[ 7- Ma vie, ma mort ]

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Nova Orleans, Ano novo, 1910.

"Minha vida, minha morte"

O baile. Glamour e riqueza. Palavras destacadas para resumir a noite perfeita. A diversão corria a cada centímetro do grande salão oval. Do simples tecido de bolso ao grande lustre, tudo vermelho carmim. A comemoração de ano novo estava com um aspecto mortal, para os tolos, uma espécie de novidade, extravagância.

Para nós, uma noite de banquete, uma saída de rei e príncipe, uma despedida marcante. Iríamos embora de Nova Orleans, os acontecimentos recentes me fizeram pensar e pensar, e com isso conseguir convencer Louis de irmos embora.

Mesmo com toda raiva e ódio dele, não conseguiria ficar longe, maldito laço de ligação. Todas as minhas emoções estavam intensificadas ao extremo, eu era uma granada prestes a explodir, e ele iria assistir de camarote a explosão.

Quando ele contou da Melinda, meu mundo que tinha acabado de mudar, desmoronou, cedeu ao desabamento. Tive que engolir em seco, mas os pensamentos e a lembrança continuavam a todo instante, mas ele não teria como saber, ele não podia mais entrar em minha mente.

Para me transformar, ele abriu mão de ler minha mente. O resto ele ainda conseguia, mas o nojo que eu sentia por ele era maior.

- O que aconteceu naquela noite? -O escritor perguntou.

- Me tornei o príncipe infernal. - Harry falou sem rodeios, sem emoção.

O baile estava divino, os convidados se divertiam, como se os acontecimentos nunca tivessem existido, era estranho. Tudo estava magnífico, até eu surtar.

Eu explodi naquela noite, naquele baile. Mal tinha tocado o sino, e as portas foram fechadas, janelas trancadas. As pessoas de fora poderiam ouvir os gritos, mas era festa, uma comemoração, ninguém desconfiou.

Até o momento eu não tinha descido, não tinha sido visto, nem mesmo para Louis. Eu conseguia ouvir a diversão, consegui sentir a vibração da casa. Mas eu queria deixar todos chocados ao extremo, queria que eles soubessem meu nome, e não apenas pelo fato de eu estar com o Louis. Eu entendo que, na época, era realmente chocante estar com outro homem, eu queria mais, muito mais.

Então eu fiz algo mirabolante, e se o Louis não tivesse morto, teria acontecido naquela noite. O certo na cabeça das pessoas pequenas era e é, rosa pra menina e azul pro menino, menino usa calça e menina vestido. Não, não naquela noite, não na minha noite, minha.

Eu estava em frente a penteadeira, meu cabelo no ombro e todo cacheado, volumoso e brilhoso. O mais caro terno justo em meu corpo, completamente moldado em minha silhueta, à vista de todos. A blusa fina transparente com o colar de rubi evidente. Plumas, uma maldita coroa de plumas brancas, um contraste mórbido para minha aparência, magnífico. O terno todo preto com pequenos diamantes, a blusa vermelha sangue. A coroa de plumas sob minha cabeça, na medida.

O príncipe estava pronto, e eu iria tomar meu lugar ao lado do meu rei, o falso marquês Angelle, Louis Tomlinson. Louis, ele como sempre estava perfeito. Mais cedo consegui ver sua roupa, e sinceramente se eu não tivesse com raiva dele, o chão iria tremer sob nossa cama, nosso caixão folheado a ouro.

Ele estava deslumbrante, e nem mesmo um humano poderia chegar aos seus pés, vivo ou morto. Se eu estivesse de terno preto, ele estava de terno branco brilhoso, a blusa preta transparente, totalmente ao pudor, e a bendita coroa vermelha com pequenos chifres de alce, decorada com plumas pretas. Ele estava o próprio representante de Lúcifer, o maldito, o rei.

Louis poderia ter a aparência de um anjo, olhos azuis, cabelo loiro e liso, o rosto angelical, fala mansa. Ele poderia ter, mas ele era um anjo caído, o próprio diabo em pessoa, e eu me tornei ele, ou pior.

Quando desci a escadaria, ele estava me esperando com um presunçoso sorriso, os olhos estavam vibrantes. Todas as pessoas pararam de dançar, até mesmo de respirar quando nos demos as mãos, ele me conduziu para o meio do salão, ele tinha sua mão na minha cintura, e a outra segurava minha mão na lateral de nossa cabeça.

A música tocou, lenta e calma. Uma melodia prazerosa e cheia de emoções nós desfrutamos naquela noite, como ficou conhecida, noite vermelha. Nós dançamos, nossos corpos se mexiam em uma linda sincronia, a cada passada nossas respirações se misturavam, como os tambores de nosso coração, juntos e sincronizados. Foi quando aconteceu algo insano, conseguimos ler, ver a mente um do outro, visivelmente extraordinário, nossa ligação era única, eu era dele e ele era meu.

Nós dançamos, como nem um outro casal dançou, afinal, éramos diferentes de qualquer outra pessoa naquele salão, éramos únicos, imortais e corajosos. O amor não deveria ser uma batalha, infelizmente é apenas para os corajosos. Nossos olhares estavam conectados, eles se refletiam um no outro, a dança foi exuberante.

Mas, todo aquele prazer, toda aquela emoção acumulada em nossos corações e mentes, nos deixaram com fome, muita fome e desejo por sangue. A festa de ano novo iria começar. Era quase meia-noite, os foguetes já iriam ser lançados, as trombetas ficaram mais altas, o barulho aumentou, tudo colaborou para nossa despedida, para nosso banquete.

Seus lindos olhos azuis ficaram pretos como a escuridão. Os gritos assustados logo nós ouvimos, os corações palpitando rapidamente, as respirações de todos estavam desreguladas, e o único pensamento deles era ajuda, socorro, medo. Eles exalavam medo, angústia, terror. E isso, isso me deixou mais louco. Foi um massacre, um banho de sangue.

Foi insano a emoção de sentir a vida deixando aqueles corpos, foi prazeroso ver os olhos ficando escuros, sem vida, sentir o coração parar de bater e o pulmão pedir ar, no qual não iria acontecer. Foi maravilhoso ver a casa pegar fogo, nós colocamos fogo. Os gritos começaram, muitas pessoas pararam sua festa para tentar salvá-los, apagar o fogo. O que eles iriam salvar? Não tinha mais ninguém vivo.

- Então, você se tornou pior que ele? - O escritor perguntou, muito assustado com tudo que ouviu.

Harry sorriu levemente. - Pior que ele? - Ele passou o dedo pelos seus lábios, escorria sangue fresco. - Meu querido, eu tomei o trono dele. - Harry murmurou, sombrio.

Ficamos assistindo de longe, de uma bela sacada. Vimos tudo queimar, desmoronar. Os gritos de familiares inundavam nossos ouvidos, e apenas sentíamos satisfação no feito.

Naquela noite fomos embora, chegamos a bela Paris. Eu, Louis e meu sobrinho, Leslat.

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