Passado Enterrado

33 6 0
                                    




Não havia nada que curasse um coração partido. Pensou Laura enquanto checava a agenda daquele dia. Era pouco mais de 6:00 da manhã e tudo no qual ela queria e pensava resumia-se na visita do ex-namorado ontem, quando foi dormir, a cabeça estava lotada de lembranças dele.

Nate foi o cara com quem Laura perdeu a virgindade, o cara com quem ela sonhou em casar e ter filhos, uma grande família, mas tudo se rompeu e mudou quando ele se foi, ela mudou, mudou muito mais do que desejava.

Ela tinha um pouco de medo de que as pessoas soubessem de sua limitação depois do acidente, mas sabia que não deveria se preocupar com Nate, porque ele não era mais parte de sua vida, não mais.

Aqueles anos fizeram muito bem para Nate, ele havia se tornado um executivo de verdade, realizando assim o sonho de seus pais, o que não era o sonho de Laura, porque por ela Nate nunca teria ido para a faculdade, ele teria ficado ao seu lado e quem sabe não teriam uma grande família?

Mas, o que estava pensando mesmo? Depois de tudo, Laura percebia que jamais poderia oferecer a Nate o que ele queria a melhor coisa que ele poderia ter feito por si mesmo foi ter ido embora, talvez, houvesse ido um pouco depois que ela sofresse o acidente, quem poderia saber? Se Nate houvesse ficado talvez nem acidente ela houvesse sofrido.

Mas, o passado era algo do qual, Laura nem ninguém poderia mudar, Nathaniel Doyle fez as escolhas dele quando foi embora, e ela apenas as suas quando decidiu seguir com a sua vida, não era pecado que ele desejasse mudar de vida, a mediocridade que cercava Laura e sua humildade assustaria qualquer pessoa que fosse.

Hoje, mesmo que ainda vivesse cercada de uma vida não coberta de luxos, Laura não podia reclamar de sua vida, o acidente a mudou para sempre, a perda da mãe também, mas ela aprendeu a lidar com a dor e prosseguir, aceitar não fora fácil no começo, mas atualmente, entendia que tudo apenas tinha que ser.

Passava muita dificuldade financeira, mas ela se esforçava para tentar manter tudo em ordem, ela gostava de cuidar do salão, da profissão que aprendeu com a mãe antes que o câncer a levasse para longe dela, e tudo o que Laura tinha, era graças a muito esforço, seu consolo era saber que quando uma mulher entrava pela porta da frente, havia problemas reais a serem resolvidos, e ela as ajudava a se tornar um pouco mais bonitas por dentro e por fora, Laura se sentia psicóloga as vezes.

Ela terminou seu café e iniciou seu dia, foi para o quarto com a ajuda da muleta, se acostumou tanto com ela que se tornou parte de seu dia a dia, algo que no começo a machucava muito, mas que depois ela entendeu ser necessária para corresponder as suas expectativas.

Perder algo tão importante para Laura a fez reavaliar muitas coisas em sua vida, Nate foi uma delas, ela concluiu que mesmo sendo ele muito importante na vida dela, havia outras coisas das quais nunca retornariam em sua vida, tocou o lugar vazio um pouco abaixo de metade de sua coxa. Depois ela tocou a barriga, a pequena cicatriz que foi deixada ali por uma cesariana de emergência.

Perdeu um filho e uma perna no acidente.

Se havia dor maior ela não sabia, e tinha apenas 17 anos quando tudo aquilo aconteceu, Nate havia ido embora há alguns meses, e ela havia brigado com os pais sobre a paternidade do bebê, poucas horas depois o pai lhe deu uma surra por conta daquilo, e Laura sem pensar, pegou o carro e partiu dirigindo sem rumo.

Ela se lembrava de ter visto uma luz insuportável em meio a um cruzamento, depois daquilo, ela acordou no hospital com seus pais ao seu lado, seu bebê não estava mais ali, nem sua perna esquerda, e tudo o que havia era dor e escuridão.

Dez Dias Com Você - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora