Capítulo 04

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Uma decisão inconsequente veio jogar a realidade na minha cara, eu me casaria na próxima semana, tinha um noivo que estava em uma viagem de trabalho em outro lugar do país e naquele mesmo dia pela manhã fiz a última prova do meu vestido de noiva.

Noiva, uma espécie de "estado civil” que esfregou na minha cara o quanto ter transado com outra pessoa foi errado, as consequências dessa atitude certamente hora ou outra cobrariam o seu preço e eu deveria estar ciente e preparada para o poderia vir a seguir.

— Eu preciso ir, foi ótimo, um erro de minha parte permitir, mas foi ótimo.  — admiti as pressas enquanto recolhia minhas roupas jogadas pelo quarto.

— Erro? — falou erguendo as sobrancelhas — Nossa! Estou surpreso em ser chamado de erro. Se acalme garota do bar, não foi um erro, somos adultos para entender que foi apenas  uma transa casual, sem compromisso, não um erro.

— Casual ou não, preciso ir do mesmo jeito. Obrigada, mas de verdade eu preciso voltar para boate, minhas amigas estão me esperando.

— Já que tocou no assunto, onde está aquele anel nada discreto que tinha no dedo?

O encarei cética e descrente que havia notado, e nem me arrependi quando pensei em guardar o anel na bolsa mais cedo.

— Não é da sua conta.

— Que você tem a língua afiada eu já sabia.

— Engraçadinho.

— Não, eu não sou engraçadinho, olha o meu tamanho. — Brincou. — Temos a noite toda, qual o motivo da pressa?

— Foi só uma transa casual isso não é um relacionamento, por que eu ficaria?

— Não sei, de repente podemos conversar e ter uma noite agradável.

— Um homem querendo conversar? Realmente agora fiquei surpresa.

— Você parece levar as coisas muito a ferro e fogo, relaxa, não seja tão rígida consigo mesma.

— Não sou rígida, apenas sensata.

— Relaxa um pouco, ninguém vai achar você aqui.

Respirei fundo aceitando a derrota, e de fato eu não queria ir embora, não éramos nem meros conhecidos, uma transa casual e uma boa companhia, já que eu já havia enfiado o pé na lama e me lambuzado, enquanto eu segurava com força as minhas roupas me dei por vencida e fui até o banheiro, fechei a porta e a tranquei, precisava desesperadamente de um banho e de alguns minutos sozinha.

Encarando meu reflexo no espelho eu via o caos total que eu estava, cabelo desgrenhado, maquiagem borrada, a pele suada e odor etílico da bebida consumida horas antes exalando pelos meus poros, entrei no chuveiro e deixei a água quente cair, fechei os olhos me culpando e ao mesmo tempo tentando empurrar aquele sentimento para longe, me lavei e tirei o que havia sobrado da maquiagem, tentei conter os fios rebeldes do meu cabelo em um coque mal feito, e quando desliguei a água do chuveiro lembrei que atrás daquela porta havia um homem que eu tinha acabado de conhecer e me esperava pelado na cama, e o pior de tudo, eu nem sabia seu nome, apenas um suposto senhor, Walker.

Vesti um roupão, e tomei coragem de sair do banheiro, me sentindo mais limpa e confortável após o banho, quando abri a porta aquele moreno alto estava deitado com um dos braços atrás da cabeça seu corpo desnudo coberto apenas da cintura para baixo com o lençol, foi impossível não lamber os lábios e me deliciar com aquela cena, ele olhava o celular, concentrado, e quando me fitou, foi algo que eu não sabia muito bem explicar.

— Achei que teria que chamar o resgate.

Ele se levantou, segurando o lençol e caminhou até mim sem nenhum pudor, exibindo aquele abdômen trincado.

— Segura pra mim, por favor. — me entregou o lençol ficando nu — Minha vez.

Descarado!

Foi caminhando até o banheiro e meus olhos contemplavam a beleza etérea que era aquele homem, era um pecado ser tão bonito e gostoso.

— Por Deus, Sofia, pare com isso! — Me repreendi.

Fucei minha bolsa atrás do meu celular e na tela haviam várias mensagens e ligações de Janaina, eu havia avisado que estava saindo, mas não falei para onde e nem que estava acompanhada, digitei uma mensagem rápida dizendo que estava bem e que depois explicava tudo.

Não demorou muito e o senhor gostoso saiu do banheiro com a toalha enrolada na cintura, e nem ao menos teve o trabalho de se enxugar, as gotículas de água que desciam pela pele terminavam no cós da toalha, como se fizesse de propósito para que eu perdesse a compostura.

— Você é casado? — Perguntei de uma vez já querendo saber se o meu pecado era ainda maior do que eu imaginava.

— Não, fique tranquila, não sou casado.

— Bom, isso já é um começo e diminui minha culpa.

— Que culpa?

— Nenhuma.

— Olha, estamos só nós dois aqui e sinceramente eu não queria ficar te chamando de garota do bar.

— Não sei se é prudente.

— Erick Walker, prazer senhorita? — Mordi os lábios e decidi não revelar meu sobrenome.

— Sofia, meu nome é Sofia.

— Prazer em conhecê-la, Sofia — Segurou minha mão e a beijou fazendo uma reverência como se estivemos em outra época, sendo um verdadeiro cavalheiro.

— É só isso que vai saber.

— Por hora me contento com apenas isso, está com fome?

— Faminta!

— Pedi uma pizza e uma salada de frutas enquanto você estava no banho, se não se importa ou quiser algo mais, fique à vontade para pedir o que quiser.

— Não, está ótimo pra mim.

Quando a pizza chegou comemos no mais absoluto silêncio, seria até constrangedor, mas eu não me sentia envergonhada ou mal com aquilo.

— Gosta de chocolate?

— Sim.

— Pedi um ganache com uma porcentagem mais alta de cacau, gosto daquele amargor.

— Não acha que já está exagerando?

— Eu não tenho pressa quando estou na presença de uma bela mulher. E o doce deixo por conta da sua imaginação, mas se quiser pensar de outra forma pode também não ser somente uma simples sobremesa.

— Voce não tem vergonha na cara. — brinquei.

— Claro que tenho.

— Mas não é essa a questão.

— E qual é?

— Eu… — Não conseguia falar.

— Eu o que?

— Nada.

— Não se acanhe, gosto da sua língua afiada.

— Então deve saber que não se deve brincar com uma mulher.

— E quem disse que estou brincando? — Meu instinto me dizia para correr.
Fui salva pela campainha que havia tocado avisando sobre a chegada do pedido, ele se levantou calmamente e pegou a bandeja e a colocou em cima da cama, se deitou de lado dobrando uma das pernas fazendo com que a toalha caisse de lado deixando parte de sua virilha à mostra e apoiando os cotovelos no colchão e a mão no pescoço, seus movimentos pareciam calculados e conectados no modo sedução. Erick me encarou e deu dois tapinhas na cama em um convite silencioso para que eu me sentasse e com aquele olhar felino, pegou um morango na bandeja e passou no chocolate e o passou na minha boca, lambi o lábio inferior sentindo o sabor doce, ele colocou o morango na boca e o mordeu, enquanto mastigava eu o assistia quase hipnotizada, não demorou para que avançasse o sinal vermelho e me agarrasse pelo pescoço tomando minha boca em um beijo urgente, retribui na mesma intensidade.

— Quer ir embora agora? — me provocou.

— Cala a boca. — E voltei a beijá-lo.

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