Prólogo

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As unhas pintadas com uma delicada e clássica francesinha, a maquiagem realçava meus olhos, a pele construída perfeitamente pelo maquiador que cobria todas as olheiras causadas pela noite mal dormida, a coroa de diamantes incrustados já estava posicionada segurando os fios de cabelo bem presos em um coque elegante e pra fechar com chave de ouro o grande e rendado vestido de noiva estava pendurado próximo ao imenso espelho do quarto do hotel, encarar um júri com um caso bem desafiador parecia mais fácil do que estar vestindo aquelas rendas e tules todos a minha frente, não no momento em que a dúvida ainda permanecia em meu coração, pedindo voz  a cada minuto com mais força. Dois toques na porta chamaram atenção, certamente já estava mais do que atrasada, autorizei a entrada, quando pelo pequeno ambiente minha mãe e minha melhor amiga, Janaina, entraram sorridentes e exalando euforia por onde passavam.

— Vamos noivinha, estamos aqui para te ajudar a colocar o vestido. — Janaina diz enquanto me abraça.

— Está tão linda minha filha, linda demais. Vamos, seu pai já está ansioso lhe aguardando lá embaixo e garanto que seu noivo certamente está mais nervoso para te ver feito uma rainha com esse vestido.

Queria tanto compartilhar daquela animação toda, aquele furor que o casamento estava causando em todos os envolvidos e eu como personagem principal deveria ser a mais “afetada” por toda essa magia, mas naquele exato momento, eu me encontrava completamente perdida. Eram exatos sete dias que minha cabeça era uma confusão só, sete dias que eu parecia ainda sentir os beijos dele correndo cada milímetro do meu corpo, as mãos fortes pressionando lugares exatos o suficiente para me tirar de órbita, sete dias que a confusão em minha cabeça carregava o sobrenome Walker.

Os sapatos de salto eram os últimos detalhes que faltavam para concluir a produção e cada minuto que passava a dúvida consumia meus pensamentos, parar diante daquela escada e encarar a realidade que era o mais sensato e o certo a se fazer e levar esse casamento adiante, as incertezas sobre o futuro me faziam querer recusar, se hoje que deveria ser um dia feliz e não estou, como seria dali para frente? 

A cada degrau avançado na escada parecia que caminhava rumo ao desconhecido, eu queria demais sentir o efeito catártico que todos diziam que o casamento trazia, mas naquele exato momento, diante das pessoas que eu mais amava na vida a única coisa que eu carregava no peito era angústia, das incertezas todas e maior ainda pela vontade de jogar tudo para o alto e sumir do mundo, as palavras de quinze dias atrás ainda ecoavam na minha mente, elas eram a reafirmação de tudo o que eu estava sendo, relapsa.

Eu tinha escolha, mas a que preço essa escolha magoaria a todos à minha volta?

Uma confusão moldada a tule francês e bordados feitos à mão.

Dois degraus para o chão, a mão do meu pai estendida diante de mim, visivelmente emocionado ao ver a única filha vestida de noiva, o sonho de uma vida, saber que ia entregar seu bem mais precioso a alguém que sabia que poderia fazê-la feliz, casados perante a lei dos homens e perante a lei de Deus, eu não poderia destruir isso, precisava acima de qualquer dúvida ou sentimento ir até o fim. E eu faria isso por mim e pela minha família.

As primeiras notas de Turning Page já ecoavam pela igreja em uma espécie de preparação para um passo importantíssimo na minha vida, naquele momento eu me casaria, seria a esposa de alguém, seria a responsável por uma nova realidade não só minha, mas de Michael, o meu primeiro namorado, noivo e a partir daquela cerimônia meu marido.

A cerimonialista ajustava a posição em que o véu deveria ficar, o buquê de rosas brancas e copos de leite em minha mão direita, junto com o terço de cristais swarovski, cuidadosamente escolhido para esse momento.
Era o certo a se fazer, seguir a linha natural do que todos esperavam, a espécie de ordem cronológica da vida de qualquer pessoa, namorar, noivar, casar, ter filhos e envelhecer ao lado da pessoa que escolheu, mesmo sabendo que durante toda a minha vida eu não tenha sido uma fiel seguidora do que esperavam de mim, naquele momento eu seguia na linha correta dos fatos.

Mas e se?

Não haviam mais questionamentos coerentes.

As portas da belíssima igreja me separavam do meu futuro certo e estável, mas quando o barulho das trancas das portas ecoaram foi como se uma chama consumisse meu interior, as portas da igreja se abriram diante de mim, olhei adiante e a passarela de espelhos pareciam me mostrar todas as minhas incertezas materializadas a minha frente.

Lágrimas, falta de ar para que enfim a única coisa que eu poderia fazer, rugir, forte e potente em forma de palavras.

— Eu não posso…

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Até semana que vem😘

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