em uma loucura inimaginável. Assim como seu pai, Sofia, sempre cria algo novo, mas quase supera as invenções malucas de Haytan, só perde por um ponto em questão... Haytan quase sempre não termina suas criações. Umas das várias esquisitices, foi a máscara de sua filha. Feita a partir de um capo de fusca, faroés do próprio veículo, cápsulas de máscaras de gás, e um óculos com uma lente sendo capaz de ver no escuro, e outra para enxergar em luzes muito fortes. Outro item muito importante, são as "Armas de fogo laminadas", (batizadas pelo próprio Haytan) armas com mecanismos específicos para atirar e retrair lâminas em formatos de espadas, Capuz possui duas um tanto parecidas, já Sofia, possui uma pistola do mesmo protótipo, com uma lâmina não muito longa. E por fim, as "Ataduras de praga", um tipo de material para cicatrização, utilizando ataduras velhas ou já usadas e vários insetos de Pragas. Haytan. após passar muito tempo perdido e ferido por tiros e golpes cuja intenção era não "deixá-lo vivo"... escapando várias vezes de bandidos, soldados e mutantes, aprendeu que, os insetos, Pragas, nascem a partir da carne morta das pessoas, os insetos possuem uma função estranha nas feridas, como se as parace de cicatrizar, como de apodrecer a ferida. Dito isso, Haytan sempre utiliza destes insetos para passar nas suas ataduras, deixando-as com um aspecto escuro, por debaixo do seu poncho, já que ter alguém capacitado nesse mundo para tratar de suas feridas é algo inviável. Mas, Haytan nunca utiliza essas ataduras em Sofia, por receio de lhe causar algum mal, mas em ocasiões de emergências, as ataduras sempre são bem vindas.

A rotina dos dois, por outro lado, é seguida as "cegas". Haytan antes de ter Sofia, em sua vida, possuía uma vida distorcida e caótica. Mas após a vinda de sua filha, passou a ter um ritmo um pouco mais "humano". De segunda a sexta, pelas manhãs, eles estudam, assim que a higiene básica for cumprida. Beber água, mordiscar alguma coisa, bagunçar os cabelos já bagunçados, raramente colocando outra vestimenta e finalmente, caindo de cara nos estudos e invenções, até o final da tarde, aonde eles finalmente almoçam qualquer coisa, enquanto observam o maldito por do sol, em uma base a cima do teatro, na casa da árvore, e assim, se preparam para a "exploração".

Exatamente as cinco e meia. Os dois preparam seus equipamentos. O deserto por onde vivem não é só acobertado pelas entidades que a humanidade desenvolveu, mas também, é um lugar rico em conhecimento. As leis da física pelo qual a humanidade tanto construí base em sentido fixo, não existe nesta imensidão escura e melancólica. Os escombros de edifícios, ravinas de aço das fábricas subterrâneas, androides perdidos em suas programações, mutantes perdidos e alucinados destruindo o que já não tem vida e principalmente, os sobreviventes deste mundo. Por mais que os dois não possuem apreço pelas vidas dos mais fracos, o sentimento de ação e adrenalina é a única coisa que da sentido em suas vidas. Haytan, o capuz escuro e sua filha Sofia. Buscam algo que o coração dos dois não sabe explicar, mas a certeza de que um dia virá e de que estão cada vez mais próximos é certa.

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