Capitulo 11

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A última prova do vestido de noiva, a sensação era mais do que sufocante, pois eu já não conseguia pensar naquele momento como o mais aguardado antes da cerimônia, minha cabeça dizia apenas para que eu seguisse em frente, a segurança de um casamento estável. Eu era o poço das incertezas e por mais que quisesse tomar uma atitude, não sabia qual deveria ser, como deveria fazer, eu só sabia de uma única coisa, era tarde demais.

O grande dia finalmente chegou, levou consigo toda a minha dúvida, já não poderia mais desistir agora, até o final do dia eu me tornaria uma esposa. O certo a se fazer é seguir e me adaptar à nova realidade, sabia que muito disso era nervosismo de ter que abandonar uma vida que eu já estava acostumada para me tornar responsável pelo start na nova fase na realidade de outro alguém, eu já não sabia mais se era apenas ansiedade antes do casamento, vontade de desistir, medo e lá no fundo, onde eu não ousava pensar nas palavras de Erik.

Erik era terreno proibido, segredo que Jana e eu levariamos para o túmulo, mas diante do espelho preparando o cabelo e maquiagem, as mesmas palavras gritavam em meus pensamentos. Mas eu havia escolhido, eu me casaria e não haveria mais volta.

As unhas pintadas com uma delicada e clássica francesinha, a maquiagem realçava meus olhos, a pele construída perfeitamente pelo maquiador que cobria todas as olheiras causadas pela noite mal dormida, a coroa de diamantes incrustados já estava posicionada segurando os fios de cabelo bem presos em um coque elegante e pra fechar com chave de ouro o grande e rendado vestido de noiva estava pendurado próximo ao imenso espelho do quarto do hotel, encarar um júri com um caso bem desafiador parecia mais fácil do que estar vestindo aquelas rendas e tules todos a minha frente, não no momento em que a dúvida ainda permanecia em meu coração, pedindo voz  a cada minuto com mais força. Dois toques na porta chamaram atenção, certamente já estava mais do que atrasada, autorizei a entrada, quando pelo pequeno ambiente minha mãe e minha melhor amiga, Janaina, entraram sorridentes e exalando euforia por onde passavam.

— Vamos noivinha, estamos aqui para te ajudar a colocar o vestido. — Janaina disse enquanto me abracava.

— Está tão linda minha filha, linda demais. Vamos, seu pai já está ansioso lhe aguardando lá embaixo e garanto que seu noivo certamente está mais nervoso para te ver feito uma rainha com esse vestido.

Queria tanto compartilhar daquela animação toda, aquele furor que o casamento estava causando em todos os envolvidos e eu como personagem principal deveria ser a mais “afetada” por toda essa magia, mas naquele exato momento, eu me encontrava completamente perdida. Eram exatos  quinze dias que minha cabeça era uma confusão só, quinze dias que eu parecia ainda sentir os beijos dele correndo cada milímetro do meu corpo, as mãos fortes pressionando lugares exatos o suficiente para me tirar de órbita, quinze dias que a confusão em minha cabeça carregava o sobrenome Walker.

Os sapatos de salto eram os últimos detalhes que faltavam para concluir a produção e cada minuto que passava a dúvida consumia meus pensamentos, parar diante daquela escada e encarar a realidade que era o mais sensato e o certo a se fazer e levar esse casamento adiante, as incertezas sobre o futuro me faziam querer recusar, se hoje que deveria ser um dia feliz e não estou, como seria dali para frente? 

A cada degrau avançado na escada parecia que caminhava rumo ao desconhecido, eu queria demais sentir o efeito catártico que todos diziam que o casamento trazia, mas naquele exato momento, diante das pessoas que eu mais amava na vida a única coisa que eu carregava no peito era angústia, das incertezas todas e maior ainda pela vontade de jogar tudo para o alto e sumir do mundo, as palavras de quinze dias atrás ainda ecoavam na minha mente, elas eram a reafirmação de tudo o que eu estava sendo, relapsa.

