Nova Orleans, Abril de 1904.
"Meu menino"
- Qual foi sua reação com a cena horrenda em sua frente? - O escritor perguntou, seus olhos castanhos o avaliaram, Harry continuava de costas.
O pôr-do-sol estava reluzente, ele estava se despedindo de mais um dia, e logo os perigos noturnos iriam sair.
- Nada normal, assim que ele tirou o encanto, eu gritei, me debati . -- Harry disse. - Ele riu, ele ficou rindo. O pior daquela noite talvez não tenha sido a morte da mulher, mas sim eu não ter saído de sua casa. - Harry completou.
O escritor ficou confuso, muito.
- A cena era realmente horrenda, mas depois de algum tempo, eu parei de gritar, parei de chorar, caminhei até seu corpo e me juntei à ele na cama. - Harry virou-se e voltou a poltrona carmim. - Eu simplesmente não sai, pensava que poderia, mas não teria outra oportunidade, não sai naquela noite, e nem nas próximas seguintes. E o estopim foi que, ele não precisou me compilar para isso, eu realmente escolhi ficar, ele adorou essa merda.
-Você teve a escolha de ir, porque ficou? - O escritor perguntou.
- Eu estava preso a ele, não teria como ir embora. - Harry franziu o cenho.
- E depois, o que houve? ‐ Ajeitando o microfone, ele murmurou.
- A festa não terminava, as bebidas sempre sendo cobradas, e as putas pareciam que saiam do chão, uma atrás da outra, todas as noites, e os dias se repetiam, nessa brincadeira de casinha, fiquei sem ver minha família por mais ou menos quatro anos. - Harry respondeu. - Depois daquela noite algo mudou, não dava para ver claramente o que tinha mudado, mas algo nasceu entre nós.
Os dias passaram como relâmpago. As noites estavam começando a ficar mais frias e a temperatura diminuía a cada instante. O inverno seria longo e difícil.
Não conversamos sobre o acontecido daquela noite, mesmo que eu tivesse implorado, ele teria negado, teria respondido com outra pergunta. Mas a queimação não mudou.
Bom, mudou em abril de 1904, eu já tinha feito 17 anos, e algumas coisas mudaram. Saímos todas as noites, ele era dono de 45% das casas noturnas, tinha uma reputação a zelar.
Com os meses à frente, o cochicho foi passando de ouvido a ouvido, óbvio que Louis ouviu primeiro, a fofoca corria. Estavam manchando meu nome, eu era a putinha do Marquês Angelle. Ele ficou tão irado, raivoso de forma inesquecível, ele saia para caçar todas as noites.
O mar de corpos sendo encontrados, foi terrível, a prefeitura colocou nos jornais que era uma nova gripe, uma praga que se espalhava rapidamente. Assim, ele conseguiu matar inúmeras pessoas.
E como sempre, ele saiu ileso.
Estávamos no Angelicus, o movimento agitado. A música alta, os homens jogavam dinheiro ao vento a cada segundo, a fumaça me deixava tonto.
Ele estava perfeito naquela noite, maravilhoso. A blusa frouxa transparente em seu tronco, a calça de alfaiataria justa no quadril e coxa, e a bengala dando um pequeno aspecto. Os cabelos, eles continuavam loiros, dourados como o amanhecer. Seus olhos naquela noite estavam claros, como o céu.
Eu estava fumando, tragando um cigarro quando o xerife entrou no grande salão. Eles tinham uma rixa, querendo ou não Louis tinha matado o pai do homem a sangue frio, e para piorar a situação, ou não, tinha uma foto deles na prefeitura.
Mas quem ligava? Louis não dava a mínima.
O xerife tinha sangue nos olhos, as pupilas dilatadas. O andar duro e raivoso. Eu corri, fui o mais rápido para perto de Louis, caso ele tentasse fazer algo ao pobre homem barbudo.
Ele segurou firmemente a bengala quando coloquei minha mão sobre seu ombro.
- Então essa é a puta? - O xerife estava se referindo a mim. - Pessoas falam, não estão gostando disso. - O sermão de disciplina. A música continuava, as pessoas não se importavam com o que estava acontecendo. - O fajuto Marquês Angelle, você é um monstro, o próprio filho do diabo. - O xerife falava cara a cara, Louis apenas escutava e soltava a fumaça de sua boca.
Eu estava tenso. Ninguém, ninguém mesmo falava assim e sobrevivia, e o homem não seria exceção.
Mas algo que o xerife falou em seu ouvido mudou a postura dele, eu não escutei. Tudo ficou estranho.
- Meu querido, irei falar com este gentil homem, me espere aqui. - Louis disse no meu ouvido após se levantar. Sua fala era mansa e calma, mesmo que seus olhos estivessem escuros.
A fala era um comando, uma hipnose.
Apenas acenei em concordância, como se eu pudesse discutir com ele. Eles sumiram no meio da multidão, Louis apertava o braço do xerife, e dava pra ver que ele estava se controlando.
Minutos se passaram quando ele retornou. A lapela da blusa estava vermelha, sangue. Ele o matou, mas porquê?
E aquelas palavras sendo proferidas de sua boca, foi estopim para minha destruição iminente.
‐ Querido, ele a matou. -Louis sussurrou no meu ouvido, enquanto segurava minha cintura. - Ele matou sua irmã, mas eu fiz ele pagar com a sua própria vida. - Louis assegurou.
Eu chorei, o máximo que podia, ele deixou. Quando eu consegui olhá-lo, ele estava fervendo de raiva, não pelo meu choro, mas pelo que o xerife tinha feito a mim, eu pedi para ver o corpo.
O salão estava vazio, só tinha nós dois e o canalha. Ele estava desconfigurado, despedaçado.
- Porque ele a matou? - O escritor interrompeu.
Os olhos de Harry estavam turvos, essa memória doía, machucava. Ele engoliu o choro e disse.
- Ele não poderia simplesmente matá-lo, ele precisava vingar seu pai, no qual foi um filho da puta com toda a cidade, e Louis fez um favor a humanidade. - Harry respondeu. - Ele não poderia me matar, já que Louis era minha sombra, então ele foi atrás de Gemma, ela morreu por algo que sequer sabia. - Harry respondeu com ódio.
- O que aconteceu nos anos seguintes? - O escritor observou.
- Fiquei amargurado, passei a beber, a fazer pouco caso das coisas. Enfim, eu fiquei uma bagunça, até 1910, quando fui morto. - Harry disse friamente.
- Você quer encerrar esse capítulo, e fazer esse salto? - O escritor viu sua agonia.
Em concordância, Harry acenou.
-Aqui é o escritor Fernando Philips, encerramos o sexto capítulo, novembro de 2024.

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Nova Orleans•L.S
VampireShortifc / Concluída. Lembranças sendo ditas em voz alta em um tom claro e obscuro. As memórias vinham à tona a cada segundo, a cada milésimo sendo proferido. A verdadeira história por trás das lembranças e emoções acontecia no século XIX e por do...