Eu tinha escolha, mas a que preço essa escolha magoaria a todos à minha volta? Uma confusão moldada a tule francês e bordados feitos à mão.
Dois degraus para o chão, a mão do meu pai estendida diante de mim, visivelmente emocionado ao ver a única filha vestida de noiva, o sonho de uma vida, saber que ia entregar seu bem mais precioso à alguém que sabia que poderia fazê-la feliz, casados perante a lei dos homens e perante a lei de Deus, eu não poderia destruir isso, precisava acima de qualquer dúvida ou sentimento ir até o fim. E eu faria isso por mim e pela minha família.

As primeiras notas de Turning Page já ecoavam pela igreja em uma espécie de preparação para um passo importantíssimo na minha vida, naquele momento eu me casaria, seria a esposa de alguém, seria a responsável por uma nova realidade não só minha, mas de Michael, o meu primeiro namorado, noivo e partir daquela cerimônia meu marido. A cerimonialista ajustava a posição em que o véu deveria ficar, o buquê de rosas brancas e copos de leite em minha mão direita, junto com o terço de cristais swarovski, cuidadosamente escolhido para esse momento.

Era o certo a se fazer, seguir a linha natural do que todos esperavam, a espécie de ordem cronológica da vida de qualquer pessoa, namorar, noivar, casar, ter filhos e envelhecer ao lado da pessoa que escolheu, mesmo sabendo que durante toda a minha vida eu não tenha sido uma fiel seguidora do que esperavam de mim, naquele momento eu seguia na linha correta dos fatos.

Mas e se?
Não haviam mais questionamentos coerentes.

As portas da belíssima igreja me separavam do meu futuro certo e estável, mas quando o barulho das trancas das portas ecoaram foi como se uma chama consumisse meu interior, as portas da igreja se abriram diante de mim, olhei adiante e a passarela de espelhos pareciam me mostrar todas as minhas incertezas materializadas a minha frente.

Lágrimas, falta de ar para que enfim a única coisa que eu poderia fazer, rugir, forte e potente em forma de palavras.

— Eu não posso

— O que houve Sofia?

— Não é isso que eu quero, não posso me casar.

Senti as lágrimas encherem meus olhos, uma confusão de sentimentos únicos e instáveis, eu não queria aquele casamento, na verdade eu nunca quis. Ao meu lado estava Janaína,  minha amiga e minha madrinha, ela era a única que sabia o que havia acontecido.

— Eu sei.

— E agora? É tarde demais.

—  Nunca é tarde demais pra ir atrás do que você realmente quer.  —Ela parou e me entregou sua bolsa, enquanto minha mãe me olhava assustada.

— Filha, o que está acontecendo?

— Mamãe, por favor, me perdoe.

— Vai Sofia. — Janaína chamou minha atenção me encorajando a fazer o que tanto tive vontade e deveria ter feito na ultima semana.

— Não olhe para trás, só vai.

— Obrigada.

Subitamente as portas da igreja foram abertas e mesmo que distante Michael entendeu o que se passava do lado de fora, especificamente sobre a súbita decisão que eu havia tomado naquele momento.

Aquela era a oportunidade, mesmo que mais errada que fosse era o momento, ergui a barra do vestido e sai correndo dali, mesmo aos gritos estridentes e desesperados de minha mãe me implorando para voltar, ela ia me perdoar um dia, eu não podia fazer algo e comprometer minha vida toda com esse casamento, não era isso que eu queria, eu queria ser feliz.

Os olhares curiosos das pessoas enquanto eu corria pelas ruas de Manhattan naquele vestido de noiva, aqueles sapatos me atrapalhavam e sem pensar duas vezes os tirei e sai andando com os pés no chão, avistei um táxi e me joguei quase no meio da rua para que ele parasse ali, abri a porta com pressa e entrei com dificuldade por conta do volume do vestido.

— Para onde moça? — Falou o taxista.

Eu não sabia para onde ir. Até que peguei o celular e desliguei as chamadas insistentes da minha mãe, até que uma notificação de mensagem fez meus olhos arderem quando a li.

“ Não nos encontramos por acaso naquele dia, eu sei que não se casou, não tenha medo, você é uma mulher incrível e merece conquistar o mundo”
E.W.

—  A leste da Quinta Avenida, Madison Avenue.

Fim

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⏰ Última atualização: Oct 26, 2023 ⏰

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